Redação Pragmatismo
Contra o Preconceito 24/Jan/2014 às 16:55 COMENTÁRIOS
Contra o Preconceito

Delegado muda de sexo e pode assumir Delegacia da Mulher

Publicado em 24 Jan, 2014 às 16h55

Após mudar sexo, delegada pode assumir cargo na Delegacia da Mulher. Antes da operação, Laura de Castro, 33 anos, atuou no cargo de delegado em municípios próximos a Goiânia, Trindade e Senador Canedo

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Delegada postou foto no Facebook em 13 de dezembro. Antes da operação, Laura de Castro, 33 anos, atuou no cargo de delegado em municípios próximos a Goiânia (Reprodução)

A Polícia Civil de Goiás confirmou nesta quinta-feira que a delegada Laura de Castro Teixeira, que passou recentemente por uma cirurgia de mudança de sexo, mostrou interesse de atuar na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), em Goiânia, após retornar de licença médica. Segundo o delegado adjunto Daniel Felipe Adorni, da Diretoria da Polícia Civil de Goiás após remanejamento de pessoal, há vagas no plantão da delegacia da Mulher. A delegada, que conseguiu na Justiça mudar seu nome de Thiago para Laura, pediu a licença há poucos meses, para se submeter ao procedimento. A Polícia Civil, porém não informou a data exata da operação.

O delegado desmentiu, porém, que Laura seria efetivada como delegada titular, como chegou a ser divulgado na imprensa. “Essa informação é errônea, a nossa titular é a delegada Ana Elisa (Gomes), uma servidora excepcional, e que também quer contar com a doutora Laura na sua equipe”, disse. “Estamos oferecendo vagas a vários servidores, dentre eles a doutora Laura. Ela manifestou interesse de ir para o plantão e assim que ela tiver condições – ela está resolvendo problemas burocráticos – nós poderemos contar com esta servidora na Deam”, disse.

Segundo o delegado, as mudanças de sexo e de nome da delegada não alteram seu vínculo com a Polícia Civil. “A mudança é de foro de registro civil, isso é determinado por lei. Ela já entrou com os trâmites. Para nós, ela é uma delegada constituída, uma servidora que teve na Polícia Civil uma vida de honradez, lisura, competência. A gente acredita quer não há nenhum motivo que vá mudar essa situação a partir de agora”, afirmou, assegurando que a polícia goiana vê o caso e sua repercussão com “naturalidade”. “Isso para nós não é problema. A gente entende isso como um ato de coragem. Para nós da Polícia Civil, problema é policial corrupto, truculento, omisso”, declarou.

Antes da operação, Laura de Castro, 33 anos, atuou no cargo de delegado em municípios próximos a Goiânia, Trindade e Senador Canedo. Era discreta, usava roupas masculinas. Por isso, com a divulgação do assunto em um jornal local em Goiânia, a mudança pegou muitos colegas de surpresa. Na assessoria de imprensa da Polícia Civil, a informação é de que a delegada ainda se recupera da cirurgia e está avaliando se falará publicamente sobre a mudança em sua vida pessoal.

“Há pouco mais de um ano a doutora Laura informou o chefe imediato. Ela foi absolutamente transparente”, disse o delegado, revelando como a Polícia Civil soube o processo que culminou na mudança de sexo da delegada. “A administração entendeu a sua situação, nós oferecemos o serviço de psicologia e assistência social da polícia para ela tratar desta questão com a família e com ela mesma”, afirmou, reafirmando que a instituição acompanhou tudo, informada pela própria delegada da evolução de seu tratamento. “A todo o momento a gente se manifestou em apoio a essa decisão de caráter absolutamente pessoal, de foro íntimo da servidora.”

Laura, porém, já se transformou – pelo ineditismo do seu caso – em exemplo de luta contra o preconceito. Chyntia Barcellos, vice-presidente da Comissão Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da Seção de Goiás da OAB, vê motivos para se comemorar a novidade na Polícia Civil. “Sinto uma alegria imensa de poder presenciar esses avanços, especialmente por ser na minha cidade, Goiânia, e em um momento em que notícias e mortes homofóbicas têm se sobressaído”, disse.

A advogada lembra que a mudança de sexo não afeta a situação jurídica de Laura e, por isso, a delegada poderá continuar com o cargo na Polícia Civil. “O que muda é o comportamento da sociedade em relação ao caso. Acredito que essa história incrível servirá de exemplo para outras pessoas que têm o mesmo desejo, mas preferem não mudar de sexo por convenções sociais.”

Na internet, entidades de defesa dos direitos gays se manifestaram também. Liorcino Mendes, presidente da Articulação Brasileira de Gays (Artgay), disse que o movimento LGBT de Goiás fica feliz com a notícia e vê um avanço importante no caso da delegada Laura. “Parabéns, Goiânia tem a primeira delegada de Polícia Transexual do Brasil. Viva as mulheres transexuais”, publicou na sua página do Facebook.

com agências

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