Redação Pragmatismo
São Paulo 27/Jan/2017 às 12:08 COMENTÁRIOS
São Paulo

João Doria precisa explicar por que mandou tirar cobertores de moradores de rua

Publicado em 27 Jan, 2017 às 12h08

Defensoria pede que Doria explique permissão para que GCM recolha cobertor de sem teto. “É a mesma coisa que você andar com um celular e a polícia exigir que você tenha a nota fiscal para não tomar ele de você”, diz morador de rua

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Sarah Fernandes, RBA

Movimentos de moradores em situação de rua aliados à Defensoria Pública de São Paulo e às Secretarias Municipais de Direitos Humanos e de Prefeituras Regionais vão protocolar um ofício ainda esta semana, cobrando que o prefeito de São Paulo, João Doria Jr., esclareça a alteração no decreto de Fernando Haddad, que permite que a Guarda Civil Metropolitana (GCM) volte a recolher cobertores e colchões dos sem teto da cidade.

Os integrantes do movimento pedem que o prefeito participe da próxima reunião do Comitê Intersecretarial de Políticas Públicas, marcada para daqui a duas semanas, ou que Doria receba representantes do grupo em seu gabinete antes disso. O comitê congrega representantes do poder público, da defensoria e da sociedade civil para discutir políticas públicas para a cidade.

“Com o decreto a GCM pode tirar todos os bens que acharem que é dos moradores de rua, como papelão ou cobertores. É a mesma coisa que você andar com um celular e a polícia exigir que você tenha a nota fiscal para não tomar ele de você”, critica o presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua do Estado de São Paulo, Robson César Correia de Mendonça. “Estamos solicitando uma posição do Doria. Isso é inconstitucional e um grande desrespeito.

A alteração no decreto de Haddad foi publicada no Diário Oficial do município no último dia 21 e retirou o parágrafo que proibia os guardas-civis de retirar cobertores e recolher colchões de pessoas em situação de rua. Em entrevista, Doria disse que o texto “não ficou claro” e que “os guardas não estão autorizados a recolher os pertences porque seria uma desumanidade”.

Segundo o prefeito, a alteração serve “apenas para preservar legalmente o direito da GCM de poder ajudar as secretarias de Desenvolvimento e Assistência Social e de Direitos Humanos e Cidadania para não haver a ilegalidade do ato. Jamais retirar pertences ou cobertores dessa população, mas ajudá-los, auxiliá-los, abrigá-los.”

Em junho de 2016, após uma série de denúncias de que guardas municipais teriam recolhido cobertores e papelões de sem-teto durante frio recorde na cidade, Haddad redigiu o documento em parceria com a Defensoria Pública e com movimentos de pessoas em situação de rua e reforçou a proibição da retirada de pertences pessoais.

Desde então, a prática, que era considerada comum, reduziu, de acordo com o membro da Pastoral do Povo de Rua, padre Júlio Lancelloti. “É uma prática de muitos anos que estava sendo mitigada. No dia 2 de janeiro, no entanto, já houve uma ação na prefeitura regional da Mooca, que ensejou uma reunião com a prefeitura regional, a Secretaria de Assistência Social, com comandante da GCM e todos afirmam que a prática não iria continuar”, disse o padre. “Se isso voltar a ocorrer, vamos cobrar.”

O prefeito de São Paulo não explicou por que retirou do decreto o trecho que proibia o recolhimento de “itens portáteis de sobrevivência”, como cobertores e colchões, após ser questionado pela imprensa em uma visita à Vila Maria, na Zona Norte de São Paulo, durante a Operação “Mutirão Mário Covas – Calçada Nova”, realizada no domingo (22).

O novo decreto mantém a proibição de que os guardas apreendam bens pessoais, como documentos e mochilas, além de instrumentos de trabalho, como carroças. O novo texto mantém a autorização de retirada de objetos “que caracterizem estabelecimento permanente em local público”, como camas e barracas.

Achamos uma atitude ditatorial alterar uma medida assim, sem consultar os criadores do decreto, que fomos nós e a Defensoria Pública”, diz Mendonça. “Uma medida como essa pode se refletir até em lutas corporais dos moradores de rua com os guardas. Eles vão retirar o único pertence que eles possuem, que é um cobertor”, lamentou.

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