Redação Pragmatismo
História 07/Mar/2015 às 21:00 COMENTÁRIOS
História

A entrevista com o homem que capturou Che Guevara

Publicado em 07 Mar, 2015 às 21h00

Homem que capturou Ernesto 'Che' Guevara revela como foram os últimos momentos de um dos líderes da Revolução Cubana e quais foram as suas palavras finais. Guerrilheiro argentino foi executado por ordens dos governos boliviano e norte-americano

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Agência Plano

“Eu valho mais para vocês vivo do que morto”.

Foi a frase completa que ele me disse, relembra, quase cinquenta anos depois, o ex-general do Exército boliviano Gary Prado. Na época, era comandante da companhia de forças especiais responsável pela operação que prendeu o guerrilheiro em outubro de 1967. A luta do argentino Ernesto Guevara de la Serna, mais conhecido como “Che”, estava acabada.

No dia 3 de novembro de 1966, Che Guevara chegou à Bolívia. Um dos líderes da triunfante revolução cubana de 1959, inspiração de militantes mundo afora, escapava da burocracia boliviana com a identidade de Adolfo Mena Gonzáles. Escondia-se pelas ruas de La Paz como um homem de negócios uruguaio em missão para a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Estava em missão para uma ideia de mundo. Para uma América Latina independente dos dólares que assombravam o Palacio Quemado, de onde comandava o presidente boliviano René Barrientos, mas que não chegavam ao povo. Assim como fez quando foi ao Congo, uma determinação inconsequente o levou à Bolívia sem ser chamado — convencido de que, com sua presença, viria o apoio para que a luta armada triunfasse também em território boliviano.

Os impulsos guerrilheiros eram calculados em mapas e planos perfeitos que culminavam numa sociedade igualitária. A Bolívia era um local estratégico para abrigar uma base guerrilheira no continente americano — dali teriam apoio as revoluções que florescessem ao seu redor. Teria o apoio do Partido Comunista da Bolívia, além da China e da União Soviética.

Mas o mundo real era grande demais para caber na tecnologia rudimentar de um combatente latino-americano. Em janeiro de 1967, sem resposta positiva do partido comunista local, muito menos de parceiros estrangeiros, Che e os vinte e poucos combatentes do ELN (Exército de Libertação Nacional) se viram sozinhos. E seguiram mesmo assim para o interior da Bolívia.

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Fachada do Bar-Restaurante La Zania, em La Higuera, no departamento de Santa Cruz, Bolívia.

O acampamento vermelho foi erguido pelo ELN em Ñancahuazú, no Chaco, o semi-árido boliviano, e vagou, por vezes errante, pela inexplorada região. Com algum êxito nos dois primeiros meses — diante da morte, comemoravam um passo à frente sobre homens sacrificados do Exército. Quanto mais mortos fardados maior a determinação da tropa oficial de capturar os terroristas. A cidade de Vallegrande ficou alvoroçada ao receber a base de operações do Exército.

Gary Prado foi testemunha e algoz do inimigo derrotado, ferido, que outrora discursava no palanque da ONU. Certificou-se de que vivo permanecesse o prisioneiro e voltou à área de combate contra os sobreviventes. Os troncos das árvores do Chaco eram alvejados pelas rajadas trocadas, e os estalares dos tiros assustavam os animais.

“Montamos uma operação com a qual conseguimos cercar o grupo guerrilheiro e praticamente exterminá-lo, sobrando apenas dois guerrilheiros, um deles, Che Guevara”, relata Prado, em entrevista exclusiva à Agência Plano.

As mãos que seguraram os rifles subversivos e as canetas que escreviam diários agora estavam atadas. Não podiam fazer mais do que agarrar o pequeno fiapo de vida que Che pronunciava a seus algozes: “Valho mais vivo que morto”. Não viveria, de qualquer forma, tempo suficiente para ver erguer-se o sonho pelo qual foi condenado.

“Sei que você veio para me matar. Atire, covarde, você só vai matar um homem”, dissera Che na ocasião.

Assim que capturado, o célebre prisioneiro foi levado ao povoado de La Higuera, onde passou a noite de 8 de outubro dentro da única escola da região. Nos derradeiros momentos agoniava estar preso em uma escola, encarcerado em uma sala onde crianças da região poderiam ler o primeiro alfabeto, talvez algum dia sua própria história que o sargento Mario Terán, severo mestre ao entrar na sala, se dispunha a por fim.

Não adiantavam mais quaisquer planos mirabolantes que sobreviventes do ELN pudessem tramar para salvar o líder. Na manhã de 9 de outubro de 1969, ao encarar o prisioneiro de 39 anos, Terán tinha a autorização de seus superiores, bolivianos e norte-americanos, para fuzilá-lo.

“Quando voltei a La Higuera, ao meio-dia, fui informado que Che havia sido executado por ordens do governo. Foi uma execução sumária”, lembra Prado.

Leia o restante da entrevista nos seguintes endereços: link1 | link2

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