Nicolas Chernavsky
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Democratização Comunicação 13/Abr/2015 às 18:07 COMENTÁRIOS
Democratização Comunicação

3 princípios para financiar o jornalismo na Internet

Nicolas Chernavsky Nicolas Chernavsky
Publicado em 13 Abr, 2015 às 18h07

No texto abaixo estão as justificativas, mas os 3 princípios propostos seriam: 1) todo o conteúdo produzido é público, sem necessidade de pagar para se ter acesso ou reproduzir. 2) o retorno financeiro pelo trabalho jornalístico vem através de colaborações de um valor baixo e único periódico, no máximo algo como 10 reais mensais por pessoa. 3) o meio de comunicação jornalístico dá um feedback informando o número de colaboradores financeiros.

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Nicolas Chernavsky*

Hoje em dia há uma infinidade de jornalistas e meios de comunicação no Brasil e no mundo tentando implementar uma forma de financiar o jornalismo na Internet. Alguns têm mais sucesso nisso, outros têm menos. Existem aqueles que apostam na publicidade, aqueles que tentam algum tipo de crowdfunding (financiamento por multidões), aqueles que tentam conciliar os dois sistemas, e também aqueles que acham que o Estado deveria prover o financiamento, os quais muitas vezes também tentam implementar publicidade e/ou crowdfunding. Este artigo se destina a propor 3 princípios simples para a implementação de um tipo de crowdfunding. É claro que além destes princípios, é precondição que o conteúdo jornalístico gere considerável interesse social. Mas uma vez conseguido isso, é preciso ter retorno financeiro, pois há muito trabalho realizado. Vamos aos três princípios que proponho e suas justificativas.

1) Todo o conteúdo produzido é público, sem necessidade de pagar para se ter acesso ou reproduzir.

A Internet provocou uma enorme mudança estrutural na estrutura de custos dos meios de comunicação jornalísticos. Para dar um exemplo, antes da Internet, o tradicional jornal impresso, além de uma redação, precisava de sistemas de impressão e distribuição. Hoje em dia, com a Internet, basicamente basta uma redação. É claro que é preciso ter um certa estrutura de informática, mas o custo é muito menor do que com a impressão e a distribuição do jornal. Assim, como o custo de levar a notícia para as pessoas caiu muito com a Internet, podendo o material jornalístico chegar a milhões e milhões de pessoas com um custo relativamente baixo, remover travas para o espalhamento das notícias acaba contribuindo para se utilizar este potencial de redução de custo da Internet. Além disso, a facilidade para se reproduzir os conteúdos jornalísticos em muitos sites também coloca a liberdade de reprodução sem custo como uma forma de se aproveitar essa fantástica inovação tecnológica que é a Internet. Mas então como se obter retorno financeiro? Vamos aos próximos dois princípios.

2) O retorno financeiro pelo trabalho jornalístico vem através de colaborações de um valor baixo e único periódico, no máximo algo como 10 reais mensais por pessoa.

Um valor baixo e único permitiria que o colaborador financeiro em potencial percebesse que a sua colaboração financeira não seria pequena em comparação à colaboração de outras pessoas, mas seria a colaboração mais importante, porque seria igual à de todas as outras pessoas que colaboram. Se for permitido a quem tem mais condições econômicas colaborar com um valor maior, a influência de quem pode colaborar com mais será maior que a de quem pode colaborar com menos. Quem achar que colaborar financeiramente não gera influência no meio de comunicação, pense em um jornalista que por exemplo receba 500 reais por mês de um entusiasta. Será que antes de fazer cada notícia o jornalista não vai pensar mais detidamente no que esse colaborador gostaria? Quem paga, influencia, ignorar isso é ignorar a realidade. Mas então, se vai ser fixado um valor, este tem que ser baixo, pois senão se estará dificultando a colaboração financeira de setores de mais baixa renda. Um máximo de 10 reais mensais por pessoa permitiria a colaboração mensal de uma porcentagem extremamente expressiva da sociedade brasileira, lembrando que esta porcentagem crescerá quanto mais baixo for o valor. Ampliando o espectro social em termos de renda que sustenta o meio jornalístico, também se faz com que este meio não dependa de uma classe de renda específica. Um valor baixo e único também minimiza o problema frequente na Internet em relação ao sentimento de injustiça que pode surgir no colaborador em potencial por pagar para algo que outros têm sem pagar.

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3) O meio de comunicação jornalístico dá um feedback informando o número de colaboradores financeiros.

Esta característica permite que o conjunto dos usuários do jornalismo na Internet consiga distribuir os recursos com mais razoabilidade entre os jornalistas e meios de comunicação jornalísticos. Isso porque o feedback pode indicar aos usuários que um determinado jornalista ou meio jornalístico têm muito pouco financiamento para a utilidade do conteúdo que produz. Isso dificultaria o enriquecimento e o empobrecimento dos jornalistas e meios de comunicação jornalísticos.

A implementação destes 3 princípios, em um meio de comunicação jornalístico que gere considerável interesse social, combinaria o conteúdo de acesso público (nem estatal nem privado) com liberdade de iniciativa individual e coletiva, em um sistema que partilha alguns princípios com a democracia política. Nesta, o voto de uma pessoa na urna vale o mesmo seja a pessoa pobre, rica, professora, analfabeta, adolescente ou anciã. No sistema proposto neste artigo, a colaboração financeira de todos também é a mesma, e cabe no bolso da grande maioria das pessoas, pelo menos no Brasil.

*Nicolas Chernavsky é jornalista formado pela Universidade de São Paulo (USP), editor do CulturaPolítica.info e colaborador do Pragmatismo Político

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