Luis Soares
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Religião 25/Fev/2013 às 14:17 COMENTÁRIOS
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Renúncia do Papa: Sexo, dinheiro e poder teriam influenciado decisão

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 25 Fev, 2013 às 14h17

Entre os malfeitos que influenciaram a renúncia do Papa está a rede de prostituição de jovens seminaristas descoberta em 2010

Oficialmente, o desgaste físico e espiritual pesou sobre os 85 anos de Bento XVI. E um dossiê de quase 300 páginas, dividido em dois volumes encadernados com couro vermelho, sepultou de vez o pontificado dele, sustentou nesta quinta-feira o jornal italiano “La Repubblica”. O documento foi compilado por três cardeais a pedido do próprio Papa, durante nove meses, após o escândalo do roubo de documentos secretos do Pontífice, conhecido como VatiLeaks.

As páginas proporcionaram leitura detalhada de dezenas de capítulos sobre corrupção, promiscuidade, mapeamento de uma rede de prostituição homossexual dentro do Vaticano e desvio de dinheiro. E transformaram-se no argumento definitivo para uma renúncia considerada há tempos pelo Pontífice alemão.

renúncia bento xvi

Sexo, dinheiro e poder podem ter influenciado renúncia do Papa Bento XVI (Foto: Reprodução)

– Este documento será entregue ao próximo Papa, que deverá ser bastante forte, jovem e santo para poder enfrentar o trabalho que o espera – teria reagido Bento XVI, segundo o “La Repubblica”.

As investigações internas acerca do VatiLeaks se estenderam entre abril e dezembro, e o Papa era informado semanalmente do andamento do inquérito. No dia 17 de dezembro, ele recebeu o dossiê completo, de conclusões “devastadoras”, segundo o jornal.

O espanhol Julián Herranz, o italiano Salvatore De Giorgi e o eslovaco Josef Tomko formaram o trio de investigadores eleito por Bento XVI. Todos são cardeais veteranos, velhos conhecedores da Cúria, com mais de 80 anos de idade. Principalmente Tomko: aos 88 anos, foi o diretor do serviço de contraespionagem do Vaticano no papado de João Paulo II.

Rede de lobby gay entre sacerdotes

Entre os malfeitos que mais assombraram o Papa está a rede de prostituição de jovens seminaristas descoberta em 2010. No alvo da investigação, Angelo Balducci, presidente do Conselho Nacional Italiano de Obras Públicas, cujo telefone foi grampeado por suspeita de corrupção.

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De acordo com o “La Repubblica”, descobriu-se, então, que frequentemente ele conversava com o nigeriano Chinedu Thiomas Eheim, membro do coro da Reverenda Capela Musical da Sacrossanta Basílica de São Pedro. Ele seria o agenciador de encontros que aconteciam numa casa fora de Roma, numa sauna, em um centro estético e até no próprio Vaticano, além de uma residência universitária na capital italiana onde vivia Marco Simeon, um jovem de 33 anos alçado a diretor da TV Rai Vaticano.

– Só digo que ele tem dois metros de altura, pesa 97 quilos, tem 33 anos e é completamente ativo – disse o nigeriano a Balducci, numa das ligações interceptadas.

O jornal italiano menciona, ainda, a possível existência de um “lobby gay” dentro do Vaticano, “uma rede transversal unida pela orientação sexual”.

Ao revelar ao Papa o caso em 9 de outubro passado, teria sido a primeira vez que a palavra “homossexualidade” fora pronunciada livremente, em voz alta, no apartamento de Bento XVI. Dois dias depois, num discurso a jovens da Ação Católica sobre o Concílio Vaticano II, o Papa fez uma espécie de desabafo. Mencionou que havia a certeza “de que viria uma nova primavera para a Igreja”, mas que, com o tempo, aprende-se “que a fragilidade humana está presente também na Igreja”.

O latim aparece no dossiê para falar de impropriam influentiam, influências impróprias e externas. Um fonte próxima aos três cardeais-investigadores explicou que Bento XVI decidiu renunciar com esse material sobre a mesa.

– Tudo gira em torno do cumprimento do sexto e do sétimo mandamentos – garantiu a fonte, referindo-se a “Não cometerás atos impuros” e “Não furtarás”.

Às vésperas de um conclave atípico e repleto de dúvidas sobre o futuro do Papa demissionário, não faltam interpretações dos últimos discursos de Bento XVI, onde se destacaram menções enigmáticas sobre “divisões que deturpam a face da Igreja” e pedem renovação. Ontem, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, não quis alimentar as polêmicas:

– Não espere comentários, desmentidos ou confirmações do que é dito sobre este tema. A comissão fez seu trabalho e entregou seu relatório nas mãos do Santo Padre como deveria ter feito.

Agências Internacionais, com O Globo

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