Redação Pragmatismo
Europa 25/Fev/2015 às 13:28 COMENTÁRIOS
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O ex-professor de economia marxista encara o advogado conservador

Publicado em 25 Fev, 2015 às 13h28

De um lado, o grego Yanis Varoufakis, um ex-professor de economia marxista. Do outro, o alemão Wolfgang Schaeuble, um advogado conservador. Ao se encontrarem pela primeira vez, as rusgas apareceram imediatamente. Eles personificam a atual polarização entre Grécia e Alemanha

Yanis Varoufakis Wolfgang Schaeuble grécia
O advogado conservador alemão Wolfgang Schaeuble (esq) e o professor de economia grego Yanis Varoufakis (divulgação)

De um lado, um ex-professor de economia marxista, especialista em teoria dos jogos e cujo estilo é vestir camisa sem gravata e uma jaqueta de couro. Do outro, um advogado conservador com um grande pedigree político e uma crença firme em austeridade.

Da aparência às posições que têm, pode-se dizer que Yanis Varoufakis e Wolfgang Schaeuble não combinam. E a novela sobre a ajuda à Grécia evidenciou a falta de entendimento entre os dois.

Quando ambos se encontraram pela primeira vez em Berlim, há duas semanas, as rusgas apareceram imediatamente.

Schaeuble disse que ele e Varoufakis tinham “concordado em discordar” sobre qual estratégia a Grécia deveria adotar. O grego respondeu: “Do meu ponto de vista, não pudemos nem mesmo concordar em discordar”.

O impasse persistiu por dias – e o ministro de Finanças alemão tornou-se figura odiada na Grécia.

Nos protestos, imagens de Schaeuble em uniforme nazista eram exibidas em cartazes. Manifestantes o chamavam de arquiteto das desgraças da Grécia, pelo seu compromisso inabalável com a austeridade.

A imprensa alemã não deixou passar batido, e os estereótipos de gregos grosseiros e alemães draconianos só alimentaram a hostilidade. O próprio Schaeuble considerou uma montagem recente dele como “perversa”.

Reformas

Nesta terça-feira, uma lista das reformas exigidas pela zona do euro em troca da extensão da ajuda à Grécia foi aprovada por ministros de Finanças europeus.

O Eurogroup disse que será dado início aos procedimentos necessários para submeter o acordo à aprovação de parlamentares dos países da zona do euro.

“Pedimos que as autoridades gregas aprofundem e ampliem a lista de reformas, baseadas no acordo atual, em cooperação com as instituições”, afirmou o Eurogroup em um comunicado.

As medidas incluem planos de combate a corrupção, evasão fiscal e contrabando de combustível e tabaco. As propostas deverão, agora, ser aprovadas por credores internacionais para que haja uma extensão de quatro meses de um empréstimo.

A Comissão Europeia e o Banco Central Europeu consideraram que as propostas da Grécia são um “ponto de partida válido”.

Este acordo “evita uma crise imediata”, segundo o comissário europeu de assuntos econômicos, Pierre Moscovici.

“Não significa que aprovamos estas reformas, mas que elas são sérias o suficiente para darmos continuidade ao debate”, ele acrescentou.

No entanto, a presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse ter reservas quanto às propostas.

“Em certas áreas, como combate à evasão fiscal, são encorajadoras, porque mostram uma nova disposição das autoridades gregas”, ela escreveu em uma carta ao Eurogroup.

“No entanto, em algumas outras áreas, inclusive algumas das mais importante, não parece haver garantias de que o governo pretende realizar as reformas em vista.”

Estilos diferentes

Levando em conta que o partido que muitas vezes liderou os protestos antiausteridade – o Syriza – chegou ao poder na Grécia, era inevitável que as relações fossem difíceis desde o início.

E nas primeiras semanas do Syriza no poder, os estilos de negociação de Varoufakis e Schaeuble colidiram.

O grego culpou publicamente os ministros das Finanças alemão e holandês por causarem o fracasso das conversas.

Acredita-se que sua comitiva tenha vazado rascunhos de documentos para provar que a Grécia tem sido tratada de forma injusta. E ele foi ao Twitter para expressar posições que outros políticos fariam em comunicados à imprensa cuidadosamente redigidos.

Já Wolfgang Schaeuble parece ter se irritado pelo estilo. Houve até mesmo pedidos de um parlamentar alemão para que Varoufakis fosse substituído.

Mas, na Grécia, o negociador-chefe do país tem uma base de fãs sólida. Muitos amam seu jeito direto e sua imagem ‘cool’, com seu cachecol Burberry e metáforas extravagantes.

Ele certamente criou um estilo único de fazer política – e nenhuma animosidade com Wolfgang Schaeuble deverá mudar isso.

Seus críticos argumentam que agora é hora de a Grécia conquistar concessões por meio da diplomacia cuidadosa e a delicada construção de alianças. E, dizem, Yanis Varoufakis é um personagem áspero demais para fazer isso.

Ele com certeza tem seus admiradores – mas Wolfgang Schaeuble não parece ser um deles.

VEJA TAMBÉM: Muita atenção para o embate entre Thomas Piketty e Yanis Varoufakis

Mark Lowen, BBC News-Atenas

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