Redação Pragmatismo
Homofobia 07/Fev/2014 às 12:13 COMENTÁRIOS
Homofobia

Jovem gay espancado: "só me lembro de pedir socorro e ninguém fazer nada"

Publicado em 07 Fev, 2014 às 12h13

Espancado no centro da cidade de São Paulo, Juliano Zechini Polidoro defende que casos de homofobia não sejam mais tratados com negligência por autoridades

A semana do biólogo Juliano Zechini Polidoro, 26, é preenchida pelo trabalho dele como pesquisador e pelos estudos que ele desenvolve na pós-graduação em Fisiologia Humana na USP (Universidade de São Paulo). Nos fins de semana, Juliano descansa dessa rotina se divertindo com os amigos na região entre as ruas Augusta e Frei Caneca, local conhecido no centro da cidade de São Paulo por concentrar inúmeros estabelecimentos voltados ao público gay.

Juliano Zechini Polidoro homofobia gay
Juliano Zechini Polidoro

No último domingo (2), Juliano foi mais uma vez se divertir com os amigos num bar deste point gay. E o fim de semana se encaminhava para terminar como qualquer outro quando a volta para casa foi interrompida por uma série de socos e pontapés desferidos nele por um desconhecido, por volta das 22h30, na Rua Augusta.

“Eu estava a três quadras do metrô quando um homem me deu uma rasteira. Me virei e perguntei porque ele tinha feito isso”, relata Juliano, que não obteve resposta do desconhecido. O agressor começou então a bater nas costas e nos braços dele. “Só me lembro de pedir socorro para pessoas e ninguém fazer nada”, acrescenta o biólogo.

O socorro só veio pouco antes do homem se cansar de agredi-lo e ir embora, sem dizer nada. Um homem e mulher também desconhecidos interviram e depois o levaram a estação Consolação do metrô. Lá, ainda em choque, Juliano ligou para uma amiga e para um advogado que vieram resgatá-lo. “Fiquei sentado no chão um tempo, tentando ligar para as pessoas e chorando”, conta o biólogo.

“Um agente do metrô até veio me dizer que eu não poderia ficar ali sentado no chão. Mas eu expliquei o que tinha acontecido e outro funcionário teve a sensibilidade de me ajudar, me deixando ficar”, prossegue o biólogo. De lá, a amiga e o advogado o levaram para dar queixa da agressão e registrá-la num boletim de ocorrência na 14ª DP, no bairro de Pinheiros.

O advogado orientou Juliano a procurar especificamente esta delegacia de polícia, que teria um histórico de atender casos de homofobia sem desrespeitar os homossexuais agredidos. Lavrado como agressão, o boletim de ocorrência tem a informação de que o biólogo vê o crime como homofóbico. “O estudante acredita que foi vitima de homofobia, porém não houve ofensa com injúrias durante o ataque”, diz o texto do registro policial.

Juliano aponta a desfaçatez do agressor, que não se incomodou de cometer o crime diante de um grupo de pessoas que estavam no local no momento. “O fato é que ele sentiu confortável para fazer o que fez. Às 22h30 da noite, com um monte de gente olhando para ele”, constata.

“Meu tipo físico, meu modo de vestir. Tudo isso fez com que eu fosse um alvo”, argumenta Juliano, que critica o fato da delegacia paulistana específica para crimes de ódio não funcionar 24 horas. “É um absurdo. O Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) só funciona em horário comercial”, reclama o biólogo.

homofobia-sp

Depois da delegacia, Juliano foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) para ter seu corpo periciado. Além de lesões nos joelhos e nas costas, o biólogo teve braço direito lesionado. “Na perícia, falaram que foi trauma da pancada. Não estou conseguindo mexê-lo. Sou pesquisador, sem o movimento do braço não consigo trabalhar”, lamenta ele.

Juliano acredita que as consequências poderiam ser piores se ele não tivesse encontrado apoio familiar e das pessoas próximas. “Apesar de tudo, eu estou bem. Sou assumido e tenho o apoio da minha família e dos meus amigos. Dependendo de como você vive, esse tipo de situação pode te levar para o buraco, acabar com a sua autoestima”, avalia o biólogo, que deseja ver o agressor rapidamente encontrado e punido.

“É preciso parar de negligenciar essas situações. Não podemos ficar em negação e ver pessoas sendo espancadas e mortas como aconteceu como Bruno e não fazer nada”, desabafa o biólogo, citando o caso do estudante Bruno Borges de Oliveira, morto no último dia 26, na mesma região em que ele foi agredido.

Iran Giusti, IG

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