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Sonegação: e se a Globo se desculpasse como fez o presidente do Bayern?

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E se Roberto Irineu Marinho, presidente da Globo, agisse como o presidente do Bayern e se desculpasse? Imaginar que ele se dirigisse em seu jato para a Papuda seria demais. Mas poderia falar em cadeia nacional, no Jornal Nacional: “Sonegar impostos foi o maior erro da minha vida e agora assumo as consequências”

“Sonegar impostos foi o maior erro da minha vida e agora assumo as consequências.”

Esta foi uma das mais notáveis frases da semana que passou. Foi pronunciada pelo presidente do Bayern de Munique, Uli Hoeness.

Ele estava avisando que desistira de recorrer da sentença que o condenara a 3,5 anos de cadeia por sonegar o equivalente a cerca de 60 milhões de reais.

Também avisava que renunciava à presidência do Bayern.

Era um ato de redenção, uma coisa que me é particularmente cara. Meu romancista favorito, Graham Greene, era um mestre na arte de oferecer a personagens canalhas a chance de um ato final redentor.

O maior desses personagens é o padre covarde de O Poder e a Glória, que foge da perseguição aos sacerdotes movida por radicais mexicanos numa de suas revoluções. Recomendo vivamente O Poder e a Glória.

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Hoeness, que sempre foi um modelo de comportamento entre os alemães até ceder à tentação de sonegar, encontrou sua redenção ao abdicar, corajosamente, do recurso jurídico.

Na Alemanha, sonegar é coisa séria. Na cultura do país está alicerçada a noção de que é com o dinheiro dos impostos que você constrói estradas, hospitais, portos, escolas – e oferece à sociedade, como um todo, um padrão digno de vida.

Por isso a punição é exemplar.

No Brasil, infelizmente, não. A mídia se incumbiu de criar uma imagem segundo a qual os impostos brasileiros são extorsivos, o que é uma mentira absoluta, como demonstra o precioso levantamento que a BBC publicou ontem. (veja aqui)

Essa imagem distorcida – somos “oprimidos pelos impostos” – dá a justificativa para que muita gente sonegue sem se sentir moralmente corrupta, a começar pelos donos das empresas de mídia.

Num exercício especulativo, imagino um Brasil mudado, mais alemão. Sabemos que impostos servem à sociedade, e não para “sustentar políticos vagabundos”.

Neste Brasil avançado, imagino Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo, tendo seu momento de redenção, a exemplo de Hoeness.

Vejo-o à minha frente, sorridente como de hábito, vestido com simplicidade, a camisa fora da calça para não apertar a barriga extensa.

Ele só não estaria com o Darf nas mãos, como manifestantes tanto pedem, porque não existe Darf quando você não paga imposto.

Já que é dono da Globo, poderia falar em cadeia nacional, no Jornal Nacional, sob os olhares embevecidos de Bonner e depois de cuidadosa edição de Ali Kamel: “Sonegar impostos foi o maior erro da minha vida e agora assumo as consequências.”

Bem, imaginar que ele se dirigisse em seu jato voluntariamente para a Papuda seria demais como consequência.

Calma.

Talvez ele pudesse anunciar a contratação de Joaquim Barbosa para ser seu conselheiro pessoal, com despachos diários.

JB se desligaria do STF, no qual de resto já não ganhará nenhuma votação importante, mas para o novo cargo na Globo manteria a toga ritual.

Todos os dias, até que a natureza se incumbisse de pôr fim à situação, Roberto Irineu despacharia com JB togado.

Esta seria a consequência.

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Paulo Nogueira, DCM

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