Luis Soares
Colunista
EUA 19/Ago/2013 às 16:35 COMENTÁRIOS
EUA

O estranho pedido de perdão de Bradley Manning

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 19 Ago, 2013 às 16h35

Wikileaks diz que declaração de arrependimento foi “extraída à força”. “Em corte justa, o governo dos EUA é que pediria desculpas a Bradley Manning”

Por Wikileaks, emResponse to Today’s Bradley Manning Statement”. Traduzido por Vila Vudu e publicado em redecastorphoto

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Bradley Manning (centro) cercado por agentes de serviços de inteligência dos Estados Unidos (Foto: AFP)

Os jornais informam que Bradley Manning fez hoje uma declaração de arrependimento, em audiência para sentença, em Fort Meade, Maryland. A declaração de Manning surge no fim de uma corte marcial, na qual os procuradores atuaram com fúria sem precedentes.

Desde que foi preso, o Sr. Manning tem sido exemplo de resistência e coragem ante a adversidade. Resistiu sempre a pressões extraordinárias. Sobreviveu à prisão em cela solitária, nu e submetido a tratamento cruel, desumano e degradante, pelo governo dos EUA. Ignorou-se o seu direito constitucional a julgamento rápido. Está preso há três anos, sob condições ilegais de prisão, enquanto o governo arrebanhava 141 testemunhas e ocultava os milhares de documentos aos quais os advogados da defesa não tiveram acesso.

O governo negou-lhe o direito de construir defesa básica de whistleblower [alertador]. Foi indevidamente acusado, até que se viu ante a iminência de ser condenado a um século de cadeia, tendo tido impedidas praticamente todas as suas testemunhas, exceto umas poucas. Negaram-lhe o direito de declarar em sua defesa, no julgamento, que os atos de que era acusado não provocaram dano algum. Seus advogados foram preventivamente impedidos de falar das intenções do acusado e de provar que suas ações não prejudicaram ninguém.

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Apesar de todos esses obstáculos, o Sr. Manning e sua equipe de defesa lutaram passo a passo a luta que lhes foi imposta. Mês passado, foi condenado a penas que chegavam a 90 anos de prisão. O governo dos EUA admitiu que suas ações não feriram fisicamente ninguém; e foi absolvido da acusação de “ajudar o inimigo”. Suas condenações só têm a ver com a suposta decisão de informar a opinião pública sobre crimes de guerra e a prática sistemática de atos injustos.

Mas, afinal, se esgotaram as opções para o Sr. Manning. A única moeda que essa corte militar aceitaria seria a humilhação. À luz disso, a decisão forçada do Sr. Manning, de pedir desculpas ao governo dos EUA, na esperança de reduzir uma década ou mais em sua sentença, tem de ser vista com compaixão e compreensão.

As desculpas foram declaração arrancada dele, depois de longo massacre a que foi submetido sob o peso do sistema militar judicial dos EUA. Foram necessários três anos e milhões de dólares, para extrair dois minutos de remorso tático desse homem valente.

As desculpas foram extraídas à força de Bradley Manning. Em corte justa, o governo dos EUA pediria desculpas a Bradley Manning. Como o atesta a sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz, já com mais de 100 mil assinaturas, Bradley Manning mudou o mundo para melhor. E ele permanece, como símbolo de coragem e de resistência humanitária.

As desculpas do Sr. Manning mostram que, no que tenha a ver com sua sentença, ainda há décadas pelas quais lutar.

Nesses dias finais, é preciso intensificar a pressão pública contra a corte militar que julga Bradley Manning, antes de que se consuma a decisão sobre a sentença que terá de cumprir.

WikiLeaks continua a apoiar Bradley Manning e manterá a campanha, até que seja posto em liberdade, sem condições.

LIBERTEM BRADLEY MANNING

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