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Presidente do Chile sobre menina de 11 anos estuprada: “é madura”

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Piñera diz que menina de 11 anos estuprada é “madura”. Presidente chileno afirmou que “Belén”, como a garota é chamada pela mídia, demonstra “profundidade e maturidade”

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, se pronunciou pela primeira vez sobre o caso de uma menina de 11 anos que engravidou após ser estuprada pelo padrasto e abriu um debate sobre o aborto no país, deflagrado na última sexta-feira (05), quando a situação foi exposta no canal público TVN.

Piñera disse que decisão de Belén, 11 anos, de cuidar do seu bebê é atitude “madura e profunda” (Foto: AP)

Piñera afirmou que seu governo estará “permanentemente preocupado” em proteger a menina, conhecida na mídia como “Belén”. “Ontem Belén nos surpreendeu com palavras que demonstravam profundidade e maturidade quando disse que, apesar do mal que seu estuprador havia lhe causado, ela quer cuidar de seu bebê”, afirmou o presidente.

Ele disse ainda que, ao se completarem 22 semanas de gravidez (Belén está com 14 semanas de gestação), fosse necessário um “nascimento prematuro, terá que se realizar essa terapia”, prática também conhecida como “aborto terapêutico” (aborto provocado, entre outras razões, para salvar a vida da mãe). “Porque, em nosso país, a vida da mãe está sempre em primeiro lugar”, disse Piñera.

Antes disso, a porta-voz do governo, Cecilia Pérez, havia assegurado que o aborto terapêutico “de terapia não tem nada”, além de ter anunciado que o Executivo do Chile não patrocinaria um projeto de lei para descriminalizar a prática.

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Ao citar a menina, o líder chileno se referia a uma entrevista televisiva de Belén, feita na segunda-feira, na casa de sua avó, que foi quem denunciou o caso à polícia. Belén ratificou a decisão de ter o bebê, afirmou que ele será “como uma boneca” para ela e que vai “amá-lo muito, seja o que for, mesmo que seja filho do homem que me casou danos”. Ela contou ter sido estuprada pelo padrasto desde os 7 anos e que disse nunca ter contado nada à mãe por ter sofrido ameaças de morte.

Outros membros do governo chileno também comentaram o caso, se dizendo contra o aborto. O deputado da UDI (União Democrática Independente) Issa Kort, disse que essa não seria “nem a primeira nem a última vez” que algo assim ocorre e que, apesar de as condições não serem “ideais”, a menina “já estava preparada para ser mãe”.

Outro político da UDI, Jose Antonio Kast, se pronunciou afirmando que “o único inocente em um crime de abuso é a criança que vai nascer”. Já para a senadora e jornalista Ena von Baer, “a mulher fornece o corpo e não tem direito de acabar com uma vida”.

A ex-presidente Michelle Bachelet, por sua vez, ratificou que é a favor da realização do aborto especialmente “nos casos veiculados a violações”. Ela disse desconhecer os detalhes do caso de Belén, mas assegurou que “é uma menina que precisa ser protegida e, por isso, creio que a opção do aborto terapêutico, nesse caso por uma violação, seria o mais adequado”.

O Colégio Médico do Chile pediu para que se reinstalasse no país a “interrupção terapêutica da gravidez” em casos de abuso, feto inviável ou perigo para a mãe. Na contramão, a Igreja Católica reiterou sua posição sobre o tema por meio de Ricardo Ezzati, arcebispo de Santiago e presidente da Conferência Episcopal chilena. Ele disse que se deve “cuidar da vida, desde o nascimento, à medida que cresce e até o fim da própria existência”.

O Sename (Serviço Nacional de Menores) do Chile, motivado principalmente pela entrevista dada por Belén na segunda-feira, pediu ao juizado da família da região onde ela mora que proibisse informar a imprensa sobre o caso. O órgão também solicitou que a mãe da menina seja proibida de ficar perto dela. A mulher teria afirmado que as relações sexuais de sua filha com o padrasto, de 32 anos, foram consensuais.

Opera Mundi