Redação Pragmatismo
Saúde 02/Dez/2013 às 11:32 COMENTÁRIOS
Saúde

Cubanos trazem ao Brasil uma nova forma de exercer Medicina

Publicado em 02 Dez, 2013 às 11h32

Cubanos trazem uma nova forma de fazer medicina. Médicos da ilha caribenha surpreendem pacientes e provocam mudança no comportamento de outros profissionais

É quase impossível não estranhar quando se ouve de Julio Cesar Nunez Naranjo, 46 anos, o valor que recebe por mês em Cuba. “Cerca de 30 dólares (quase R$ 70). É uma boa remuneração”, diz o médico, em um compreensível ‘portunhol’, após atender uma mãe e um bebê no Centro Municipal de Saúde de Vila do Céu, em Campo Grande. Mas a relação com o dinheiro não é a única diferença na comparação com os médicos brasileiros.

A chegada dele à unidade já provocou mudança no comportamento de outros profissionais. E a explicação está na formação acadêmica: a medicina cubana incentiva laços mais estreitos com os pacientes. “Os médicos que vêm de fora colhem material para preventivo. Alguns não faziam isso. Mandavam sempre a enfermeira. Já ouvi muitos dizendo que agora vão fazer o procedimento”, conta uma funcionária da unidade.

A sensação térmica em Vila do Céu era de 40 graus na quinta-feira, quando Julio recebeu O DIA no consultório. Do bolso, ele tira um lenço para enxugar o suor no rosto. Apesar do ar condicionado, o calor é quase insuportável. Uma realidade que não assusta quem tem no currículo experiências no Haiti, onde o atendimento era feito em postos sem ventilação ou qualquer iluminação.

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Julio Cesar Naranjo, 46 anos, deixou para trás dois filhos e tem pela frente o desafio de atender 4 mil pessoas (divulgação)

“Achei que iria encontrar um cenário no Rio muito pior do que realmente é. Vi que tem estrutura e a equipe é dedicada. É possível fazer um bom trabalho”, avalia ele, que deixou dois filhos na ilha de Fidel. “Um deles será médico”, diz, orgulhoso. Por aqui, o trabalho na comunidade de 29 mil habitantes será exaustivo. No hospital onde atuava em Cuba, ele tinha sob sua atenção 1,2 mil pessoas. Em Vila do Céu, serão 4 mil. Pacientes como a pequena Mariana Cadena, de 6 meses, estão na lista de atendimento. Enquanto mama, sua mãe, a camelô Raquel Cadena, 38, diz estar esperançosa.

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“Ficamos quase dois meses sem o médico de família. A ajuda vinha da enfermeira, que acompanhava o peso da neném. Estava preocupada com o desenvolvimento dela”, avalia Raquel. A mãe disse não se importar com a consulta auxiliada por uma enfermeira tradutora. “Quero alguém para me atender. Não importa de onde venha”.

Dos R$ 10 mil que o governo brasileiro vai passar para a Organização Pan-Americana de Saúde, referentes ao trabalho dos cubanos, Julio e sua família vão ficar com cerca de R$ 2,3 mil. O restante é retido por Cuba, que durante os três anos que os médicos vão ficar aqui continuará depositando o salário deles. “O que vai para lá será reinvestido na área de saúde. Não é para mim. É para todo mundo”, explica Julio, sem se mostrar incomodado.

Cidade que mais avançou

A chegada de 70 médicos estrangeiros, sendo 65 vindos de Cuba, vai elevar o Rio ao patamar de cidade que mais avançou a curto prazo em cobertura de saúde da família. A partir de amanhã, o cadastro de controle da Secretaria Municipal de Saúde passa a registrar mais 300 mil cariocas com atendimento monitorado pelo programa. Com isso, serão, no total, 2,83 milhões de pessoas monitoradas pelos postos de saúde e Clínicas da Família. Com o reforço vindo de outros países, esse percentual vai saltar dos atuais 41% para 45%.

Até o momento, a prefeitura não tem registro de problemas com médicos estrangeiros. Pelo contrário. A aceitação tem superado as expectativas. Acostumada a atender em localidades de extrema miséria, em países como Honduras e Bolívia, Leonor Maria Pérez, 48, acha que a profissão é uma atividade humanitária. “Todo médico deveria trabalhar em regiões carentes. A gente estuda é para isso, para ajudar as pessoas”.

Medo da violência noticiada

A rotina no Rio é parecida com a de Cuba. São 40 horas por semana, mas lá os médicos trabalham quatro horas todos os sábados. Assim como o colega que atua em Vila do Céu, José Manuel Anaya, 45, que trabalha no Centro de Saúde de Inhoaíba, passou pela Venezuela. Também esteve em Gana antes de vir para o Brasil.

No Rio, admite ter medo da violência: “Vejo nos jornais que aqui tem três, quatro mortos por dia. Por isso, estou sempre atento”, afirma o cubano, que ainda não teve tempo para conhecer pontos turísticos da cidade.

Christina Nascimento, O Dia

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