Leonardo Boff
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opinião 03/Mar/2016 às 16:22 COMENTÁRIOS
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Leonardo Boff: Dez direitos da dimensão do coração

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Publicado em 03 Mar, 2016 às 16h22

Em tempos de discórdia e inúmeros conflitos, confira dez impressões sobre a dimensão do coração e cinco recomendações a reforçar o amor

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Leonardo Boff*

Atualmente se constata fecunda discussão filosófica sobre a necessidade do resgate da razão cordial, como limitação da excessiva racionalização da sociedade e como enriquecimento da razão instrumental-analítica que, deixada em livre curso, pode prejudicar a correta relação para com a natureza que é de pertença e de respeito a seus ciclos e ritmos.

Elenquemos aqui alguns direitos da dimensão do coração:

1. Proteja o coração, que é o centro biológico do corpo humano. Com suas pulsações irriga com sangue todo o organismo, fazendo com que viva. Não o sobrecarregue com demasiados alimentos gordurosos e bebidas alcoólicas;

2. Cuide do coração. Ele é o nosso centro psíquico. Dele sai, como advertiu Jesus, todas as coisas boas e ruins. Comporte-se de tal maneira que ele não precise se sobressaltar face aos riscos e perigos. Mantenha-o apaziguado com uma vida serena e saudável;

3. Vele seu coração. Ele representa a nossa dimensão do profundo. Nele se manifesta a consciência que sempre nos acompanha, aconselha, adverte e também nos pune. No coração brilha a centelha sagrada que produz em nós entusiasmo. Esse entusiasmo filologicamente significa ter um “Deus interior” que nos aquece e ilumina. O sentimento profundo do coração nos convence de que o absurdo nunca vai prevalecer sobre o sentido;

4. Cultive a sensibilidade, própria do coração. Não permita que ela seja dominada pela razão funcional. Mas componha-se com ela. É pela sensibilidade que sentimos o pulsar do coração do outro. Por ela intuímos que também as montanhas, as florestas, os animais, o céu estrelado e o próprio Deus têm um coração pulsante. Por fim, damo-nos conta de que há um só imenso coração que bate em todo o universo;

5. Ame seu coração. Ele é a sede do amor. É o amor que produz a alegria do encontro entre as pessoas que se querem e que permite a fusão de corpos e mentes numa só e misteriosa realidade. É o amor que produz os milagres da vida pela união amorosa dos sexos e ainda a doação desinteressada, o cuidado dos mais desvalidos, as relações sociais includentes, as artes, a música e o êxtase místico que faz a pessoa amada fundir-se no Amado;

6. Tenha um coração compadecido que sabe sair de si e se colocar no lugar do outro para com ele sofrer e carregar a cruz da vida, e também juntos celebrarem a alegria;

7. Abra o coração para a carícia essencial. Ela é suave como uma pena que vem do infinito e nos dá a percepção, pelo toque, de sermos irmãos e irmãs e de pertencermos à mesma família humana, habitando a mesma Casa Comum;

8. Disponha o coração para o cuidado que faz o outro importante para você. Ele cura as feridas passadas e impede as futuras. Quem ama cuida e quem cuida ama;

9. Amolde o coração para a ternura. Se quiser perpetuar o amor, cerque-o de enternecimento e de gentileza;

10. Purifique dia a dia o coração para que as sombras, o ressentimento e o espírito de vingança que também se aninham no coração nunca se sobreponham à bem-querença, à finura e ao amor. Então ele pulsará no ritmo do universo e encontrará repouso no coração do Mistério, aquela Fonte originária de onde tudo procede e que nós chamamos simplesmente de Deus.

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Têm sentido estas cinco recomendações que reforçam o amor:

1. Em tudo o que pensar e fizer coloque coração. A fala sem coração soa fria e institucional. Palavras ditas com coração atingem o profundo das pessoas. Estabelece-se então uma sintonia fina com os interlocutores ou ouvintes que facilita a compreensão e a adesão;

2. Procure, junto com o raciocínio articulado, colocar emoção. Não a force, porque ela deve espontaneamente revelar a profunda convicção daquilo que crê e diz. Só assim chega ao coração do outro e se faz convincente;

3. A inteligência intelectual fria, com a pretensão de tudo compreender e resolver, gera uma percepção racionalista e reducionista da realidade. Mas também o excesso da razão cordial e sensível pode decair para o sentimentalismo adocicado e para proclamas populistas que afastam as pessoas. Importa sempre buscar a justa medida entre mente e coração, mas articulando os dois polos a partir do coração;

4. Quando tiver que falar a um auditório ou a um grupo, procure entrar em sintonia com a atmosfera ai criada. Ao falar, não fale só a partir da cabeça mas dê primazia ao coração. É ele que sente, vibra e faz vibrar. Só são eficazes as razões da inteligência intelectual quando elas vêm amalgamada pela sensibilidade do coração;

5. Crer não é pensar Deus. Crer é sentir Deus a partir do coração. Então nos damos conta de que sempre estamos na palma de sua mão e que uma Energia amorosa e poderosa nos ilumina e aquece, e preside os caminhos da vida, da Terra e do inteiro universo.

*Leonardo Boff é teólogo, filósofo, professor, ecologista e escritor

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