Luis Soares
Colunista
Política 27/Ago/2010 às 13:18 COMENTÁRIOS
Política

Dossiê e garupa: oposição insiste em teses furadas contra Dilma

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 27 Ago, 2010 às 13h18
Nesta semana, duas teses, baseadas em “acusações” pra lá defuradas, foram repetidas mais uma vez pela direita e pela mídia aliadapara tentar conter a sangria desatada que enfraquece a oposição.Lançaram mão dos recorrentes temas dos “dossiês” e da “garupa”. Tentamdebitar na conta da campanha governista os supostos vazamentos de dadosfiscais de lideranças tucanas e, mais uma vez, o candidato José Serraandou espalhando que Dilma não teria autonomia como presidente egovernaria “na garupa” do presidente Lula.

Tese furada 1: dados fiscais seriam usados para compor dossiês contra a oposição

Os oposicionistas continuam encantados com a façanha midiática que, em2006, ajudou a provocar o segundo turno nas eleições presidenciais coma divulgação de imagens da montanha de dinheiro apreendido das mãos dos”aloprados” petistas que pretendiam comprar um suposto dossiêanti-tucanos. Este encantamento, que não resiste a um minuto derealidade concreta, é a única explicação para justificar a insistênciados tucanos e da mídia neste tema dos supostos dossiês. A oposição querporque quer que acreditemos que uma tentativa de chantagear osadversários estaria por trás da quebra de sigilo fiscal de ilustresfiguras do tucanato. A quebra teria sido feita por algum funcionário daReceita Federal. O assunto está sendo investigado pela Polícia Federale pela Corregedoria Geral da Receita. Ontem, a Receita informou quealém da declaração de imposto de renda de Eduardo Jorge,vice-presidente do PSDB, também teriam sido consultados, sem motivaçãolegal, os dados do ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e doex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira, além dedezenas de outros nomes, a maioria sem ligação com a política. Umdetalhe: os nomes citados acima são de tucanos que ficaram milionáriosdurante o governo Fernando Henrique e são suspeitos de envolvimento emcasos de corrupção envolvendo o processo de privatizações.

Não há espaço na atual disputa presidencial para o uso de dossiês. O PTaprendeu com a experiência traumática de 2006 que usar deste artifíciocontra os adversários é dar um tiro no próprio pé. Tanto que no comandoda campanha de Dilma, desde o início da pré-campanha a ordem é rejeitarqualquer denúncia baseada em dossiês ou dados obtidos de forma escusa.Dilma lidera a disputa eleitoral sem fazer uma única acusação ao seuadversário no campo da ética. Sendo assim, os únicos que poderiamlançar mão de dossiês na campanha seriam os próprios oposicionistas,com ajuda da mídia.

Até o ministro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Marco AurélioMello, tratou de desqualificar a tese oposicionista. A Folha o procurounuma clara tentativa de usar a fala do ministro para legitimar a”denúncia” da oposição. Mas Mello não correspondeu às expectativas. Eleafirmou que a quebra de sigilo fiscal de adversários políticos é “golpebaixo”, algo que, segundo ele, “não há espaço no campo eleitoral”. Eemendou: “Eles (a campanha de Dilma) não precisam disso. Parecem estarem situação confortável”. Apesar da declaração, a Folha editou aentrevista dando a entender que Mello acusou os petistas de “golpebaixo”.

O eleitorado, que não é bobo, já percebeu qual é o jogo da oposição esimplesmente está ignorando o assunto. Não há nenhum resquício deimpacto deste tema “dossiê” na decisão de voto dos eleitores. Somentena internet, e mesmo assim restrito a alguns sites e blogspró-oposição, é que o assunto ganha algum fôlego ao ser brandido pormilitantes direitistas mais empedernidos. Fora dos limites virtuais dagrande rede, o povão não está dando a mínima pelota para este tema.

Apesar de o tema ter impacto zero na decisão do eleitor, a campanhagovernista não está disposta a levar desafora para casa. O comando dacampanha de Dilma vai entrar com duas ações na Justiça contra JoséSerra por injúria e difamação. Além disso, o PT pedirá à PolíciaFederal que apure como o vazamento dos dados foi parar na imprensa. Hásuspeitas de que sejam os próprios oposicionistas que vazaram os dadossigilosos para a mídia.

Campanha de Dilma vai processar Serra

Ao anunciar ontem os processos contra Serra, o presidente do PT, JoséEduardo Dutra, disseque tanto o principal adversário de Dilma quanto oPSDB têm “indignação seletiva” e constroem “factóides”. “Essaindignação externada pelo PSDB é seletiva, uma vez que episódiossemelhantes e em datas muito próximas ocorreram, no ano passado, contrafiliados ao PT e instituições da República”, acusou Dutra. Com o dedoapontado na direção do tucanato, o petista não parou por aí. “Nossosadversários mostram carência de projetos e ficam agora tentandoconstruir factóides e armações”, afirmou.

Coordenador da campanha de Dilma, Dutra fazia referência à violação dosigilo fiscal da Petrobrás e ao vazamento da declaração do Imposto deRenda de diretores da estatal, em meados do ano passado. A listaincluía o então diretor de Exploração e Produção da Petrobrás,Guilherme Estrella, filiado ao PT.

“À época, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) foi à tribuna apresentaresses dados como motivo para turbinar a CPI da Petrobrás”, afirmouDutra. “Se fôssemos irresponsáveis, como têm sido o PSDB e o seucandidato, afirmaríamos que todos aqueles vazamentos foram construídosde comum acordo com o PSDB para criar a CPI.”

A presidenciável Dilma Rousseff também criticou os tucanos. Questionadasobre o assunto em uma coletiva à imprensa no aeroporto de Salvador-BA,a candidata declarou trata-se de uma acusação sistemática que somenteprova o desespero (da oposição). “Sistematicamente, eles vem acusandosem provas e usam factóides para afetar nossa campanha”, afirmou.

Tese furada 2: Dilma na garupa de Lula rende votos para Serra

Ainda nesta quinta-feira (26), José Serra provocou a manutenção, napauta da imprensa, de uma outra tese furada que ele havia levantadoinicialmente durante a entrevista que deu ao Jornal Nacional, da RedeGlobo. O tucano reafirmou que Dilma, se eleita, governaria sob ocomando do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o tucano,”isso não pode acontecer”.

“Candidato não pode ter duas caras. Não se terceiriza comandos. Éimaginativo pensar que o Brasil pode ser governado pelo Lula fora dogoverno. Isso não existe. Não se governa da garupa”, afirmou Serra aodestacar que os eleitores precisam ficar atentos e saber diferenciar opresidente da candidata apoiada por ele.

Algum marqueteiro com um pouquinho mais de astúcia que o de Serraprecisa explicar ao presidenciável tucano que esta tese da garupa é umtiro pela culatra. As pesquisas, todas elas, mostram claramente que osbrasileiros aprovam o atual governo e creditam à figura do presidenteLula os êxitos alcançados. Portanto, dizer que uma determinadacandidata poderá governar tendo o presidente Lula como conselheiro sópode render votos para esta candidata. É tão óbvio que chega a serrisível ver políticos experientes como Serra repetirem a “tese” dagarupa como se isso fosse tirar votos de Dilma.

Aliás, vale lembrar que o próprio candidato tucano tentou pegar umacarona na “garupa” do presidente Lula ao exibir e elogiar o presidenteem várias peças da campanha de Serra no horário eleitoral gratuito norádio e na TV.

Cláudio Gonzalez

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