Marcos Taquechel
Colaborador(a)
EUA 02/Ago/2016 às 15:25 COMENTÁRIOS
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Qual o significado de uma presidência Donald Trump na América do Norte e no Brasil?

Marcos Taquechel Marcos Taquechel
Publicado em 02 Ago, 2016 às 15h25
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Donald Trump (reprodução)

por Marcos Taquechel*

É fato que na história política dos Estados Unidos, nunca houve um candidato como Donald J.Trump. Biliardário, criado no mundo dos negócios imobiliários paterno e celebridade de reality TV tornou-se fenômeno internacional de mídia. Porem na política assim como em sua carreira profissional demonstra total desprezo pelas normas estabelecidas. Trump é como uma locomotiva fora de controle em alta velocidade que ninguém consegue frear. Seu aparecimento no cenário político americano é algo sem paralelo, perigoso e, portanto, merecedor de atenção. Trump usa a retórica do medo, assim como usaram Mussolini e Hitler. Está dando certo devido ao momento sócio político que a América do Norte e boa parte do mundo atravessam. Sua possibilidade de ganhar é grande, principalmente tendo em vista que Hilary Clinton, sua oponente democrata, não é muito popular junto ao eleitorado milenials, ou seja, o grupo na faixa etária dos 20. As consequências para o Brasil e o mundo, de uma possível presidência Trump são imprevisíveis. Seus comícios as vezes parecem ser de um programa de trash TV ou de comedia. Mas quem é na verdade Donald Trump?

Antes de mais nada Trump é uma celebridade; figura frequente nos talk shows americanos e conhecido mundialmente pelo seu programa de TV, The Apprentice. Trump virou é um ícone do modelo do homem de sucesso que os americanos idealizam e adoram. Ele lembra a versão adulta do riquinho rico, o antigo personagem das histórias em quadrinho. Sob esse ponto de vista o sucesso de Trump é indiscutível. Porém como o self made man há muito o que questionar.

Trump nasceu na riqueza e com privilégios. Seu pai Fred C. Trump deixou para Donald uma fortuna estimada em 300 milhões de dólares em 1999. Duvida-se se Trump fez realmente algum dinheiro com seu próprio mérito. Grande parte do seu sucesso foi herdado do pai em forma de credibilidade financeira proporcionando-lhe amplo crédito e abrindo portas para empréstimos milionários.

O mais correto seria dizer que o seu mérito foi a de marqueteiro com a criação da marca registrada informal “Trump” vendida às empresas em busca de reconhecimento e prestígio. O nome Trump em letras garrafais e letreiros luminosos está associado com o seu prestigio, mas também à sua irreverência. Agora ele descobriu a mesma formula na política.

Ainda assim a performance de Trump neste ano eleitoral é algo inexplicável, e jamais visto. Todas as convenções politicas conhecidas foram subvertidas. O que funcionava tradicionalmente não deu resultado, vide o completo fracasso de Jeb Bush o irmão de George Bush que gastou US $130 milhões em sua campanha sem obter nenhum sucesso. Foi um dos primeiros candidatos republicanos a perder, e bem cedo, a corrida. Trump foi grosso, humilhou outros candidatos, chamou Michael Rubio de baixinho, comentou até sobre o tamanho de seu próprio pênis na puritana América do Norte sem dar o menor problema. Quebrou todas as regras de conduta, apostou tudo como em um de seus cassinos e acertou o jackpot. Disse até que se matasse alguém na rua não faria a menor diferença e o povo aplaudiu como num espetáculo de terror onde as pessoas hipnotizadas e possuídas por forças estranhas agiam como zumbis.

Reacionários, incendiários e racistas amam o seu discurso, mas os sensatos e que (espero eu) ser a maioria dos americanos, veem isso como as trombetas do apocalipse. A mídia que antes fazia piadas dele agora se assusta, mas nada consegue fazer para estancar a hemorragia Tramp.

A quantidade de artigos anti Trump é simplesmente de tirar o fôlego. Na internet, TV, shows de cômicos, jornais, e todos os canais de média americanos não se fala em outra coisa. Do alto de sua torre de marfim em Manhattan, Trump sorri e constata que sua estratégia de tocar a política como se fosse um reality show dá samba! O Trumpshow ganha solidez, o que pode se evidenciado pela sua nominação oficial como candidato final do partido republicano. A população democrata fica estupefata sem saber o que fazer ou dizer. Sua retórica do medo é motivo de preocupação mas poderia Trump estar blefando?

Blefe ou não, sua candidatura já causa reis transtornos à sociedade americana. Seus comícios são marcados por socos e pontapés e violência generalizada. Espectadores de que se opõem são retirados a força e agredidos. Trump promove a violência elogiando àqueles que esbofeteiam a inconveniente dissidência. Ele constrói a falsa imagem de que o respeito democrático pela opinião alheia é o que está errado com a América atual, e promete “trazer de volta a américa como era antes” (MakeAmericaGreatAgain) onde a oposição pode ser esmagada pela truculência do mais forte. Na verdade, uma América que nunca existiu, mas a fantasia a La Tramp é facilmente vendável. O momento político atual ajuda o candidato.

Com a crescente fobia muçulmana no mundo, Trump capitaliza o ódio e o repudio aos imigrantes mexicanos e muçulmanos. O que mais atemoriza é que Trump encobre uma das piores faces da sociedade americana. O xenofobismo, racismo, autoritarismo e violência. Seus comentários inflamados e genéricos são de fácil aceitação pela população de nível educacional baixo. Seu maior apoio vem dos brancos que perdem seu lugar na classe média e são vítimas da globalização.

Também são seduzidos por seu linguajar claro, simples e direto. Trump é um mestre com as palavras e é tido como “um cara do povo”. Tudo isso ocorre velozmente em um cenário político progressivamente instável. Trump sinaliza uma possível virada política para a extrema direita, onde ele é apenas um sintoma e não a causa. Quais são as reais possibilidades de um governo Trump e o que isso significaria para os Estados Unidos e para o Brasil?

A possibilidade de uma vitória Trump é real e palpável, especialmente porque Hilary Clinton oscila nas pesquisas mostrando quase um empate virtual. Todos aqueles que previam a queda de Trump em sua ascensão política erraram, e todas as previsões de que ele não vai ganhar em dezembro também podem ir pelo mesmo caminho. Outros acontecimentos coadjuvantes assim como o Brexit sugerem que uma vitória Trump é possível.

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O mundo passa por uma fase de radicalização, uma resposta direta ao medo? Atentados terroristas, temor de um mundo cada vem mais incontrolável onde desastres sociais e ecológicos ocorrem a nossa frente como nos filmes de Hollywood. A internet e a mídia social relatam os fatos com a velocidade da luz. O mundo torna-se mais consciente de tudo que ocorre a cada canto. Vídeos são remetidos à rede minutos após fatos terem ocorrido. As dimensões, consequências e efeitos psicológicos produzidos por essas transformações são ainda desconhecidos mas fazem parte desse cenário. O quadro geral aponta para um futuro sombrio e um governo Trump faz parte disso.
Uma América do Norte governada por Trump certamente traria uma reação mundial violenta da mesma forma que ele causa reação interna agora. É difícil, contudo ver o que é real e o que é fantasioso no show de Trump. É possível que sua retórica seja apenas um teatro usada para se eleger. O Trump real pode ser outro, menos odioso e que assumira a política sem grandes fanfarronadas. Ainda assim mesmo se Trump for apenas um megalomaníaco narcisista, isto não oferece muito conforto. Ele poderá governar do banco detrás o que também não seria bom.

Como ele mesmo anunciou quer que seu vice Mike Pence se encarregue da legislação e procedimentos de governo. Trump ficaria como CEO (Chief Executive Officer) do pais assim como faz com seu conglomerado de empresas tratando o governo como mais uma delas. Isso traz um novo problema pois Pence é considerado como um dos maiores conservadores de direita que existem nos E.U. e sua ideologia, é mais assustadora e reacionária do que a de Trump.

De uma forma ou de outras suas medidas protecionistas e radicais iriam no mínimo abalar os mercados mundiais por algum tempo. Mas no que se resume a política externa de Donald Trump? Radical seria um termo correto mas temos que acrescentar também a expressão sem precedentes.

Embora a agenda política internacional de Trump tenha sido anunciada informalmente em entrevistas, pouco foi dito como seria implementada na prática. O problema é que Trump muda de ideia frequentemente tornando-se difícil decifrar o que ele realmente pensa e quer. O que é fácil de constatar é a sua total incapacidade para projetar uma agenda, seja ela qual for.

Suas conjecturas políticas são primarias e mudam constantemente de direção. Sua visão da política externa é movida por um princípio básico: a de que os Estados Unidos estão levando a pior em tudo, sendo a única solução negociar duro tendo a América do Norte como epicentro. Nada muito diferente do que é agora, apenas um exagero no estilo Trump.

Trump promete incrementar o comercio com o Canada e México desativando a NAFTA (North American Free Trade Agreement). Ao mesmo tempo quer acabar com a NATO (North Atlantic Trade Organizations). Diz que não irá socorrer os países bálticos se fossem atacados pela Rússia. Posturas como esta não promovem a estabilidade entre aliados. A provocação de líderes como Putin declarando que não irá haver conversação nem flexibilidade nas questões entre eles é uma péssima estratégia política que só gera hostilidade.

O grande problema é que Trump, ou não entende isso ou simplesmente não se importa com o seu próprio discurso. Há os que dizem que isso faz pouca diferença pois ele terá seus consultores. Mas o procedimento a ser usado é o mais esdrúxulo possível. Estes aguardam o pronunciamento de Trump sobre política externa e após ouvi-lo definem a agenda a partir do que ele disse. Em qualquer país sério a definição de uma agenda internacional é primeiro criada e depois apresentada ao presidente. Trump aparenta ignorar as implicações de seus pronunciamentos. Garante que suas ideias políticas vão dar certo e apresenta como comprovação simplesmente a frase trust me (confie em mim). E o Brasil neste cenário?

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Trump acredita que os países Latino Americanos tiram proveito e abusam dos Estados Unidos da América. Mas suas considerações param aí. Não elabora exatamente como países como o Brasil, por exemplo, se aproveitam dos Estados Unidos. Se o governo Trump vai ser positivo ou perigoso para o Brasil ainda é difícil saber. O que podemos afirmar, com certeza, é que o perigo maior reside no fato de a nação mais poderosa do planeta possa estar prestes a ser dirigida por um personagem de um reality show.

*Marcos Taquechel escreve sobre saúde e mídia e colaborou para Pragmatismo Político

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