Redação Pragmatismo
Educação 27/Out/2015 às 10:22 COMENTÁRIOS
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Questão do Enem sobre Simone de Beauvoir irrita Feliciano e Bolsonaro

Publicado em 27 Out, 2015 às 10h22

Jair Bolsonaro e Marco Feliciano reclamam de "doutrinação explícita" no ENEM 2015. Parlamentares ficaram irritados com citação da filósofa francesa Simone de Beauvoir na prova

Bolsonaro Feliciano Simone

Os deputados federais Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Marco Feliciano (PSC/SP) usaram as redes sociais para atacar uma das questões do primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), realizado no sábado (24), em todo o País.

Em comentários postados ao longo do fim de semana, os parlamentares, que compõem as bancadas evangélicas e mais conservadoras do Congresso Nacional, expuseram repúdio ao fato de uma das questões da prova ter trazido uma frase da filósofa feminista Simone de Beauvoir, e chamaram a escolha de doutrinação ideológica por parte do governo Dilma Rousseff.

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino”, trazia a questão, amplamente divulgada por políticos ligados a igrejas evangélicas no País – não só deputados federais, mas também de deputados estaduais e vereadores.

“Mais ou tão grave quanto a corrupção é a doutrinação imposta pelo PT junto à nossa juventude. O sonho petista em querer nos transformar em idiotas materializa-se em várias questões do ENEM (Exame Nacional do Ensino MARXISTA)”, escreveu Bolsonaro. “Essa canalhada deverá ser extirpada do poder em 2018 com o VOTO IMPRESSO, ou antes, da mesma forma como o Congresso, em 02 de abril de 1964, cassou o comunista João Goulart.”

“Esta frase da filósofa Simone de Beauvoir é apenas opinião pessoal da autora, e me parece que a inserção desse texto, uma escolha adrede, ardilosa e discrepante do que se tem decidido sobre o que se deve ensinar aos nossos jovens”, atacou o também deputado Feliciano, pré-candidato à Prefeitura de São Paulo. Ele citou o fato de a chamada “ideologia de gênero” – proposta em planos munipais e estaduais de Educação para que sejam debatidos nas escolas temas como machismo, homofobia, entre outros – ter sido derrubada por legisladores de todo o País ao longo dos últimos meses, o que, para ele, preservaria as crianças.

Elogios

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, rebateu os deputados em entrevista coletiva na noite do último domingo (25). Segundo o ministro, a escritora e filósofa teve “grande contribuição” sobre a condição da mulher na sociedade. Ele lembrou que, no passado, as mulheres não podiam votar e eram consideradas incapazes, sem direitos. “Esse é o contexto do debate. Pessoas podem divergir. Na educação, tem de estar aberto a discutir, a aceitar”, declarou.

Mercadante acrescentou que não teve acesso às questões antes da prova, por conta do sigilo imposto. “A prova é feita com total sigilo, eu só descobri o tema da redação no exato momento em que ele foi divulgado para vocês. São pesquisadores, professores universitários de competências reconhecidas nas suas áreas.”

Sobre o tema da redação, que abordou a violência contra as mulheres, ele afirmou que é um assunto importante e que ainda está presente na sociedade brasileira. Ele disse ainda que achou o tema “excelente” para que os mais de sete milhões de participantes reflitam sobre isso. “Em relação ao tema da redação, é inquestionável. Somos uma sociedade em que ainda há muita violência contra a mulher”, disse ele.

“Eu achei uma excelente escolha, defendo completamente a prova, estão de parabéns os que o fizeram. Quem sabe debatendo essa questão a gente consiga diminuir a violência, vai ser um grande avanço para a sociedade brasileira”, concluiu.

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