Redação Pragmatismo
Educação 01/Jul/2014 às 17:38 COMENTÁRIOS
Educação

Colaborador de Aécio Neves defende privatização das universidades

Publicado em 01 Jul, 2014 às 17h38

Membro da equipe de Aécio Neves defende a privatização da universidade pública

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Samuel Pessôa faz parte do conselho curador da equipe do presidenciável tucano e defende a taxação da graduação em universidade pública (Reprodução)

Em artigo publicado na edição deste domingo (29) do jornal Folha de São Paulo, o colunista Samuel Pessôa defende a taxação dos cursos de graduação e, para tanto, faz uma comparação com o pedágio urbano, argumentando que “o pedágio urbano justifica-se por que um bem econômico público, as vias públicas, torna-se um bem econômico privado quando se congestiona. A natureza econômica das vias públicas altera-se de acordo com a intensidade do seu uso”.

Na sequência, ele faz a comparação entre o pedágio urbano e o ensino superior público, e afirma que a “atividade de pesquisa constitui um bem público, enquanto a atividade de ensino constitui um bem privado”. Ou seja, o articulista do jornal paulista se utiliza de “literatura econômica” para dizer que a pesquisa é um bem público, pois visa a um bem comum, um ganho à sociedade, assim como a via pública. Já a graduação trata-se de um “bem privado”, pois quando o profissional estiver graduado, seu bem será medido pela sua renda, dando a entender que o saber adquirido na universidade fica para ele. Mas, já que ele cita as pesquisas, fica o questionamento: as pessoas que se tornaram mestres e doutores não adquiriram um primeiro conhecimento na graduação?

Em seguida, o autor do texto cai em contradição ao dizer que a educação fundamental tem de ser pública, pois, quanto mais jovens alfabetizados, mais a sociedade ganha, já que a formação de base não necessariamente aumenta o ganho salarial, mas sim o social. “Faz todo sentido, portanto, que a educação básica seja gratuita e não faz sentido que a educação universitária seja gratuita”, sacramenta o articulista.

E sem papas na língua, ele defende que o “ensino universitário deve ser pago” e, àqueles alunos que não podem arcar com o ensino superior, o autor indica o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e nem sequer cita o Programa Universidade Para Todos (ProUni), que garante milhões de bolsas em instituições privadas anualmente sem que o aluno tenha que pagar posteriormente, como acontece com o primeiro.

Para justificar a sua tese de privatização do ensino superior, Pessôa argumenta que “haveria impactos orçamentários positivos”. “A instituição de cobrança de mensalidade para os cursos universitários públicos teria efeito importante sobre a eficiência das universidades. O tempo médio seria reduzido e a vinculação ao curso aumentaria”.

Poderíamos encarar tal texto como mais um entre tantos de cunho neoliberal que defendem a privatização do ensino superior público, mas o artigo deve receber um pouco mais de atenção, visto que Samuel Pessôa faz parte de uma espécie de conselho curador da equipe de Aécio Neves – candidato à presidência da República pelo PSDB -, que está ajudando na construção do plano de governo dos tucanos.

Ou seja, mais do que um mero texto publicado em um semanário, trata-se de uma tese pronta para, caso Aécio vença as eleições, ser apresentada como solução para os problemas financeiros nas universidades. O que espanta nas linhas de Samuel Pessôa é que o autor ignora que hoje 70% das bolsas do ProUni são integrais e isso tem feito com que milhares de alunos de camadas mais populares ascendam ao estudo universitário e rompam com ciclo da pobreza. Outro fator ignorado é que agora o PrUni vai ser estendido ao Mestrado e Doutorado e, assim, quem sabe, levar à pós-graduação saberes que são historicamente silenciados.

Podemos supor, então, que a partir do momento em que o autor ignora tais programas e cai em contradições rasas ao “defender” o ensino de base enquanto público e o superior a ser cobrado, ou seja, a velha ideologia neoliberal, propõe fechar as universidades aos mais pobres e manter as portas abertas apenas àqueles que podem pagar.

Devemos ainda reparar que o autor não cita uma linha sequer sobre o escândalo financeiro da USP. A direção da instituição leva a universidade à falência e o boleto deve ser passado aos alunos? A velha cantilena do Estado mínimo não está nada morta, muito pelo contrário: viva e assanhada por retomar o ciclo de políticas dos anos 1990.

Por fim, o que se nota é que o filho do pedreiro com diploma de médico incomoda sim muita gente e, a depender dos conselheiros de Aécio Neves, o filho do pedreiro vai continuar a ser o filho de pedreiro…

Marcelo Hailer, Revista Fórum

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