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Sem medo de ser (in)feliz: o dia em que o PSOL se aliou ao PSDB

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Para defender a tese da “esquerda verdadeira”, um dos argumentos destacados pelo PSOL é o da total e irrestrita independência da sigla. Mas a partir de agora, na cartilha da ‘esquerda autêntica‘ é preciso eliminar o tópico que trata de alianças partidárias sob qualquer égide.

Luis Soares, Pragmatismo Politico

Fundado e formado por dissidentes petistas, o PSOL tem utilizado, desde o princípio, o próprio PT como parâmetro comparativo para externar os seus métodos e as suas práticas. Na empreitada pouco racional, e, portanto, não muito bem sucedida que objetiva descaracterizar o PT como um partido de massas e representante genuíno de uma frente progressista, a agremiação de Plínio de Arruda, Heloísa Helena, Baba e cia., não cansa de bradar aos quatro extremos que são eles, e ninguém mais, os baluartes da autêntica esquerda brasileira.

Para confirmar tal tese, um dos argumentos utilizados pelos psolistas é o da total e irrestrita independência da sigla. Razão de orgulho, estampado em palavras, gritos de guerra e residente nas mentes dos partidários e simpatizantes do partido que se julgam aptos a vislumbrar uma cartilha imaginária com as definições exatas sobre o significado do que é ser de esquerda no Brasil. Das definições mais incisivas, a independência partidária, repetimos, é destaque incontestável. De modo que, por esta ótica, até aliar-se ao PT seria constrangedor.

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Acontece que em meados de fevereiro, foi notícia e circulou pelas redes sociais uma reunião entre o pré-candidato do PSOL à prefeitura de Macapá e lideranças do PSDB do Estado do Amapá. Registre-se: o PSOL teve a oportunidade de compor com outras frentes da esquerda (frentes da esquerda autêntica, como chamam) local, mas optaram por um outro caminho.

O PSOL foi além. Não apenas desprezou a composição com partidos com os quais teoricamente se identifica (PCB, PSTU), mas reuniu-se à portas fechadas com o PSDB, nas presenças do empresário Michel JK e do latifundiário Jorge Amanajás.

Quem são e como agem os representantes do PSDB do Amapá

O PSDB no estado do Amapá tem a mesma prática dos governos FHC e Alckmin. Criminalizam os movimentos sociais e massacram as classes menos abastadas. O partido é representado pelo deputado e empresário Michel JK, e pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Amanajás, entre outros. Jorge Amanajás é o mais legítimo representante do agronegócio no estado, é um grande latifundiário e pesa contra ele acusações de grilagem de terras. Já Michel JK é um grande empresário, dono de uma rede de lojas em todo o estado, e ambos apoiaram o atual prefeito de Macapá, também preso em 2011 sob a acusação de corrupção

Apenas para explicitar o reducionismo imposto e que de nada serve ao debate político, vejamos: se “quem se alia ao PMDB de Sarney não é de esquerda”, como costumam afirmar, como definir então quem se alia ao PSDB de FHC e Aécio?

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), ex-petista, e que liderou o Congresso Estadual do PSOL no ano passado, já chegou a defender publicamente uma aliança com o PPS – partido que atua alinhado ao PSDB e ao DEM no Congresso Nacional. Randolfe chegou a rasgar elogios à Roberto Freire. Este último, diga-se, acometido por um anti-petismo/lulismo patológico que o fez perder-se no tempo e no espaço, a ponto de considerar em José Serra figura mais relevante do que Lula na política brasileira contemporânea e no processo histórico político.

A partir de agora, na cartilha da ‘esquerda autêntica‘ é preciso eliminar o tópico que trata de alianças partidárias sob qualquer égide.

Aguardemos os próximos capítulos. Ou os próximos tópicos a serem excluídos.

Pragmatismo Político procurou o deputado Ivan Valente, presidente nacional do PSOL, para tratar das alianças em curso no estado do Amapá. No entanto, não houve resposta.

Com informações de Almir Brito, de Macapá