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O que não entendemos de Futebol e Política

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O problema é que nos falta um pouquinho de profundidade ao analisarmos questões tão complexas como política e futebol

Saullo Diniz*

Há tempos tenho uma convicção: todo brasileiro é um ótimo churrasqueiro, um excelente técnico de futebol e um doutor em ciência política. Obviamente, como toda generalização, é um pensamento extremamente insensato e superficial, mas é o que de fato parece. São raras as pessoas no meio em que cresci que se consideravam ruins em alguns desses quesitos. É extremamente normal classificarmos, mesmo os treinadores mais experientes e vitoriosos, como burros simplesmente por alguns resultados ruins. Assim como é bem comum a classificação de toda política como ineficaz ou, para os mais “sabidos”, populista e clientelista.

O problema é que nos falta um pouquinho de profundidade ao analisarmos questões tão complexas como política e futebol, por exemplo (aqui já não falo mais do churrasco). Tomo a liberdade de escolher como meu primeiro personagem aqui o Fred, atacante do Fluminense. O jogador de carreira reconhecida como um jogador de área tem uma carreira no mínimo muito boa. Passando por clubes como Cruzeiro, Lyon (FRA) e Fluminense, tendo sido por mais de uma vez campeão nacional, adquirindo dezenas de convocações para a seleção brasileira chegando a disputar duas Copas do Mundo, sendo campeão e artilheiro de uma Copa das Confederações e etc. Números e premiações não faltam para a avaliação de tal jogador.

Porém, sua imagem agora está muito marcada pelo seu desempenho na última Copa. Esperava-se muito de nosso camisa 9 ainda mais por estar numa seleção repleta de craques, mas não foi isso que aconteceu. A história todos nós sabemos e não preciso dissertar aqui, o que quero usar como exemplo é a moral que (pouco) ficou. O jogador foi crucificado pela sua atuação quando ninguém – com exceção de nosso camisa 10 – jogou. O coletivo de nossa seleção falhou, logo, os individuais também. O que não aprendemos nessa competição foi que o problema não foi o Fred não ter feito gols, mas o esquema de jogo não ter lhe proporcionado muitas chances. A mais valiosa lição que devíamos ter aprendido com a Alemanha foi o seu estilo conjuntural de jogo contrapondo à nossa mentalidade individual, ela teve seus destaques, mas o coletivo funcionou e muito. A lição que deveria ficar era que o problema não foi individual, não foi do Fred ou de qualquer outro jogador, o erro estava na estrutura, o Brasil perdeu na estrutura do time.

Essa convicção individual nós também levamos – erradamente – para o ramo da política. Toda eleição nos convencemos de que um será melhor que o outro sem questionar a estrutura que está por trás. O que não entendemos é que aqueles nomes famosos por concorrerem a cargos públicos não podem fazer nenhuma mudança significativa se a estrutura for a mesma. Não estou dizendo que os candidatos são todos iguais, mas as diferenças se tornam ainda menores quando os financiadores de campanhas e a estrutura política são praticamente os mesmos. Nesse modelo político em que vivemos, independente do candidato eleito, as mudanças serão bem pontuais, pois todo o resto é o mesmo de todas as outras que já se passaram.

Enfatizo que não estou dizendo que o governo atual é ruim e que os outros são melhores, não estou mencionando nenhum dos candidatos, mas é que eles pouco podem fazer de diferente se todo o alicerce político é aquele que estamos cansados de criticar – com razão. A grande questão é que estamos depositando esperanças em indivíduos e nos esquecendo da conjuntura que está por trás. Não adianta termos um excelente atacante, se o time não joga, o máximo que conseguiremos é uma campanha mediana e nesse sentido a política não é diferente. Não podemos ter mudanças significativamente melhores se não reformarmos nossa estrutura. É essa a lição que devemos de aprender, é isso que não entendemos de futebol e política.

*Saullo Diniz, graduando em Geografia pela UFRJ e colaborador em Pragmatismo Político

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