Luis Soares
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Política 14/Ago/2011 às 16:08 COMENTÁRIOS
Política

Dilma critica a imprensa, condena a corrupção e diz: 'não serei pautada pela mídia'

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 14 Ago, 2011 às 16h08
Em entrevista à revista Carta Capital, a 33ª concedida no cargo de
presidente, Dilma Rousseff afirma que o governo federal afastou
funcionários acusados de irregularidades no uso de dinheiro público nos
ministérios dos Transportes e do Turismo. Entretanto, alerta que sua
administração não pode superdimensionar as denúncias e nem criar
condenados sem o devido processo legal.
A presidenta Dilma Rousseff criticou a imprensa brasileira ao comentar
as recentes denúncias de corrupção contra ministérios e as notícias de
que as Forças Armadas se irritaram com a nomeação do ex-chanceler Celso
Amorim para o Ministério da Defesa.
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Em entrevista à revista Carta Capital, a 33ª concedida no cargo, Dilma disse que o governo afastou
funcionários acusados de irregularidades no uso de dinheiro público nos
ministérios dos Transportes e do Turismo. Entretanto, alertou que o
governo não pode superdimensionar as denúncias e criar condenados sem o
devido processo legal.
“O que acho complicado no Brasil é que os problemas reais perdem
espaço para os acessórios, ou para os que não são reais. Isso é ruim,
porque há a tendência de as pessoas se preocuparem mais com o
espetáculo do que com a realidade cotidiana das coisas”, disse ela.

Dilma garantiu que seu governo não “abraçará a corrupção”, por
razões éticas e também outra, relacionada à eficiência. Segundo ela, um
governo capturado por corruptos torna-se ineficiente, sobretudo quando
há restrição orçamentária e demandas urgentes. Por isso, diante das
denúncias, ela prometeu dar respostas, mas “sem gastar todo meu tempo
nisso”.

Celso Amorim
Conflitos como o que existe entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o canal de tevê Fox News, assim como o escândalo do tablóide News of the World, na Inglaterra, têm chamado a atenção da presidenta, que parece ver
como natural a relação contraditória estabelecida entre governos e
mídia.

Ela avalia, porém, que a imprensa também possui suas
heterogeneidades. “Não acho que eu seja tratada da mesma forma por
todos os jornais. Têm grupos de mídia mais suscetíveis a encarar as
transformações pelas quais o Brasil passa e têm outros menos
suscetíveis”, ponderou.

A presidente considerou “irrelevantes” as notícias e comentários de
colunistas que alertavam para uma suposta insatisfação das Forças
Armadas após a indicação de Celso Amorim para o Ministério da Defesa. E
ela justifica: “a sociedade brasileira evoluiu” e “as Forças Armadas
são disciplinadas, hierarquizadas e cumprem seus preceitos
constitucionais”.

Sem citar o nome do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, Dilma
aproveitou a entrevista para dizer que “as pessoas tem de ter a
humildade de perceber que não são insubstituíveis”. “Nem na época da
monarquia o rei era insubstituível. (…) O rei morreu, viva o novo
rei. O tempo é senhor desse processo e tenho certeza de que o Celso
Amorim vai demonstrar uma grande capacidade de gestão”, afirmou.

Duas utopias

Sobre a crise global, a presidenta disse que, apesar da
“aquiescência” do poder público, ela não foi causada por ele, mas pela
desregulamentação do mercado financeiro. Como proposta de superação,
Dilma critica tanto a solução proposta pelos republicanos
norte-americanos, de reduzir o tamanho do Estado, como a da União
Européia, de penalizar as economias menores do bloco, depois de anos de
oferta de crédito e produtos pelas economias centrais.

“São duas utopias muito graves, porque, como disse o [economista Luiz Gonzaga] Belluzzo [um dos entrevistadores da Carta Capital], é mais do mesmo e uma tentativa de responder à crise com aquilo
que a causou”, ponderou. Questionada sobre os efeitos da crise no
Brasil e as medidas tomadas pelo governo para combatê-la, a presidenta
afirmou que cometeria um “equívoco político e econômico” se as
revelasse “antecipadamente”.

Entretanto, citou ações já tomadas para o incentivo à inovação, à
desoneração (Supersimples) e às exportações (Reintegra) como parte da
estratégia. “Sabemos que isso é só um início e estamos abertos a todas
as outras hipóteses de trabalho”, disse. 
A revistaCarta Capitaldividiu a entrevista de Dilma em duas partes. A segunda será publicada na edição da próxima semana.
Marcel Gomes/Carta Maior

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