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Manicure torturada e assassinada, mas não por um pacote de bolachas

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A crueldade em estado bruto: Manicure foi enforcada e lhe arrancaram um olho. A tortura ocorreu durou 3 horas. Crime foi todo filmado

Homens carregam o corpo de Ane Kelly dos Santos (Hélio Torchi, Estadão)

O caso da manicure que foi torturada e brutalmente assassinada por supostamente ter roubado um pacote de bolachas de sua vizinha foi dado por encerrado pela polícia nesta segunda-feira. Essa era a versão que circulava até o dia de hoje, mas a motivação do crime, segundo os investigadores, não tinha relação alguma com esse suposto furto. Não foram bolachas, mas sim uma quantia de 27.000 reais que a manicure Ane Kelly dos Santos, de 24 anos, teria roubado do casal de vizinhos, Jackson Nunes Pereira e Renata Fonseca da Silva, em Barueri, na Grande São Paulo.

O crime ocorreu no dia 24 de abril, quando Santos saiu de casa para comprar pão na padaria e não voltou mais. Mas a polícia só descobriu que a jovem havia sido brutalmente assassinada na última sexta-feira dia 9, quando recebeu um celular com diversos vídeos dela sendo torturada.

Em uma coletiva de imprensa nesta segunda-feira, o delegado titular da Divisão de Homicídios da Delegacia Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Itagiba Vieira Franco, disse que o celular era de Jackson Nunes Pereira que, após o crime, perdeu o aparelho. “Recebemos os vídeos e chegamos aos autores do crime. Diante das imagens, os criminosos não tiveram outra opção senão confessar o que fizeram”, afirmou o delegado.

Primeiramente, foi divulgado pela polícia que o motivo do crime teria sido porque Kelly, que era vizinha de Pereira e Fonseca, havia roubado bolachas da casa do casal. A versão, amplamente divulgada, foi desmentida na tarde desta segunda-feira. “Jackson afirmou para os investigadores que ele era ladrão de motos e carros, além de um fraudador de máquinas de caça-níquel. Ele estava juntando o dinheiro que conseguia com o crime para comprar um carro tipo Van”, afirmou o delegado. “Com isso, já tinha acumulado 27.000 reais e todo o dinheiro estava guardado em casa”.

De acordo com o delegado, Pereira notou que o dinheiro guardado estava sumindo aos poucos. “Ele (Pereira) chegou a suspeitar da namorada (Fonseca) e do amigo Valmir Lima de Oliveira (que também participou do crime)”. Segundo a polícia, Pereira acabou descobrindo que Kelly era a responsável pelo sumiço do dinheiro. “Ela trabalhava na residência do casal fazendo faxina, então ela tinha livre acesso à casa deles. Além disso, Jackson começou a perceber que Kelly estava comprando coisas, como um televisor e máquina fotográfica, que não correspondiam ao orçamento que ela tinha”, disse o delegado.

Por isso, no dia 26 de abril, Pereira foi até a padaria onde sabia que Kelly estaria comprando pão e lhe ofereceu uma carona. Entrando no carro, o rapaz, acompanhado da namorada e do amigo Valmir, levou a moça até um barraco abandonado, a três quilômetros de distância de sua casa, na favela do Assucará, em Barueri, e começou a tortura e o interrogatório.

Santos recebeu uma coronhada na cabeça, um tiro no pé, foi enforcada e lhe arrancaram um olho. A tortura ocorreu das 9h da manhã ao meio-dia do mesmo dia. Após a tortura, a vítima admitiu o roubo e foi levada a uma vala, onde foi jogada e, segundo a polícia, não se sabe ainda se foi enterrada viva ou se morreu com as fortes pancadas que recebeu na cabeça com uma enxada. Tudo foi registrado em diversos vídeos no celular de Pereira que, posteriormente, chegaria nas mãos da polícia.

“Quem assistiu ao vídeo nota a selvageria e a maldade com que tudo foi praticado. É difícil suportar que um ser humano tenha feito isso com ela”, disse o delegado na coletiva de imprensa. Ainda segundo a polícia, Pereira afirmou que a vítima não chorou em momento algum da tortura. “Eu fiquei bravo porque ela não chorava”, teria afirmado Pereira para a polícia. “Isso o enraiveceu ainda mais, porque ele encarou como uma afronta. A única coisa que Kelly pedia era para não morrer”, disse o delegado.

De acordo com o advogado, Pereira ficou furioso quando descobriu que estava sendo roubado. “Ele disse: ‘Ela arrancou o pão da minha boca, doutor…’”, afirmou o delegado. “A gente trabalha, doutor, e vem alguém e tira o que é nosso”, teria dito o ladrão de carros.

Renata Fonseca da Silva, Jackson Nunes Pereira e Valmir Lima de Oliveira receberam mandado de prisão temporária, que dura até 30 dias. Segundo o delegado, a polícia deve entrar com um pedido de prisão preventiva antes desse prazo, por considerar o caso encerrado. Eles responderão por homicídio doloso, tortura e ocultação de cadáver.

Marina Rossi, El País