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Alunos negros da Unesp sofrem racismo: ‘sem cotas para animais africanos’

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"Foi a primeira vez, desde que chegamos, que vimos explicitamente uma manifestação de preconceito. Às vezes ouvimos as pessoas comentando, mas não diretamente a nós e, então, nem ligamos para não causar maiores problemas", afirma aluno

A Polícia Civil de Araraquara (SP) investiga uma denúncia de racismo contra estudantes africanos da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O grupo formado por dez alunos, beneficiados pelo Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), do Governo Federal, registrou um boletim de ocorrência sobre o caso, que está sob a responsabilidade do 4º Distrito Policial.

De acordo com os denunciantes, uma pichação feita na semana passada em uma das paredes do setor onde os estudantes da faculdade frequentam as aulas, tem conteúdo racista. A frase apresenta os seguintes dizeres: “Sem cotas para os animais africanos”. A Unesp informou por meio de uma nota que uma comissão avaliará o caso.

O estudante angolano José Mahinga Sebastião, de 28 anos, disse que um amigo, que não é africano, foi o primeiro a ver a pichação. “Esse nosso amigo viu e postou sua indignação em uma rede social. Eu e mais um colega vimos a sua manifestação e fomos verificar se havia mesmo a pichação nas paredes da faculdade”, conta. Segundo Sebastião, uma carta foi endereçada à delegacia de Araraquara, para registro da ocorrência, e outra ao diretor da faculdade da Unesp.

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“É vergonhoso porque se isso não tivesse acontecido voltaríamos para a nossa terra com uma imagem boa da faculdade e da cidade. Foi a primeira vez, desde que chegamos, que vimos explicitamente uma manifestação de preconceito. Às vezes ouvimos as pessoas comentando, mas não diretamente a nós e, então, nem ligamos para não causar maiores problemas. Só que dessa vez ficamos indignados”, afirmou o estudante, que está prestes a se formar em cinências econômicas.

Sentimento

Pichação no mesmo local defende a igualdade racial (Foto: Laís Françoso/G1)

Segundo o estudante Duarte Olossato Quebi, 27 anos, da Guiné Bissau, aluno do curso de ciências sociais, não é comum a prática de atitudes como esta dentro do campus, diferente da situação vivida por ele nas ruas. “O problema do racismo nas ruas muitas vezes não tem a ver com a nossa nacionalidade, mas sim por ser uma questão que está enraizada na cultura do Brasil. Esse tipo de atitude é estranha em uma faculdade onde as pessoas se dizem esclarecidas”, diz. Quebi desconhece quem possa ter feito as ofensas nas paredes.

Para a coordenadora do Centro de Referência Afro de Araraquara, Alessandra de Cássia Laurindo, a atitude é lamentável. “Isso me surpreende porque naquela faculdade existem pessoas formadoras de opinião e que um dia se tornarão profissionais que, infelizmente, carregam esse tipo de preconceito”, diz.

De acordo com Laurindo, é preciso cobrar uma investigação da própria universidade para apurar os responsáveis pelo ato. “Sabemos que será complicado, principalmente, pelo fato de naquele espaço onde ocorreu a pichação não existir câmeras de segurança e ser um local pouco iluminado”, afirma.

No mesmo local onde foi encontrada a pichação, outras frases também escritas nos muros defendem a igualdade racial.

Universidade

Sobre a denúncia de racismo ocorrida na unidade, a Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara informou por meio da assessoria de imprensa que uma comissão preliminar foi nomeada para apuração dos fatos. Ainda segundo a assessoria, a unidade notificará o ocorrido à Polícia Civil, à Polícia Federal e ao Ministério Público local.

De acordo com o Ministério da Educação, o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G) oferece oportunidades de formação superior a cidadãos de países em desenvolvimento com os quais o Brasil mantém acordos educacionais e culturais. Desenvolvido pelos ministérios das Relações Exteriores e da Educação, em parceria com universidades públicas – federais e estaduais – e particulares, o PEC-G seleciona estrangeiros, entre 18 e 25 anos, com ensino médio completo, para realizar estudos de graduação no país.

No campus da Unesp em Araraquara, 20 estudantes estrangeiros são atendidos atualmente pelo programa.

Racismo nas universidades

Um dos casos mais recentes relacionados a racismo contra alunos de universidades no País aconteceu em março deste ano, em Brasília (DF). Mesmo depois da prisão de dois suspeitos de incitar a violência contra negros, homossexuais, mulheres, nordestinos e judeus na internet e de publicar ameaças contra alunos da Universidade de Brasília (UnB), mensagens de violência contra os estudantes da instituição continuam sendo postadas na web.

A Polícia Federal acredita que amigos de um dos presos, um ex-estudante de letras da UnB, sejam responsáveis pelas postagens.

No Maranhão, também em março, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou um professor universitário por crime de racismo, xenofobia e injúria racial, praticado durante uma aula do curso de Engenharia Química, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) no ano passado.

Laís Françoso e Thaisa Figueiredo, G1

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