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Democratização Comunicação 06/Jun/2012 às 15:26 COMENTÁRIOS
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Memórias da TV Manchete estimulam reflexão sobre concessões públicas

Publicado em 06 Jun, 2012 às 15h26

É uma pena que, ao olhar para trás e lembrar do que foi a Manchete, o público e todos aqueles que nela trabalharam só tenham a lamentar o triste destino do que foi um grande projeto de televisão

rede manchete

No ano em que a Manchete fechou as portas, os empresários Amilcare Dalevo e Marcelo de Carvalho assumiram a concessão da emissora, levando a sede para São Paulo, deixando os funcionários da ex-Manchete no Rio a ver navios. E o que era manchete tornou-se RedeTV!

Leila Cordeiro, Direto da Redação

No dia 5 de junho de 1983, há exatamente 29 anos, estreava aquela que seria a primeira pedra no sapato da toda poderosa Rede Globo, a TV Manchete, fundada no Rio de Janeiro pelo empresário gráfico ucraniano, naturalizado brasileiro, Adolpho Bloch. A Manchete entrou no ar cheia de novidades.

Para começar, o cenário de seu principal telejornal foi o primeiro a ter como fundo imagens de monitores com os profissionais da técnica trabalhando ao vivo. Além disso, o design futurista do ambiente , incomodou o visual tradicional e monocromático dos telejornais da Globo que passou a olhar com olhos mais preocupados para a nova emissora que estava nascendo em berço de ouro.

Sua sede no Russel também foi motivo de comentários e de curiosidade. Afinal, ela ficava num ponto privilegiado do Rio. Na praia do Flamengo bem em frente a um dos principais cartões postais da cidade maravilhosa, o Pão de Açucar. Todas as empresas Bloch já funcionavam no prédio e a TV passou a ter alguns andares dedicados às suas instalações.

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Em 1984, um ano depois de sua estréia, a Manchete teve uma importante vitória em seu objetivo de incomodar a supremacia da Globo. A emissora dos Bloch conseguiu a exclusividade da transmissão dos desfiles das escolas de samba no ano de inauguração do Sambódromo, depois que a Globo desistiu por não aceitar as regras impostas pelo governo Leonel Brizola.

E a Manchete não parou mais. Foi destaque em novelas como Pantanal e fez a diferença botando uma programação diferenciada no ar, de musicais a noticiários, programas esportivos, entrevistas, debates e até humorísticos. Tudo com acabamento esmerado e conteúdo de qualidade. Seus funcionários eram de uma dedicação memorável. Vestiam a camisa da Manchete com orgulho e garra de estarem enfrentando, e incomodando, o Golias do Jardim Botânico.

Mas o tempo passou, vieram dificulades financeiras e administrativas e a emissora dos Bloch acabou fechando suas portas no dia 5 de maio de 1999 para tristeza tanto dos telespectadores quanto de quem trabalhava lá. Muitos ficaram sem receber e foram à justiça reclamar seus direitos sem sucesso.

Em novembro do mesmo ano de 1999, os empresários Amilcare Dalevo e seu sócio Marcelo de Carvalho assumiram a concessão da emissora do Russel, levando a sede para São Paulo, deixando os funcionários da ex- Manchete no Rio a ver navios. Os novos donos alegam que nunca assumiram o compromisso de bancar o passivo trabalhista da emissora.

E o que era Manchete virou Rede TV. Depois de muitas promessas, próprias de quem está iniciando algum projeto, a Rede TV não aconteceu. A emissora investiu numa sede com tecnologia de ponta, tornando-se uma das mais modernas do país. Seu conteúdo, entretanto, só conseguia alguns pontos de audiência com uma programação de baixo nível. Ninguém é capaz de se lembrar de algum programa de qualidade na Rede TV. Pra se ter uma ideia, seu programa de maior audiência e faturamento era o Pânico. Era, porque agora o programa se transferiu para a Bandeirantes. Inventou um tal de Saturday Live, mas tudo indica que não vai decolar, segundo análise da mídia especializada.

Na busca pela audiência a qualquer preço, a Rede TV não faz por menos, apela para o baixo nível, mesmo sabendo que as experiências anteriores não deram certo. Abriu espaço para um terror de audiência, um tal de “Sexo a Três”. Pode alguma emissora séria ter um programa com esse nome?

O que vai acontecer com a Rede TV ninguém sabe. Mas é preciso que o público saiba qual o critério de concessão de canais de televisão. Tem o governo poderes para cobrar qualidade de programação das emissoras, com punição que pode ir até a cassação do canal? Pelo visto, se existe alguma cláusula nesse sentido, ela é ignorada pelas autoridades.

É uma pena que, ao olhar para trás e lembrar do que foi a Manchete, o público e todos aqueles que nela trabalharam só tenham a lamentar o triste destino do que foi um grande projeto de televisão.

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