Redação Pragmatismo
Política 24/Mai/2017 às 21:54 COMENTÁRIOS
Política

Uma teoria para o golpe de misericórdia da Globo em Temer e Aécio

Publicado em 24 Mai, 2017 às 21h54

A pergunta que todos se fazem e até o momento ainda não foi respondida pelos fatos: “Por que a Globo deu o tiro de misericórdia em Temer e Aécio?”. A pergunta é intrigante porque até o momento todos eles sempre estiveram do mesmo lado da trincheira. Vamos analisar as peças que faltam neste quebra-cabeças

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Michel Temer e Aécio Neves (reprodução)

Vinícius Canhoto, Jornal GGN

Introdução ao Tema

A pergunta que todos se fazem e até o momento ainda não foi respondida pelos fatos: “Por que a Globo, através de seu jornal, deu o tiro de misericórdia em Temer e Aécio?”. Sem dúvida, trata-se de uma pergunta intrigante porque até o momento Temer e Aécio sempre estiveram do mesmo lado da trincheira que a família Marinho. Há peças que faltam para montar este quebra-cabeça. Tentar descobrir as peças que faltam será o exercício deste texto.

Problematização

Uma peça que pode ajudar na montagem para compreendemos o quadro geral está no editorial do dia 19/05/2017 de O Globo. Neste editorial, o jornal que trouxe o escândalo a público propõe a Temer a renúncia como saída para uma queda inevitável. O jornal já antecipou quais serão os mecanismos para derrubá-lo: impeachment ou STF. Não há saída para Temer, apesar de o editorial deixar claro que, este “jornal apoiou desde o primeiro instante o projeto reformista do presidente Michel Temer”.

Por que o jornal deixou de apoiar? A resposta e nossa problematização podem estar neste mesmo parágrafo do editorial: “As reformas são essenciais para conduzir o país para a estabilidade política, para a paz social e para o normal funcionamento de nossas instituições. Tal projeto fará o país chegar a 2018 maduro para fazer a escolha do futuro presidente do país num ambiente de normalidade política e econômica”.

Objetivos: geral e específicos

O objetivo geral das Organizações Globo são as reformas porque, segundo seu jornal, “o projeto é dos brasileiros”. Traduzindo: o objetivo geral da Globo são as reformas trabalhista e previdenciária porque estas subsidiarão o projeto da classe rentista, ou seja, o clássico princípio capitalista: produção social para apropriação privada. O jornal diz que tais reformas são o único caminho que “fará o Brasil encontrar o caminho do crescimento, fundamental para o bem-estar de todos os brasileiros”. A expressão “todos os brasileiros” pode ser facilmente traduzida por 1% da população ou 10 mil famílias que lucram com o capital financeiro.

O objetivo específico que não está mencionado no editorial, mas é facilmente percebido, além das reformas, as Organizações Globo querem manter um status quo com força política não apenas para implementar estas reformas, como condições políticas e um grupo político para mantê-las e perpetuá-las. É neste ponto que Temer e Aécio encontram o caminho que os levam ao pelotão de fuzilamento.

Justificativa

Temer e Aécio tiveram a pena capital decretada não por corrupção, não sejamos ingênuos a este ponto.

Temer, por mais que negociasse com o congresso, por mais que desse ou tirasse cargos, tinha muitas dificuldades para implementar as reformas. A resistência popular demonstrada na Greve Geral, a resistência social dos sindicatos e movimentos organizados, enfraqueciam a possibilidade das reformas. E como Temer não conseguia executar a tarefa que lhe foi dada, havia se tornado descartável.

Aécio não conseguiu ser eleito pela elite em 2014, não conseguiu ser o líder da oposição nos anos seguintes, sofria de um ostracismo cada vez maior, mas, por mais incompetente que fosse ainda mantinha a presidência do principal partido que representa o status quo e o establishment. No entanto, mantê-lo no jogo mais atrapalhava o andamento da partida do que ajudava. Tanto Temer, como Aécio, são torres que poderiam ser sacrificadas para que o jogo não fosse perdido, neste momento um novo jogo dentro do jogo em vigência passa a ser jogado e reorganizado com outras e novas peças.

Hipóteses

O fracasso reformista de Temer e sua crescente impopularidade, não só pela falta de legitimidade do golpe, como a cleptocracia empoderada no seu governo, aliado a economia que não deu sinal de melhora, o aumento do desemprego, os escândalos e a antipatia popular, cada vez mais criavam as condições ideais para o regresso de Lula ao poder. Neste aspecto, Temer estava cada vez mais estabelecendo as bases e solo seguro para o qual Lula passearia fácil para o Planalto.

Aécio, assim como Serra, está doente. O problema de ambos são clínicos, um precisa ser encaminhado a uma clínica geriátrica e outro a uma clínica desintoxicação. Precisava ser tirado de circulação. Um tiro certeiro, que atingiu o seu cérebro e irmã Andréia Neves, foi um tiro de misericórdia. Alckmin é um fraco, deixou-se engolir pelo fake do Dória. E aqui está outro problema para as Organizações Globo.

A Globo não pode e não quer correr o risco de apostar suas fichas no new-Collor. Lembremos que a Globo não queria Dória nem para prefeito de São Paulo. O engoliu a seco. Na política, Dória faz o tipo outsider midiático não global, ou seja, não faz parte do finado “padrão Globo de qualidade”. Em uma eleição presidencial Dória pode incorrer em dois riscos: 1) perder a eleição para o discurso de um Lula ou um Ciro que o taxasse de aventureiro político-midiático; 2) ganhar a eleição e se transformar em um imponderável e incontrolável, como um Trump. As duas hipóteses são demasiado perigosas para a Globo. Portanto, foi necessário cortar na própria carne. Sacrificar Temer e jogar uma pá de cal no PSDB.

Metodologia

As denúncias vinculadas no último dia 17/05 poderiam ser anunciadas da seguinte forma: “Tirem as crianças da sala”.

A PGR mostrou neste jogo onde se separam os adultos das crianças, os homens dos meninos. Enquanto a força-tarefa de Curitiba coleciona tickets de pedágio, prisões irregulares, tentativas de pegadinhas, delações forjadas e contraditórias, que nada mais fazem que acumular nulidades às investigações além de se tornarem alvo do descrédito e ironia popular, a PGR montou uma operação com gravações, fotos, mochilas com chip e dinheiro identificado. Provas materiais que são apresentadas ao público de forma inconteste. Com esta metodologia, a PGR deu uma aula de delação premiada e de produção de provas.

Esta eficiente metodologia, também vazada para Globo, decretou a morte política de Aécio, abatido de imediato e de Temer que já está morto e apenas aguarda o desligamento dos aparelhos.

Custos

A Globo aposta em uma estratégia semelhante ao pós-Collor. Naquele momento, Lula caminhava a passos largos para o Planalto. Itamar não era o presidente dos sonhos, porém promoveu o Plano Real e a gestação de FHC. A mesma estratégia é adotada agora. Para isso, o editorial de O Globo é claro e objetivo: “a Constituição cidadã de 1988 tem o roteiro para percorrê­lo. O Brasil deve se manter integralmente fiel a ela, sem inovações”. O que o jornal da família Marinho quer dizer com isso? Eleição indireta. Ou seja, a Globo quer, junto com o atual congresso nacional, costurar uma candidatura.

A Globo percebeu que Temer “não apressará o projeto de reformas de que o Brasil necessita desesperadamente. Será, isso sim, a razão para que ele seja mais uma vez postergado”. E diz que só “um governo com condições morais e éticas pode levá­lo adiante”. Um novo consenso de Paulista-Leblon se faz necessário. O custo Temer se tornou inviável.

Cronograma

O projeto global do qual estamos tratando aqui necessita, antes de mais nada, enterrar Temer o mais rápido possível, sem velório ou luto, para forjar um “novo Itamar” ou um “novo FHC” para criar uma bolha de otimismo midiático e derrotar Lula nas urnas. O que eliminaria a necessidade de um golpe dentro do golpe. Cármen Lúcia já declinou. Henrique Meirelles pode ser o candidato da ordem para o pós-Temer. Para isso, o cronograma prevê eleições indiretas e acordos de castas, consenso entre as elites, o congresso e o poder judiciário. Agora as Organizações Globo precisam de tempo para reorganizar o jogo e utilizar novas peças, que até agora estão escondidas. Acelerar o jogo para uma eleição direta é um risco que o status quo e o establishment não querem bancar.

Do outro lado da trincheira, o rei vermelho não foi derrubado por um tríplex.

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