Luis Soares
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Eleições 2012 15/Jun/2012 às 16:03 COMENTÁRIOS
Eleições 2012

José Serra ameaça desistir de candidatura diante do primeiro obstáculo

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 15 Jun, 2012 às 16h03

José Serra exige coligação do PSDB com o PSD do Prefeito Kassab. Projeções indicam que, assim, tucanos encolheriam na Câmara Municipal, enquanto pessedistas formariam ‘super bancada’. Diretórios estadual e municipal estão em pé de guerra. Sem aliança, Serra diz que pega o boné e volta para casa

josé serra

José Serra faz exigências que intrigam diretórios e dificultam futuro de sua candidatura nas eleições 2012

Diante da primeira encruzilhada em que sua candidatura a prefeito se depara nesta campanha, o ex-governador José Serra já apontou para seu partido o caminho que pode seguir: voltar para trás.

Em recados duros que chegaram os ouvidos do governador Geraldo Alckmin, em viagem a Nova York nesta sexta-feira 15, Serra disparou a ameaça de simplesmente desistir de concorrer caso o PSDB não aceite, como ele exige, firmar uma coligação formal com as legendas PSD, DEM e PR. Com olhos focados na liderança que, pessoalmente, poderá exercer sobre os coligados e no tempo de televisão que poderá dispor com — e sem — a soma dos espaços partidários no horário eleitoral gratuito, Serra sustenta que não se vê em condições de enfrentar, com chances, a disputa, caso não conte com o apoio das outras legendas.

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O problema, para o partido dos tucanos, é que essa coligação irá resultar no chamado “chapão”, em que candidatos a vereador de todas as siglas coligadas disputarão a eleição sob o mesmo guarda-chuva da candidatura Serra, dividindo proporcionalmente o resultado final. Nas projeções de líderes tucanos como o secretário de Energia José Aníbal, de franca influência nos diretórios palistanos, o chapão teria o efeito de reduzir em cerca de 50% o potencial eleitoral dos postulantes do partido. Assim, em lugar de fazer uma bancada com até 12 vereadores eleitos, os tucanos saíram para a disputa projetando vitórias de apenas 6 ou 7 concorrentes. A situação ganha complexidade quando se analisa o fechamento em curso da coligação com o PSD do prefeito Gilberto Kassab. Enquanto os tucanos, no último ano, viram oito de seu vereadores bandearem-se para outros partidos, e sua bancada, assim, ficar reduzida a sete edis, os pessedistas se beneficiaram dessa diáspora, com a adesão de três ex-tucanos, chegando a dez vereadores – a segunda maior bancada da Câmara, atrás apenas do PT.

A coligação PSDB-PSD tende a fortalecer ainda mais os filiados ao partido do prefeito, que, além de suas próprias bases, teriam a seu favor o resultado da conta de quociente partidário. O PSD largaria para a disputa com a chance real de formar o que já vai sendo chamada de super bancada, talvez entre 30% e 40% maior que a atual. Os tucanos candidatos temem que esse crescimento se dê sobre o seu definhamento. Serra não vê problema nisso, até porque considera os vereadores do PSD como estando sob a sua chefia.

Com 55 vereadores, a Câmara Municipal de São Paulo formará suas futuras bancadas pelo critério do quociente partidário – número resultante da divisão do número de votos válidos sob a mesma legenda ou coligação pelo quociente eleitoral. Nesse caso, a coligação funciona como um único partido: quem tiver mais votos dentro da coligação, está eleito, independentemente da legenda a que pertença. Aí reside a grande preocupação de parte do PSDB.

Enquanto isso, o PP do ex-governador Paulo Maluf está ameaçando abandonar as negociações de uma coligação com o PSDB. Por meio do secretário-geral da legenda, Jesse Ribeiro, Maluf pede, desde já, maior participação na eventual futura administração Serra, com um naco maior da secretária da Habitação e da Cohab, a companhia estatal que constróe casas populares. Caso não obtenha o que quer, ele ameaça fechar com o candidato do PT, Fernando Haddad.

Sob pressão, o governador Geraldo Alckmin, que nesta sexta-feira 15 está em Nova York, tem a complicada tarefa de administrar essa crise. Ficando ao lado de Serra, pode prejudicar seu próprio partido. Se, no entanto, se posicionar com os vereadores que temem o “chapão”, corre o risco de ver Serra concretizar a ameaça de deixar a disputa. Inicialmente, Alckmin, pensando em sua situação de reeleição, em 2014, deverá apoiar as coligações defendidas pelo candidato a prefeito. Em matéria de democracia partidária, os tucanos paulistanos não estão, neste momento, em condições de dar lições a ninguém. Ali, quem vai decidir a pinimba, serão, mais uma vez, os chefes.

Brasil 247

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