Redação Pragmatismo
Racismo não 31/Jul/2015 às 10:26 COMENTÁRIOS
Racismo não

Câmera do uniforme derruba versão de policial que matou homem negro

Publicado em 31 Jul, 2015 às 10h26

Não fosse pela câmera que policiais nos EUA têm em seus uniformes, o agente que matou Samuel DuBose com um tiro na cabeça teria ficado impune. A morte ocorreu há dez dias e se soma à série de casos de homens negros mortos por policiais brancos naquele país

policial mata homem negro eua camera
Imagens de câmera em uniforme derrubaram argumento de policial

Não fosse pela câmera que alguns policiais dos Estados Unidos têm em seus uniformes, o agente que matou Samuel DuBose com um tiro na cabeça teria ficado impune, segundo a família da vítima.

O oficial Ray Tensing, da polícia da Universidade de Cincinnati (Ohio), matou DuBose depois de pará-lo nas proximidades do campus ao ver que seu carro estava sem placa dianteira.

A morte ocorreu há dez dias e se soma à série de casos de homens negros mortos por policiais brancos nos EUA.

Tensing afirmou que DuBose, de 43 anos, o arrastou com seu veículo ao tentar escapar da abordagem.

O advogado dele, Stew Mathews, afirmou que o agente, de 25 anos e quatro de experiência, temia por sua vida. “Ele achou que DuBose ia atropelá-lo”, disse.

Mas o vídeo, gravado por um câmera no uniforme de Tensing e divulgado nesta quarta-feira, parece contradizer a versão do policial.

As imagens mostram a conversa – inicialmente em tom cordial – que os dois mantiveram quando o agente pediu que DuBose parasse o veículo.

O policial pede sua carteira de motorista e DuBose afirma que não está com ela, mas afirma que tem permissão para dirigir.

Depois o agente pede a DuBose que tire o cinto de segurança e saia do carro. Ele se aproxima da porta e faz menção de abri-la.

O motorista segura a porta, reclama que não fez nada e liga o motor. Põe o veículo em marcha. Ouve-se um disparo.

Ray Tensing dubose homem negro
O policial Ray Tensing

O veículo avança uns metros e é possível ouvir quando ele se acidenta, fora do plano, enquanto Tensing corre até ele. DuBose foi declarado morto no local.

Tensing foi acusado de homicídio. Ele pode ser condenado à prisão perpétua.

“Isso, sem nenhuma dúvida, é um homicídio”, disse o fiscal do condado de Hamilton (Ohio), Joe Deters, em entrevista.

“Ele não fez nada violento contra o policial. Não estava sendo arrastado, mas sacou sua arma e disparou contra a cabeça [de Tensing].”

A família de DuBose e organizações de direitos civis haviam pedido a divulgação das imagens da câmera.

Terina Allen, sua irmã, disse à imprensa que, sem o vídeo, a morte de seu irmão teria sido descrita como “justificada” e outros oficiais teriam corroborado a versão de Tensing.

“Meu irmão seria outro esteriótipo e isso não vai acontecer”, disse. “Sabíamos que o vídeo ia inocentar meu irmão.”

A morte de DuBose é a mais recente de uma série de casos em que cidadãos negros foram mortos sob custódia policial ou durante a prisão.

As mortes de Eric Garner, um vendedor ambulante em Nova York, e do jovem Michael Brown, em Ferguson (Missouri) provocaram indignação da comunidade negra e protestos depois que os policiais suspeitos em ambos os casos escaparam de indiciamentos.

O caso de DuBose reavivou o debate sobre a necessidade de a polícia de todo o país ter câmeras em seus uniformes.

Uma medida que foi solicitada por ativistas e a qual o presidente Barack Obama se mostrou favorável, mas que, para alguns, envolve dilemas legais sobre a privacidade.

homem negro assassinado policial eua
Família de DuBose diz que, sem câmera, policial ficaria impune

“Podemos dizer seguramente que este caso vai ajudar a causa das câmeras policiais em todo o país”, disse o prefeito de Cincinnati, John Cranley.

O professor de Direito Penal da Universidade de Cincinnati John Eck disse ao jornal New York Times que era cético quanto ao uso da ferramenta, mas que o caso tinha feito com que mudasse de opinião.

Em abril, na Carolina do Sul, o agente Michael Slager disparou e matou Walter Scott, também negro, alegando que ele havia roubado sua arma de descarga elétrica – outro agente confirmou a versão.

O incidente começou depois que Scott foi detido porque o farol traseiro de seu carro não funcionava.

Mas o vídeo de uma testemunha que passava pelo local contradisse sua versão ao mostrar que, após uma breve troca de palavras com o agente, Scott começou a correr e a polícia atirou em suas costas.

Slager foi acusado, em junho, de assassinato.

BBC

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook

Recomendações

COMENTÁRIOS