Redação Pragmatismo
Política 30/Dez/2015 às 10:55 COMENTÁRIOS
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Empresária explica por que deixou de apoiar o impeachment de Dilma

Publicado em 30 Dez, 2015 às 10h55

Empresária que já contribuiu financeiramente com grupos que reivindicam o impeachment de Dilma Rousseff conta por que mudou de opinião

Rosangela Lyra empresária impeachment Dilma
A empresária Rosangela Lyra

Presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, a empresária Rosangela Lyra trocou de batalha.

Ex-militante pró-impeachment da presidente Dilma Rousseff, ela agora quer que o País se torne livre de corrupção.

Em depoimento à Folha de S.Paulo, ela afirmou que chegou a fazer parte de três movimentos que pede o afastamento da presidente, o Vem Pra Rua, o Acorda Brasil e o Movimento Brasil Livre, mas que, hoje, quer eu foco é coletar assinaturas para um projeto de lei patrocinado pelo Ministério Público com foco no combate à corrupção.

“Hoje, para mim, passar o Brasil a limpo é mais importante que tirar o PT na marra”, disse.

Confira abaixo a íntegra do seu depoimento:

No início do ano, pensava que seria possível uma renúncia da presidente Dilma. Falava-se muito da possibilidade de ter havido fraude na reeleição, a economia estava com uma perspectiva muito ruim, o desemprego estava crescendo e havia erros de gestão. Queria que ela saísse.

Na eleição, Eduardo Campos era a minha opção. Quando ele faleceu, eu comecei a apoiar a Marina e colaborei um pouco com a campanha. Marina foi desconstruída pelo marketing do PT. No momento em que ela apoiou o Aécio, fiz o mesmo, porque eu não queria a Dilma.

Em agosto de 2014, comecei a fazer o Política Viva [encontros em que convidados debatem o cenário nacional]. Me envolvi mais abertamente com política.

Anteriormente, já havia ajudado a campanha de 2004 do ex-prefeito José Serra (PSDB) e fiz um jantar para arrecadar fundos para a campanha de 2010 do governador Geraldo Alckmin (PSDB). Não tenho simpatia pelo PT.

A convite dos fundadores do Vem Pra Rua, fiz parte do movimento deles por dois meses. Algumas pessoas saíram e montaram o Acorda Brasil. Minha passagem por lá foi mais no sentido de entender o que eles queriam do que de efetivamente participar. Também arrecadei fundos para o MBL (Movimento Brasil Livre) na marcha que eles fizeram para Brasília.

Pensei: “São jovens que querem mudar o Brasil”. Eu não tinha visto tanto radicalismo naquele momento.

É mais fácil você criar um rótulo e sair atacando. Como posts de raiva geram mais “likes”, alguns movimentos põem um post de raiva e todo mundo concorda, comenta com emoticons de palminha, beijinho, bandeirinha.

No primeiro semestre, o Ministério Público me convidou a encabeçar um movimento junto aos lojistas, ao comércio aqui da região. Divulguei muito as 10 Medidas [conjunto de propostas do Ministério Público contra a corrupção]. Sacrifiquei horas de almoço, noite e fins de semana para coletar assinaturas.

Das 75 mil assinaturas que o nosso grupo, chamado Força-Tarefa das 10 Medidas, coletou até o dia 9 de dezembro, só metade fomos nós que colhemos. O resto foram os multiplicadores. Distribuímos mais de 5.000 kits com 64 fichas cada um. Por isso ganhei uma homenagem do Ministério Público.

Meu ponto de virada foi quando eu percebi a importância da Lava Jato e a não interferência da presidente. A gente se acostumou a mudar os personagens da história, e não o enredo. Prefiro mudar o enredo. Tem que pegar os corruptos, seja do PT, do PMDB, do PSDB, do PP.

Esse meu posicionamento vai ao encontro do que pensam os investigadores da Lava Jato. Na última coletiva, perguntaram se havia interferência do governo na operação. Os investigadores disseram que não havia. Poderiam ter se esquivado ou respondido com menos ênfase, mas foram categóricos.

Se a Lava Jato tem hoje o peso que tem, foi porque Dilma sancionou a lei que prevê a delação premiada e deixa a operação funcionar. Quem iria para a rua quando começassem as canetadas, as pessoas sendo soltas?

A Itália, na Operação Mãos Limpas, também prendeu poderosos, políticos e empresários. Mas, como não aproveitou aquele momento para fazer as reformas, entrou o Silvio Berlusconi [ex-premiê].

Escuto a explicação “um de cada vez” para justificar a saída da Dilma primeiro, mas não é assim no mundo real, você não tira dois presidentes do poder no mesmo ano.

Esse próximo presidente, independente de quem fosse, teria todos os poderes para desconstruir a Lava Jato.

Hoje, para mim, passar o Brasil a limpo é mais importante que tirar o PT do poder na marra. Eu não consigo ver as duas coisas –o impeachment e a ascensão de um político com discurso de unificação e com interesses políticos contrários à Lava Jato– possibilitando essa limpeza.

Eu chamo de evolução de posicionamento, não de mudança. As pessoas me escrevem: “Para com essa posição de ir contra o impeachment, você está queimando sua imagem”. Alguns me acusam de estar levando dinheiro do PT. Eu digo que o tempo vai corrigir qualquer distorção que eles estejam vendo.

Quando alguém diz que a Justiça e a Procuradoria só prendem gente do PMDB, e não do PT, eu pergunto: “Vocês esqueceram que João Vaccari Neto, José Dirceu e Delcídio do Amaral estão presos?”. Eles põem em dúvida a idoneidade da Procuradoria-Geral da República.

Que Dilma continue deixando a Lava Jato adquirir cada vez mais corpo e que ela enrole todos aqueles que fazem pressão para demitir o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que notadamente não interfere.

Tenho a humildade de ter mudado de opinião, por que não é fácil mudar. E tenho muita confiança de que é pelo bem do país.

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