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Padres, talebans e modelos

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Os incrédulos precisam se curvar diante de prova provada. Três vítimas de um clérigo pedófilo, depois de vencerem barreiras psicológicas e de contar com significativo precedente da jurisprudência da Corte Suprema dos EUA, desistiram das ações indenizatórias contra o Vaticano, nas quais arrolaram para prestar depoimento pessoal o papa Ratzinger e, como testemunhas, duas eminências púrpura. Os três pedidos indenizatórios foram propostos em 2004, perante a Corte de Justiça de Louisville, no estado americano de Kentucky. Em 2010, a milagrosa desistência.
Sobre os processos nos EUA que envolvem clérigos pedófilos, o papa Ratzinger dedica especial atenção. Os processos mais escandalosos para a igreja tramitam nas cortes de Kentucky, Wisconsin e Oregon. No processo de Oregon, a Corte Suprema entendeu que a Santa Sé e o Vaticano eram partes legítimas para figurar como réus em ações indenizatórias por danos morais intentadas por vítimas de abusos sexuais impostos pelo padre Andrew Ronan. E, nos EUA, a Justiça não reconhece a imunidade papal. Em outras palavras, Ratzinger está obrigado a depor.
No processo que tramita em Winsconsin, aparecem como réus, em face da corresponsabilidade, o papa Ratzinger e os cardeais Angelo Sodano, hoje decano do colégio cardinalício, e Tarcísio Bertone, secretário de Estado. Os promoventes da ação contra o papa Ratzinger e os cardeais são surdos-mudos de nascimento. Eles alegam que foram vítimas, em uma escola católica, de abusos sexuais praticados pelo padre Lawrence Murphy e que houve omissões de Ratzinger, Bertone e Sodano, quando dirigiam a Congregação para Doutrina da Fé.
A desistência da ação no Kentucky, em fase de homologação e extinção do processo, significa que as vítimas, por milagre, resolveram, neste ano, renunciar ao dano moral pedido seis anos antes. Isto logo depois, frise-se, do marcante posicionamento da Corte Suprema dos EUA
INTOLERÂNCIA
Neste ano, 1.325 civis foram mortos no Afeganistão. Na quinta-feira 5, os talebans fuzilaram oito pessoas que estavam em missão humanitária. Uma equipe composta de médicos, oftalmologistas, dentistas e enfermeiros. As vítimas foram condenadas à morte por proselitismo religioso. A prova única considerada pelos talebans era uma bíblia católica em língua dari. A bíblia fora encontrada no interior do jipe que os transportava.
A equipe era chefiada pelo médico norte-americano Tom Litle e foi surpreendida na região nordeste. Apenas o motorista do veículo, um afegão, foi poupado. E somente porque foi surpreendido ao orar por Alá. As vítimas estavam há anos no Afeganistão e trabalhavam como voluntários para a Internacional Assistence Mission (IAM), organização não governamental cristã.
Para os talebans, os agentes humanitários, com a bíblia, atentaram à pureza religiosa mantida na região. Na verdade, uma postura de quem não tolera coexistir com pessoas de fé diversa. Nesse massacre, os agentes humanitários não tinham ligações com as tropas dos EUA ou das forças internacionais (Isaf). Para os talebans e seus apoiadores, como já difundido em panfletos, os judeus e os cristãos, chamados de cruzados, devem ser eliminados da face da terra.

CANALHICE
A modelo Naomi Campbell negou, duramente mais de 12 anos, ter sido presenteada com diamantes ofertados pelo sanguinário Charles Taylor, ex-ditador da Libéria e preso preventivamente desde 2006. Taylor é acusado de ser corresponsável por crimes de genocídio e contra a humanidade consumados na vizinha Serra Leoa. Mais de 120 mil civis foram executados.
Em 5 de agosto, no Tribunal de Haia e perante a Corte Criminal para Serra Leoa, a modelo Campbell lapidou sua antiga versão. Ela admitiu, quando hospedada na casa de Nelson Mandela em 1997, ter ganhado umas “pedrinhas sujas”, enviadas por pessoa não identificada. Essa entrega ocorreu logo depois de jantar ofertado pelo casal Mandela. No jantar estavam presentes, entre outras celebridades, Charles Taylor, Naomi Campbell, um campeão paquistanês de críquete e Mia Farrow, ex-esposa de Frank Sinatra e ex-companheira de Woody Allen. 
O testemunho de Campbell ajudou Taylor, que nega ter possuído diamantes na vida. A promota Joyce Hollis, responsável pela acusação, está empenhada em provar que Taylor, em troca de diamantes, oferecia armas e munições à Frente Unida Revolucionária (RUF). A RUF tinha controle territorial da região dos diamantes brutos de Serra Leoa.
Após o testemunho de Mia Farrow e da sua ex-empresária, ficou patente que a modelo mentiu para a Corte. Ela sabia dos diamantes e que Taylor a presenteara. Os advogados de Campbell agora analisam a sua retratação, para fugir ao falso testemunho. Por outro lado, sabem que a canalhice é irretratável.
Wálter Maierovitch