Redação Pragmatismo
África 24/Fev/2015 às 11:36 COMENTÁRIOS
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Desfile da Beija-Flor foi 'tapa na cara do nosso povo', diz ativista de Guiné

Publicado em 24 Fev, 2015 às 11h36

“Foi horrível, humilhante, um tapa na cara das pessoas do meu país. Não tenho nada contra os brasileiros dançarem ou se divertirem, mas fazer isso com o dinheiro de gente pobre, que não tem educação, saúde e nem liberdade para reclamar desta falta não é certo. E pior, passa a imagem de que vai tudo bem no país, quando não vai”

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Tutu Alicante, ativista de Guiné Equatorial

Após toda a polêmica em torno do desfile da campeã Beija-Flor, que teria recebido um patrocínio de R$ 10 milhões do governo ditatorial da Guiné Equatorial, o ativista guinéu-equatoriano Tutu Alicante falou ao site Conectas que considerou a homenagem ao seu país “humilhante”:

“Foi horrível, humilhante, um tapa na cara das pessoas do meu país. Não tenho nada contra os brasileiros dançarem ou se divertirem, mas fazer isso com o dinheiro de gente pobre, que não tem educação, saúde e nem liberdade para reclamar desta falta não é certo. E pior, passa a imagem de que vai tudo bem no país, quando não vai.”

Alicante, que é diretor-executivo da EG Justice, entidade que promove os direitos humanos na Guiné Equatorial, explicou que as duas condições para que o país integrasse a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) não vêm sendo cumpridas. São elas o fim da pena de morte e uma maior integração da sociedade civil do país nas atividades da entidade.

“Se, por exemplo, você pede permissão para realizar um pequeno e pacífico protesto, nunca consegue e, caso resolva ir em frente, pode ser detido. Os ativistas lá não podem usar a internet livremente porque ela é censurada e o acesso, limitado. Restam então mensagens de texto e ligações telefônicas. Quanto à moratória na pena de morte, isso não aconteceu. Nenhum projeto foi sequer apresentado e execuções extraoficiais continuam ocorrendo.”

O Brasil foi um dos países que apoiou a entrada da Guiné Equatorial na CPLP. Para Alicante, é importante agora que o mundo saiba o que acontece dentro do país comandado pelo ditador Teodoro Obiang, que está há mais de três décadas no poder.

“Não tenho esperanças que a Beija-Flor desista do prêmio conquistado, mas espero que os brasileiros prefiram ficar ao lado do povo do meu país do que de seu governo corrupto e opressor.”

Telhado de vidro

Em entrevista à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, o Neguinho da Beija-Flor, intérprete da escola de samba afirmou que o dinheiro sujo já organiza, há anos, o Carnaval do Rio de Janeiro.

“Se não fosse a contravenção meter a mão no bolso, organizar, estaríamos ainda naquele negócio de arquibancada caindo, desfile terminando duas horas da tarde, cada escola desfilando duas, três horas e a hora que quer. E a coisa se organizou”, afirmou. Em seguida, falou em tom irônico:

“Se hoje temos o maior espetáculo audiovisual do planeta, agradeça à contravenção.”

Sobre o fato de que a Beija-Flor teria recebido um patrocínio de R$ 10 milhões do governo do ditador Teodoro Obiang, Neguinho declarou não ter conhecimento, mas disparou: “Deixa falar. Deu mídia. Deixa falar”. E emendou: “A Portela também teve um patrocínio muito forte. O governador do Rio de Janeiro, o Pezão, queria que a Portela ganhasse. Vai dizer que ele não fez investimento? O prefeito é portelense doente. Vai dizer que não colocaram dinheiro na Portela?”.

Conectas | Direitos Humanos

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