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Humor que não oprime

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Site dos Menes: o interessante não é rir do oprimido. Idealizador da página conta como conseguiu um público fiel sem apelar para o humor opressor

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Criado em 10 de agosto de 2012, o Site dos Menes conta hoje com 129 mil seguidores e é uma página do Facebook que chama a atenção por manter um público fiel sem apelar para o humor opressor. O idealizador Thiago Schwartz ressalta que, apesar de falar em nome da página, o site é uma criação coletiva e atualmente possui 14 integrantes, sendo eles designers, jornalistas, redatores e outros profissionais.

Thiago, que é formado em Ciência da Computação, se orgulha por não fazer o humor que considera fácil. Segundo ele, não há uma diretriz específica para o conteúdo das postagens, mas cada integrante tem responsabilidade sobre a piada que está produzindo. “O que acaba ocorrendo é que a maioria de nós possui uma visão parecida a respeito desse assunto, a de que a piada deve ser engraçada, mas não a qualquer custo. Apesar do que se diz, é relativamente fácil fazer humor negro ou opressor, porque há um nicho que o consome, só que esse não é o nicho que queremos atingir”, conta.

Recentemente, o Facebook passou por uma reformulação quanto ao alcance das páginas. Agora, para atingir um público maior, o dono da página precisa pagar para a empresa. Entretanto, Thiago diz que o Site dos Menes não foi abalado por essa nova política. “Nossa fonte principal de alcance não é a orgânica, e sim a direta, de pessoas que acessam a página para ver e comentar os menes”, explica. Ele também atribui a fidelidade do público à empatia que a página gera por não ter um tom agressivo.

Outras das fórmulas de sucesso, para Thiago, são renovar os formatos de piada e ter uma relação mais íntima com os leitores. “Temos liberdade pra mudar de rumo e tentar novos formatos de piada, coisa que algumas outras páginas não têm. Por exemplo, uma página que use o Chapolim sempre vai ter que fazer algo relacionado ao Chapolim”, cita. “Sempre procuramos ler as sugestões de menes, acompanhamos a repercussão de uma postagem por meio dos comentários e respondemos sempre que possível”.

O conceito de “mene” também é uma fórmula nova. Nem mesmo Thiago consegue explicar com exatidão a diferença entre memes e menes. “O conceito de meme estava muito ligado àquelas páginas com tirinhas de desenhos como o Trollface, o Fuuuu, entre outros. Um amigo então sugeriu que fizéssemos uma página com memes que não fossem memes, aí fizemos alguns totalmente sem sentido, sem mensagem nem objetivo”, admite.

Mene: A agência de publicidade sincera (reprodução)

Apesar de abordarem temas diversos, de futebol a eventos astronômicos, o Site dos Menes se destaca quando fala sobre política. A preocupação, no entanto, não é tomar uma posição, e sim trazer questionamentos. “A opinião das pessoas que fazem os menes tende a convergir um pouco pro lado social, e isso acaba aparecendo em algumas postagens”.

Thiago entende que estamos vivendo a “guerra de memes”, mas considera perigoso o poder dos virais. “Os virais e memes têm o mesmo efeito de uma campanha feita por uma emissora de TV, mas mais cirúrgico, atingindo pessoas com interesses afins”. Ele explica o perigo: “Começaram a fazer campanhas que usam a comoção popular a seu favor, de um jeito que diria ser até um pouco covarde, pois é disfarçado de opinião pública, ou montado em cima dela. Então o viral acaba sendo uma arma, que pode ser usada por muitas pessoas pra atingir o público desejado”.

Isadora Otoni, Fórum