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Como Eike Batista enganou o Mercado?

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Como o mercado não percebeu a fragilidade das empresas de Eike? O clima de otimismo em relação ao Brasil e o carisma de Eike no exterior não foram os únicos motivos que levaram tantos investidores a apostarem em seus projetos (...)

Eike Batista convenceu investidores a apostar em suas empresas (Arquivo / 2012)

O anúncio nos últimos dias de que a petrolífera OGX e a construtora naval OSX, do grupo empresarial EBX, de Eike Batista, entraram com pedido de recuperação judicial trouxe à tona uma pergunta que era pouco ouvida na época em que as empresas estavam no auge: como o brasileiro conseguiu convencer tanta gente de que seu império era sólido?

Entre os investidores internacionais que apostaram na OGX – carro-chefe da EBX – estão gigantes como Pacific Investment Management Company (Pimco) e BlackRock, duas das maiores empresas de gestão de fundos do mercado de renda fixa.

Esses e outros grupos experientes, ao lado de pequenos acionistas e de empréstimos como os do BNDES, financiaram os projetos de Eike baseados em projeções, antes que a OGX produzisse um barril sequer de petróleo.

Segundo o banco UBS, a empresa chegou a ter valor de mercado de US$ 22 bilhões. Hoje é estimada em menos de R$ 1 bilhão. Em 2010, o valor de suas ações chegou a ultrapassar R$ 23. Na semana passada, eram cotadas em torno de R$ 0,15.

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Agora que ficou comprovado que a maioria dos campos de petróleo da OGX é improdutiva e que a empresa tem uma dívida calculada em torno de US$ 5 bilhões – sendo US$ 3,6 bilhões em títulos nas mãos de credores internacionais –, analistas tentam compreender como o mercado se deixou iludir.

Entusiasmo

Um dos fatores apontados é o clima de empolgação generalizada com a economia brasileira no final da década passada, quando ela vinha demonstrando bons resultados diante da crise mundial de 2008 e comemorava as descobertas de petróleo na camada do pré-sal.

Em junho de 2008, a revista britânica The Economist fez um perfil do empresário brasileiro com o título: “Imã de dinheiro: Eike Batista, a cara do boom de commodities do Brasil”. A reportagem diz que a oferta pública da OGX levantou investimentos na ordem de US$ 3,6 bilhões – um valor semelhante ao obtido pelo gigante da internet Google em 2004.

Em 2008, a OGX havia sido criada há menos de um ano, possuía apenas cem funcionários, não havia começado trabalhos de perfuração ainda e não tinha nenhuma reserva de petróleo comprovada nos seus poços. Mesmo assim, os investidores continuaram atraídos pelo negócio de Eike Batista.

“A OGX pode até não precisar produzir petróleo algum para eles [os investidores] continuarem ganhando dinheiro. Mas se os resultados de exploração nos poços passarem do hipotético para o comprovado, Batista provavelmente passará a atrair grandes empresas de petróleo”, afirma a reportagem.

A revista britânica também se mostrava empolgada com o carisma de Batista e a possibilidade de seu império rivalizar com a Petrobras.

“Se Batista usar [suas vantagens] para chacoalhar as partes da economia brasileira que são dominadas por uma empresa gigante, melhor assim”, dizia a The Economist em 2008.

O otimismo contagiou investidores e se disseminou pelo mercado, facilitando a captação de recursos no exterior por parte de empresas brasileiras.

“Havia um sentimento geral de euforia no mercado em relação ao Brasil”, disse o analista Jefferson Finch, especialista em América Latina da consultoria Eurasia Group, em Nova York.

“Era a década dos Brics, quando todo mundo estava falando sobre Brasil, Rússia, Índia e China como o futuro de onde o crescimento iria surgir”, observa.

Nesse cenário, Eike, fluente em várias línguas, com vivência europeia, personalidade cativante e um talento de “vendedor” teria sido visto por investidores estrangeiros como uma porta de entrada “confiável” no mercado brasileiro.

“Ele se beneficiou do entusiasmo geral com o Brasil. Muita gente queria entrar no Brasil de qualquer maneira”, afirma Finch.

Para Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), tanto o BNDES como bancos e investidores privados “acreditaram em suas promessas de grandes lucros”.

Aura de seriedade

Mas o clima de otimismo em relação ao Brasil e o carisma de Eike no exterior não foram os únicos motivos que levaram tantos investidores a apostarem nos projetos de Batista.

“Houve diversos fatores”, disse o economista brasileiro Aurélio Valporto, porta-voz de acionistas minoritários da OGX.

“Primeiro, a própria presidente da República era uma garota propaganda”, afirma Valporto, referindo-se às vezes em que Dilma Rousseff apareceu ao lado do empresário, elogiando sua atuação e falando em parceria com a Petrobras. Em abril de 2012, Dilma apareceu ao lado de Eike Batista vestindo um macacão da OGX, em solenidade que marcou o começo da exploração da empresa no Rio de Janeiro.

A proximidade com o governo e a empolgação com que autoridades se referiam aos projetos do grupo EBX pode ter criado no mercado a falsa impressão de que Eike teria apoio do governo e acesso facilitado a recursos financeiros.

Além disso, Valporto lembra que a OGX tinha como membros independentes de seu conselho pessoas como os ex-ministros Pedro Malan (Fazenda), Rodolpho Tourinho Neto (Minas e Energia) e Ellen Gracie (Supremo Tribunal Federal), o tipo de associação que aos olhos de investidores pode atestar credibilidade ao projeto.

“Pessoas que davam aos investidores e credores uma certeza de que, se houvesse alguma mentira, eles iriam questionar. Era inclusive a função deles.”

“Tinha uma aura de seriedade, e as pessoas acreditavam”, afirma.

“Se houve alguma voz dissidente, a gente nem tomou conhecimento. Ele anunciava que tinha petróleo, todo mundo acreditava”, diz Valporto.

Um perfil da revista especializada Infrastructure Investor, em março de 2010, chamava Eike Batista de “o homem mais bem relacionado do Brasil”, citando suas boas ligações com autoridades brasileiras e investidores no mercado.

Ações

Valporto faz parte de um grupo de cerca de 70 acionistas minoritários que pretendem entrar com ações acusando Eike por manipulação de mercado, arrolando ainda alguns conselheiros do grupo, a CVM e a BM&F Bovespa, por não terem alertado para os problemas da empresa que segundo ele, teria supervalorizado suas reservas de petróleo.

Ele calcula que as perdas do grupo cheguem a R$ 50 milhões. “É muito difícil saber o prejuízo de cada um. Estamos deixando para o juiz definir no final”, diz.

Valporto discorda das declarações de Eike, que afirma ter sido quem mais perdeu com a queda de seu império.

“Ele arrecadou seu patrimônio vendendo ações. Ele sai dessa aventura com mais dinheiro do que quando entrou”, acredita.

“A fortuna dele foi toda fictícia, baseada em cotações em bolsa que não eram factíveis no mercado. Era uma fortuna absolutamente teórica. Oitavo, sétimo homem mais rico do mundo, só na teoria.”

Minas-Rio

Um dos casos mais notórios de erros de avaliação sobre o império de Eike Batista é o de Cynthia Carroll, que já foi considerada a mulher mais importante do mundo dos negócios pela revista Forbes.

Em 2007, ela se tornou a primeira mulher a dirigir a AngloAmerican, uma das maiores multinacionais de mineração do mundo. Naquele mesmo ano, a executiva fechou um negócio bilionário com Eike Batista no projeto Minas-Rio – uma das maiores minas de ferro do mundo, mas de difícil extração por estar localizada muito abaixo da superfície.

No ano seguinte, a AngloAmerican comprou o restante do Minas-Rio, totalizando mais de US$ 5 bilhões no negócio. O projeto para extração do minério de ferro e transporte de trem até o porto de Açu, no litoral do Rio de Janeiro, era considerado bastante complexo.

Analistas acreditam que a AngloAmerican foi otimista demais na sua avaliação sobre o projeto de Eike Batista. Atrasos elevaram muito o custo do projeto, afetando os dividendos pagos aos acionistas da multinacional. No ano passado, Carroll acabou pedindo demissão do grupo.

“A impressão que ficou é que Batista, um notório vendedor audacioso, se aproveitou de Carroll”, escreveu na época o jornal britânico Sunday Times.

BBC

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