Redação Pragmatismo
Ditadura Militar 09/Mar/2017 às 21:33 COMENTÁRIOS
Ditadura Militar

Juiz se baseia em Olavo de Carvalho para rejeitar denúncia de estupro e tortura

Publicado em 09 Mar, 2017 às 21h33

Juiz federal rejeita denúncia do Ministério Público pelo estupro e tortura da única sobrevivente da Casa da Morte. Decisão do magistrado foi inspirada em Olavo de Carvalho

Antonio Waneir Inês camarão Olavo
Imagens: Inês Etienne, na juventude e depois já mais velha. Ao lado, duas fotos do torturador Antonio Waneir. vulgo Camarão

Inspirado em Olavo de Carvalho, um juiz federal rejeitou denúncia contra o ex-militar Antonio Waneir Pinheiro Lima, o Camarão, acusado de tortura e estupro da presa política Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura clandestino da ditadura em Petrópolis, no Rio.

Na sentença, o juiz Alcir Luiz Lopes Coelho disse que o grupo que investiga crimes cometidos na ditadura militar é “um simulacro de tribunal de exceção”.

“Como escreveu Olavo de Carvalho, ninguém é contra os ‘direitos humanos’, desde que sejam direitos humanos de verdade, compartilhados por todos os membros da sociedade, e não meros pretextos para dar vantagens a minorias selecionadas que servem aos interesses globalistas”, afirmou o juiz Alcir Luiz.

Olavo de Carvalho é considerado o ‘guru’ da nova direita brasileira. Residente nos EUA, ele se autointitula filósofo e professor — embora não tenha formação alguma — e já trabalhou como astrólogo.

Celina Romeu, irmã de Inês Etienne, se disse indignada com a decisão da Justiça. “É o velho machismo de sempre. Eles mataram Inês diversas vezes: seu corpo, sua reputação. Agora é a palavra dela que não vale nada”, afirmou. “Quanto ao juiz, tenho pena por ele ser pessoa tão pequena. Ele não julgou uma ação. Tomou uma posição política.”

Para o procurador Sergio Suiama, a sentença é desprovida de sentido e lógica. “Que vantagem ele vê para minorias numa ação sobre estupro? O direito de não ser estuprada? Ele desconsidera e desqualifica a palavra da vítima. Parte da premissa de que o que ela fala não tem valor. E o mais grave é que, ao dizer que ela é uma terrorista, ele assume o discurso de que ‘merecia ser estuprada’”, disse.

Inês Etienne

Em 1969, Inês Etienne foi sequestrada pela ditadura e ficou 96 dias na Casa da Morte, onde foi torturada e estuprada. Militante de VPR, ela foi libertada quando os seus torturadores imaginaram que estava “convertida”.

Após sair da Casa da Morte, Inês ainda cumpriu 8 anos de prisão. Em seguida, dedicou a sua vida a denunciar as atrocidades da ditadura militar. A partir dos seus relatos, foi possível identificar a Casa da Morte em Petrópolis e militares que participaram das torturas, inclusive o coronel Paulo Malhães, o homem que recrutou Camarão, o torturador de Inês.

SAIBA MAIS: Carcereiro da Casa da Morte, Camarão é encontrado pela PF

Inês Etienne morreu em 2015 após sofrer um enfarte. Um ano antes, Paulo Malhães, comandante da Casa da Morte, foi morto em um assalto.

com informações de AE e ABR

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