Eric Gil Dantas
Colunista
Economia 28/Nov/2014 às 11:07 COMENTÁRIOS
Economia

Considerações sobre a nova equipe econômica de Dilma

Eric Gil Dantas Eric Gil Dantas
Publicado em 28 Nov, 2014 às 11h07
Dilma Rousseff Levy Nelson Barbosa
Dilma Rousseff, Joaquim Levy (Ministro da Fazenda) e Nelson Barbosa (Ministro do Planejamento) – Imagem: Pragmatismo Político

Eric Gil*

Apesar dos eleitores terem ido às urnas e optado pela política heterodoxa (que é como os economistas chamam as políticas baseadas em teorias como a keynesiana e as desenvolvimentistas), os arranjos de aliança da Presidente Dilma fez com que as nomeações para as pastas da economia (Fazenda, Planejamento e Banco Central) fossem para o lado oposto ao prometido na campanha. Mas o que isto significa?

Sim, ainda estamos em crise, apesar de Armínio Fraga alegar que não (acho pouco provável que ele realmente acredite nisto) e isto prejudica as finanças do Governo Federal. Alguns nomes isolados na época da campanha eleitoral já afirmavam que “ganhe quem ganhar, haverá corte de gastos”, nada mais correto para este momento. No entanto, os eleitores da petista só não esperavam que estes cortes viessem tão rápido e de forma tão escancarada. Joaquim Levy realmente é um nome duro de engolir.

Joaquim Vieira Ferreira Levy, nascido em 1961 na capital carioca, formou-se em Engenharia Naval, mas logo foi para a área econômica, cursando seu mestrado em Economia na FGV e doutorando-se também em Economia pela Universidade de Chicago, ninho do ensino neoliberal. Levy, também conhecido como “Dr. No” (personagem do primeiro filme de James Bond), por conta da sua atuação no governo FHC o qual conduziu no cargo de secretário adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda uma forte austeridade, entra no principal cargo da nova equipe econômica de Dilma para dar um recado claro ao “Mercado” (já que estamos nos referindo ao atual deus, creio que devamos utilizar a primeira letra maiúscula), o de que agora em diante o superávit primário será prioridade. Nomeado para comandar o Tesouro Nacional em 2003, no governo Lula, época em que Antonio Palocci também foi nomeado ministro da Fazenda, Levy cumpriu o mesmo papel de hoje, mostrar ao “Mercado” que o pagamento da dívida seria garantido.

O seu nome, no entanto, não foi o primeiro a ser cogitado. Levy foi uma indicação direta de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, que recusou o cargo de ministro da Fazenda por possuir outros planos para sua carreira dentro do banco (assumir a presidência do Conselho Administrativo). Isto significa que Dilma realmente estava disposta a colocar um nome diretamente ligado ao sistema financeiro (algo que não é exceção na história do cargo) para ser ministro.

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Já o segundo nome é o de Nelson Barbosa, o qual já trabalhou no Ministério da Fazenda junto a Guido Mantega e Dilma, quando ocupou o cargo de secretário executivo deste ministério. A princípio, o seu nome foi tido como um “contra-peso” à escolha de Joaquim Levy (algo bastante contestável, tendo em vista a diferença de importância entre os dois ministérios), por ser considerado um economista mais próximo do pensamento econômico heterodoxo. No entanto, segundo apurado pelo repórter do Valor Econômico, Cristiano Romero, em sua coluna semanal “Dilma deu autonomia a Joaquim Levy”, para pessoas próximas à Barbosa, nesta “nova fase”, o “Nelsão vai surpreender à direita” (sim, com a crase!). Segundo a sua fonte “em assuntos fiscais, ele [Nelson Barbosa] está bem conservador”.

O arrocho fiscal já começou, ainda com Guido Mantega, mas será aprofundado no próximo ano. Tudo será sacrificado em nome do alimento divino, o superávit primário. As regras para o seguro-desemprego já foram modificadas com o intuito de diminuir os seus beneficiados. Já a CUT, juntamente a outras centrais sindicais, já estão negociando com Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, para que os trabalhadores possam cumprir menos horas e assim ter seus salários diminuídos, com a desculpa de que seria uma política anti-crise. Mesmo os industriais também terão “perdas” em nome do superávit primário, pois algumas isenções já estão com data marcada para acabar, e agora sem renovação, isto em uma conjuntura em que a indústria brasileira cai em produção e número de empregados.

Como o próprio Luiz Gonzaga Beluzzo, conselheiro econômico da Presidente, já declarou: “O Aécio não ganhou, mas a política econômica dele é que vai governar”. Então, senhoras e senhores passageiros, apertem seus cintos e rumo aos cortes para 2015.

*Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político

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