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Mais um jovem vítima de agressão motivada por racismo: Alexandre de Sena

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Foi assim. Na branca Blumenau, Santa Catarina, noite de frio. A cidade vivia um evento de Teatro e havia muita gente de fora. Mas ninguém imaginava que aquilo iria acontecer, afinal, há quem acredite que este é um país de “democracia racial”. Não é. Nunca foi. Por isso que dois policiais militares se acharam no direito de agredir violentamente um homem pelo simples fato que era um negro e ousara falar como “gente” com eles.

Alexandre de Sena é um mineiro de Belo Horizonte que começou sua vida de trabalhador aos 16 anos, na Rede Ferroviária Federal. Mas o corpo magrinho sonhava com outros cenários. Queria ser ator. Então, foi fazer curso de teatro no Palácio das Artes e, ali, naquela casa de cultura e arte, descobriu também a música. A vida seguiu e ele é hoje um dos DJs mais festejados de BH, trabalhando com música de qualidade. Mas o teatro não saiu da vida e ele vai unindo tudo isso num processo criativo que não tem fim.

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E foi por isso que veio parar em Blumenau, no 24º Festival Internacional de Teatro Universitário – FITUB. O dia tinha sido bom, cheio de beleza cênica e artística. Quando a noite veio, ele foi com dois amigos a uma loja de conveniências, onde outros fregueses se divertiam. Mas, ao que parece, em Blumenau, aglomeração de seres humanos – diferentes dos citadinos – é sinônimo de confusão. Vai daí que chegou uma viatura, com dois policiais, aos berros, mandando todo mundo sair dali.

Alexandre esperava os amigos que estavam dentro da loja e tentou argumentar com os homens fardados. Mas, aos gritos de “vaza, negão”, eles começaram a empurrar. Alexandre fincou pé e disse que não era assim que se tratava um homem de bem. Não foi preciso mais nada. Vieram os socos, os tapas, os pontapés. Não satisfeitos, os soldados ainda espancaram a cabeça de Alexandre com o cabo de uma escopeta. O jovem DJ pode até ter perfurado um dos tímpanos.

Feito isso, os policias se foram como se tivessem esmagado um verme. Para eles, não era gente. Era um negro, logo, podia ser feito saco de pancadas, sem que nada acontecesse. Alexandre é negro, sim, e um homem de bem. Foi na delegacia, prestou queixa, fez exame de corpo de delito, apresentou denúncia na corregedoria. Tudo o que deve ser feito. Seus colegas fizeram uma passeata na cidade, no dia seguinte, junto com outros manifestantes. Expressaram a revolta por viver num país que ainda expressa cotidianamente o racismo.

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Ser negro no Brasil ainda é uma dureza, sim. O racismo velado, espiando pelas frestas, o racismo concreto que aparece na rua, na favela, na periferia. O racismo real que toma conta dos servidores públicos, que é o que são os soldados da PM. Esse racismo existe e se faz presente toda hora. Um negro não pode falar, não pode andar na rua à noite, não pode estar bem vestido numa esquina. “Vaza, negão!” Essa é a ordem.

O que passa é que a gente não aceita mais isso. Não haverá silêncio. Por Alexandre e por todos os negros deste país. Que ninguém mais permita coisas como essas. Nem em Blumenau, nem em lugar algum.

Elaine Tavares – Brasil de Fato