Redação Pragmatismo
Economia 06/Mai/2016 às 11:52 COMENTÁRIOS
Economia

Períodos de recessão econômica são tempos que criam monstros

Publicado em 06 Mai, 2016 às 11h52

Períodos de recessão econômica não são tempos revolucionários, e sim "tempos que criam monstros". No Brasil, isso já pode ser notado quando as pesquisas de intenção de voto mostram o crescimento de um candidato que faz apologia pública à tortura. A análise é de Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo

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Laura Carvalho cita frase de Yanis Varoufakis (foto), ex-ministro das Finanças da Grécia: “Períodos de recessão criam monstros“ (reprodução)

Jornal GGN

Laura Carvalho, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, comenta a recente fala de Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, que disse que períodos de recessão econômica não são tempos revolucionários, e sim “tempos que criam monstros“. A professora cita uma pesquisa dos economistas Hans Grüner e Markus Brückner, que aponta uma relação entre a queda do crescimento econômico e o aumento na participação de partidos de extrema direita no total de votos.

O Brasil não foge à regra quando as pesquisas de intenção de voto mostram o crescimento de “um candidato que faz apologia pública à tortura“, diz ela. Para a professora, a opção por implementar políticas recessivas pode levar não só ao agravamento da recessão, mas também para o aumento da intolerância e do enfraquecimento da democracia.

O mar está para monstros
Laura Carvalho, Folha

Quando indagado sobre o espaço aberto por crises econômicas para o fortalecimento do campo progressista, Yanis Varoufakis, em palestra proferida na segunda-feira (25) na New School, em Nova York, foi categórico: “Tempos de grave recessão não são tempos revolucionários, são tempos que criam monstros“.

A resposta pode à primeira vista parecer contraditória com a sua própria experiência recente enquanto ministro da Fazenda da Grécia por um partido de esquerda que deve boa parte de sua existência –e certamente de sua vitória nas urnas– à grave crise que assola o país. Quiçá o fracasso de Varoufakis nas negociações com a “troica” formada por União Europeia, Banco Central Europeu e FMI tenha lhe tirado o que lhe restava de otimismo.

O estudo dos economistas Hans Grüner e Markus Brückner, realizado a partir de dados de 16 países da OCDE entre 1970 e 2002, parece dar razão a Varoufakis quando conclui que uma redução de 1% na taxa de crescimento econômico tende a elevar em 1% a participação dos partidos de extrema direita no total de votos. O crescimento recente nas pesquisas de intenções de voto de um candidato que faz apologia pública à tortura sugere que o Brasil não foge à regra.

No livro “The Moral Consequences of Economic Growth“, o professor de economia política de Harvard Benjamin Friedman parte de vasta evidência histórica para defender que o crescimento econômico não é um facilitador apenas de melhorias materiais, mas também da liberdade, da tolerância, da justiça e da democracia. A estagnação e a prosperidade mal distribuída, ao contrário, tenderiam a fomentar o aumento da violência e o surgimento de ditaduras.

Friedman trata, no entanto, de uma importante exceção à regra. Nos anos de 1930, os Estados Unidos conseguiram fortalecer os valores democráticos em meio à Grande Depressão. O autor atribui essa sorte ao New Deal do presidente Roosevelt, que qualifica como uma tentativa de “espalhar a oportunidade econômica o mais amplamente possível”. Considera que, em vez de procurar “bodes expiatórios para excluir”, o caminho escolhido foi “deliberadamente pluralista e inclusivo”, com o objetivo não somente de restaurar a prosperidade econômica mas de criar maior igualdade de oportunidades.

Ainda que hipóteses históricas nunca sejam universais, como apontou o historiador Alexandre Gerschenkron, a opção por não realizar uma reforma tributária e por abandonar os investimentos públicos em prol da implementação de políticas recessivas e excludentes –no governo Dilma Rousseff e, mais ainda, em um eventual governo Temer sem legitimidade– parece, no caso brasileiro, nos tirar do caminho da exceção e nos colocar na espiral descendente do agravamento da crise econômica, do aumento da intolerância e do enfraquecimento da democracia.

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