Luis Soares
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Religião 02/Jul/2012 às 21:41 COMENTÁRIOS
Religião

Por que a religião evangélica é a que mais cresce no Brasil?

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 02 Jul, 2012 às 21h41

Só os desavisados foram tomados de surpresa. Os resultados do censo do IBGE sobre religião eram esperados. Ainda mais. São absolutamente compreensíveis.

religião brasil

A evolução da religião no Brasil desde 1872. Dados: IBGE

A sociedade brasileira é individualista. As pessoas possuem uma grande vocação para a liberdade pessoal. Gostam de viver. Conhecer novas experiências. Detestam ser sufocadas.

Durante séculos o catolicismo colocou-se como religião oficial e, portanto, dominante. Nada desgasta mais uma crença que o oficialismo. Fragiliza os seus adeptos. Leva os vícios do Estado para o campo religioso.

A par desta simples constatação, deve-se analisar o panorama religioso brasileiro através dos séculos. A religião, no vasto território nacional, exercia-se a partir de beatos, rezadores e sacristãos.

Os sacerdotes eram raros. Localizavam-se particularmente nas cidades situadas nas bordas do Atlântico. Esta ausência de quadros religiosos regulares deu origem a uma religiosidade popular.

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Esta sempre dominou a mente da população. É só recolher os exemplos de Canudos e do Contestado. Ambos os movimentos, deflagrados após a proclamação da República, contavam com beatos em sua liderança.

Sempre foi assim. O catolicismo, no Brasil, tinha presença marcante, com seu formalismo, nos atos governamentais. O povo, em seus espaços, agia de acordo com suas tradições e rituais espontâneos.

Dominava as consciências das classes sociais economicamente superiores. Foi assim até o surgimento da Teologia da Libertação. A partir deste evento, passou a perder a confiança das classes médias urbanas.

A erosão foi inicialmente lenta. Acelerou-se com o passar do tempo e o aumento do grau de impulsividade dos púlpitos. O então chamado aggiornamento pode ser considerado um crepúsculo.

A par deste acontecimento, a chegada de formas recolhidas no hemisfério norte, para a pregação religiosa, rompeu definitivamente o arcabouço do catolicismo no Brasil.

O ritual evangélico é leve. Direto. Não há aulas de erudição desnecessárias. Vai direto ao assunto. Prega a prosperidade material. Aponta para a leitura da Bíblia sem intermediários.

O celebrante já não é titular do texto revelado. Qualquer pessoa pode atingi-lo sem a necessidade de alguém para auxiliá-lo na eventual interpretação.

Tudo se tornou dinâmico. A relação do homem com Deus imediata e direta. Romperam-se antigos preconceitos. Tornaram-se os crentes mais senhores de sua liberdade religiosa.

Os números do censo, pois, não surpreende. Os brasileiros foram impedidos de uma plena liberdade religiosa pelo oficialismo. Procuraram, porém, sempre resguardar a liberdade de crença.

A constituinte de 1823, abortada por D. Pedro I, é nítida expressão deste espírito de liberdade religiosa que impregna a sociedade nativa. Os constituintes debateram, à exaustão, a liberdade religiosa.

Desejavam que protestantes e judeus pudessem participar de seus cultos sem qualquer censura ou obstáculo. A liberdade religiosa foi tema constante nos trabalhos constituintes.

Desde então – o nascimento do Estado nacional – buscou-se preservar esta possibilidade de opção religiosa, apesar da monarquia ser oficialmente católica.

Hoje – com o rádio, a televisão e a internet – tornou-se impossível a preservação de uma só forma de pensar. Espontaneamente, surgiram as múltiplas maneiras de atingir a Deus.

Ou as formas de se manter agnóstico ou mesmo ateu.

Cláudio Lembo, Terra Magazine

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