Redação Pragmatismo
Saúde 15/Jul/2014 às 17:31 COMENTÁRIOS
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7 casos em que a maconha tem ação benéfica

Publicado em 15 Jul, 2014 às 17h31

No momento em que cresce no Brasil a tendência pela legalização do consumo da maconha, o médico Dráuzio Varella aponta 7 casos específicos em que o uso da erva tem ações benéficas

dráuzio varella maconha
Dráuzio Varella se rende aos efeitos da maconha (Pragmatismo Político)

O médico cancerologista Dráuzio Varella destacou em artigo neste sábado, 12, o potencial do uso medicinal da maconha. No momento em que cresce no Brasil a discussão pela legalização do consumo da erva, o médico lembrou que já tem quase 30 anos que a medicina conhece o papel dos canabinoides no sistema nervoso central e o papel importante que eles desempenham na modulação da dor, no controle dos movimentos, na formação e arquivamento de memórias e até na resposta imunológica de pacientes.

Dráuzio destacou a aplicação da maconha já é feita em vários países para o tratamento de diversas doenças, como glaucoma, náuseas provocadas pelo câncer, anorexia e caquexia associada à Aids, dores crônicas, inflamações, esclerose múltipla e epilepsia.

“Com tal espectro de ações em patologias tão diversas, só gente muito despreparada pode ignorar o interesse medicinal da maconha. Qual a justificativa para impedir que comprimidos de THC e de seus derivados cheguem aos que poderiam se beneficiar deles?”, questiona o médico.

VEJA TAMBÉM: As consequências da legalização da maconha no Uruguai

Dráuzio Varella, entretanto, acredita que a liberação da maconha seria encarada pelos brasileiros como finalidade recreativa, e não medicinal. “Acho que a maconha deve ser legalizada, sim, mas por razões que discutiremos em nossa próxima coluna”, finaliza o médico.

Leia abaixo a íntegra o artigo de Dráuzio Varella, publicado no jornal Folha de S. Paulo.

Efeitos benéficos da maconha

Qual a justificativa para impedir que comprimidos de THC cheguem aos que poderiam se beneficiar?

Não são poucos os benefícios potenciais da maconha. Na última coluna falamos sobre os efeitos adversos, apresentados numa revisão recém-publicada no “The New England Journal of Medicine”.

Explicamos que os estudos nessa área padecem de problemas metodológicos. Geralmente envolvem usuários que consomem quantidades maiores, por muitos anos, acondicionadas em baseados com concentrações variáveis de tetrahidrocanabinol (THC), o componente ativo.

Como consequência, ficam sem respostas claras as consequências indesejáveis no caso dos usuários ocasionais, a grande massa de consumidores.

Em compensação, o uso medicinal do THC e dos demais canabinoides dele derivados está fartamente documentado.

A descoberta de que os canabinoides se ligavam aos receptores CB existentes na membrana celular dos neurônios aconteceu em 1988. Dois anos mais tarde, esses receptores foram clonados e mapeadas suas localizações no cérebro. Em 1992, foi identificada a anandamida, substância existente no sistema nervoso central, relacionada com os receptores, mas distinta deles.

A partir de então, diversos trabalhos revelaram que os canabinoides naturais ou sintéticos desempenham papel importante na modulação da dor, controle dos movimentos, formação e arquivamento de memórias e até na resposta imunológica.

Pesquisas com animais de laboratório demonstraram que o cérebro desenvolve tolerância aos canabinoides e que eles podem causar dependência, embora esse potencial seja menor do que o da heroína, nicotina, cocaína, álcool e de benzodiazepínicos, como o diazepan.

Hoje sabemos que o uso de maconha tem ação benéfica nos seguintes casos:

1) Glaucoma: doença causada pelo aumento da pressão intraocular, pode ser combatida com os efeitos transitórios do THC na redução da pressão interna do olho. Existem, no entanto, medicamentos bem mais eficazes.

2) Náuseas: o tratamento das náuseas provocadas pela quimioterapia do câncer foi uma das primeiras aplicações clínicas do THC. Hoje, a oncologia dispõe de antieméticos mais potentes.

3) Anorexia e caquexia associada à Aids: a melhora do apetite e o ganho de peso em doentes com Aids avançada foram descritos há mais de 20 anos, antes mesmo de surgirem os antivirais modernos.

4) Dores crônicas: a maconha é usada há séculos com essa finalidade. Os canabinoides exercem o efeito antiálgico ao agir em receptores existentes no cérebro e em outros tecidos. O dronabinol, comercializado em diversos países para uso oral, reduz a sensibilidade à dor, com menos efeitos colaterais do que o THC fumado.

5) Inflamações: o THC e o canabidiol são dotados de efeito anti-inflamatório que os torna candidatos a tratar enfermidades como a artrite reumatoide e as doenças inflamatórias do trato gastrointestinal (retocolite ulcerativa, doença de Crohn, entre outras).

6) Esclerose múltipla: o THC combate as dores neuropáticas, a espasticidade e os distúrbios de sono causados pela doença. O Nabiximol, canabinoide comercializado com essa indicação na Inglaterra, Canadá e outros países com o nome de Sativex, não está disponível para os pacientes brasileiros.

7) Epilepsia: estudo recente mostrou que 11% dos pacientes ficaram livres das crises convulsivas com o uso de maconha com teores altos de canabidiol; em 42% o número de crises diminuiu 80%; e em 32% dos casos a redução variou de 25 a 60%. Canabinoides sintéticos de uso oral estão liberados em países europeus.

Com tal espectro de ações em patologias tão diversas, só gente muito despreparada pode ignorar o interesse medicinal da maconha. Qual a justificativa para impedir que comprimidos de THC e de seus derivados cheguem aos que poderiam se beneficiar deles? Está certo jogar pessoas doentes nas mãos dos traficantes?

No entanto, o argumento de que o uso de maconha deve ser liberado em virtude dos efeitos benéficos que acabamos de enumerar, é insustentável: a imensa maioria dos usuários não o faz com finalidade terapêutica, mas recreativa.

Como diz o povo: uma coisa é uma coisa…

Acho que a maconha deve ser legalizada, sim, mas por razões que discutiremos em nossa próxima coluna.

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