Luis Soares
Colunista
Educação 11/Mai/2013 às 16:33 COMENTÁRIOS
Educação

Ausência de cotas na USP é moralmente indefensável

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 11 Mai, 2013 às 16h33

A USP estimula a iniquidade. A falta de cotas raciais na principal universidade brasileira é moralmente indefensável

Paulo Nogueira, em seu blog

estudantes usp brancos cotas

Não há calouros negros na USP (Foto: Ilustração)

Estou aqui de queixo caído.

Não.

Me lembrei de que, segundo os grandes filósofos, perplexidade é atributo dos tolos. “Não se espante com nada”, escreveu Sêneca. “Porque tudo se repete o tempo todo.”

Coloquemos assim.

Me chamou a atenção, negativamente, a notícia que li hoje na Folha. As três faculdades mais concorridas da USP não têm sequer um calouro negro.

Vou repetir: nem um. Zero.

Estamos em 2013. Em que ano está a USP?

Não existem cotas raciais lá, em nome de uma distorção criminosa e cínica da palavra meritocracia.

Mérito estaria na obtenção das notas necessárias para entrar na USP, pura e simplesmente.

Ora, ora, ora.

Que mérito existe nisso tão intransponível assim quando você estuda em escolas caras e concorre com alunos que enfrentaram o ensino público e jamais tiveram dinheiro para comprar livros, recorrer a professores particulares, fazer cursinhos e trocar de computador regularmente?

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O sistema da USP, na verdade, perpetua a iniquidade.

É a negação da meritocracia.

Vejo que o novo reitor tem falado a favor de cotas raciais, mas sem poder de influência. Vejo que o governador Alckmin também já manifestou apoio, igualmente sem influência.

Há uma força inercial terrível que congela as coisas na USP e impede a modernização do pensamento.

Quero ver quem está por trás da negação da meritocracia, e pesquiso.

Claro.

Vou dar em Demetrio Magnolli, uma das cabelas mais reacionárias do país – e por isso mesmo uma personagem com presença frequente na mídia brasileira.

Magnolli dá, sobretudo à mídia das Organizações Globo, um pretenso verniz acadêmico a teses primitivas que significam, essencialmente, a manutenção de privilégios.

É uma daquelas pessoas que, estivéssemos na década de 1780, estariam se batendo por Versalhes, e que seriam tomadas de estupor reprobatório quando caísse a Bastilha.

Nada, a não ser o conservadorismo petrificado, justifica que seja mantido na USP um sistema que beneficia minúscula uma fração da sociedade já suficientemente privilegiada.

É um tapa na cara de todos nós a ausência de um só calouro negro nas três faculdades mais concorridas da USP.

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