Redação Pragmatismo
Mulheres violadas 25/Fev/2013 às 22:41 COMENTÁRIOS
Mulheres violadas

Nota sobre o estupro coletivo praticado pela banda New Hit

Publicado em 25 Fev, 2013 às 22h41

Julgamento de estupro coletivo cometido pela banda New Hit é adiado. Nove integrantes da banda são acusados de estuprar duas adolescentes

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Integrantes da banda New Hit são acusados de estuprar duas adolescentes. (Foto: Reprodução)

No dia 26 de agosto de 2012, na cidade de Ruy Barbosa na Bahia, duas adolescentes foram estupradas por 9 homens integrantes da Banda New Hit, dentro do ônibus do grupo. As meninas se dirigiram ao veículo para pedir autógrafos e parabenizar um dos integrantes que fazia aniversário. Lá, foram violentadas de forma brutal e humilhante, com a conivência e também violência de um Policial Militar.

Em virtude do caso, no dia 26 de outubro de 2012, nós, da Marcha Mundial das Mulheres , fomos até a casa de veraneio do estuprador Eduardo Martins, vocalista da Banda New Hit. Afirmamos que enquanto não houver justiça haverá escracho feminista!

Para nós, exigir a punição de todos os estupradores e agressores às mulheres é tarefa fundamental dos que defendem a igualdade e a liberdade. A impunidade incentiva e naturaliza a violência contra a mulher.

Além do sofrimento provocado pelo crime violento, as vítimas estão distantes da sua cidade, afastadas do convívio social e tendo suas liberdades cerceadas. Sofreram violência sexual e encontram-se encarceradas por conta das ameaças de morte. Enquanto isso, os autores do crime estão em liberdade realizando shows pelo Brasil. Uma completa inversão de valores, quando quem comete a violência é consagrado, enquanto quem a sofre é relegada ao silêncio e a ter que se esconder para sobreviver.

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Casos como esses são cada vez mais recorrentes em nossa sociedade que convive com a violência às mulheres como forma de dominação e exploração.

No geral, a violência é utilizada como controle da vida, do corpo e da sexualidade das mulheres. Muitos estupros tentam ser justificados porque caminhamos sozinhas à noite, porque somos lésbicas, ou quando desobedecemos aos maridos. A lógica da violência funciona como “corretivo” às mulheres consideradas “putas”. Um castigo por desobedecermos as normas que nos são ensinadas/impostas.

No caso do estupro coletivo cometido pelos integrantes da Banda New Hit não foi diferente. As adolescentes foram julgadas como vagabundas e que mereciam o estupro por terem subido no veículo em que estavam 9 homens.

O estupro é talvez a manifestação mais cruel da violência machista, anuncia o fato de que a mulher não tem possibilidade de escolhas sobre o seu próprio corpo, e que nossas vidas estão inscritas no limite da subordinação aos homens.

Vivemos um momento na conjuntura da vida das mulheres em que a classe dominante tenta consolidar a idéia de que a igualdade já foi alcançada e a luta feminista não é mais necessária. Essa idéia tenta ser difundida principalmente nos países que, por exemplo, possuem mulheres na presidência, ou em outros cargos importantes do Estado, porém, os dados relativos aos índices de violência às mulheres da classe trabalhadora são alarmantes.

Segundo o Mapa da Violência – Homicídios de Mulheres no Brasil, publicado em 2012 pelo Instituto Sangrari, a cada três minutos uma mulher sofre algum tipo de violência. Entre os anos de 1980 e 2010, foram assassinadas mais de 92 mil mulheres no país. Nos últimos dez anos, foram 43,7 mil assassinatos, representando um aumento de 230% em relação ao período anterior. Ademais, sabemos que apenas 2% dos agressores de mulheres são condenados, o que demonstra o completo descaso das autoridades às inúmeras violências sofridas pelas mulheres.

estupro banda new hit

Manifestantes pedem justiça no caso da band New Hit, acusados de estupro coletivo contra duas adolescentes. Advogados de defesa da banda conseguiram adiar julgamento.

No Brasil, a lei Maria da Penha representa um avanço, fruto da luta do movimento feminista, mas os problemas de precariedade nos órgãos e na rede de atendimento às mulheres, a falta de pessoal especializado, de funcionários capacitados, sucateamento das poucas delegacias de atendimento à mulher e quase inexistência de equipamentos como casas-abrigo públicas, dificultam sua aplicabilidade e o rompimento do ciclo de violência vivido pelas mulheres

Convocamos todas as organizações, movimentos, entidades, mulheres e homens que defendem uma sociedade justa e igualitária para juntar-se a nós na mobilização pela condenação dos estupradores. É preciso organizar-se. Por isso, convidamos todas e todos a participarem da reunião que acontecerá na próxima quarta-feira, 27 de fevereiro, às 17h, na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia, em Salvador-Ba.

No dia 16 de outubro de 2012, nós, mulheres, militantes da Marcha Mundial das Mulheres, escrachamos o estuprador Eduardo Martins que descansava em sua casa de veraneio em Guarajuba-Ba. Hoje, afirmamos: MAIS ESCRACHOS VIRÃO!

Sabemos que o fato deles serem homens com fama e dinheiro os protegem. Somente com muita pressão social e política os estupradores serão condenados. A prisão de Eduardo Martins e de toda a Banda New Hit será uma vitória das mulheres e homens que defendem uma sociedade justa e igualitária.

Defendemos um Projeto Popular para o Brasil e compreendemos que a eliminação da violência contra a mulher e da mercantilização dos nossos corpos é parte fundamental para a construção de uma sociedade em que a justiça, igualdade e liberdade sejam pilares. Somos Negra Zeferina, Luiza Mahin, Maria Felippa! Empunharemos nossos corpos como espadas para defender uma sociedade justa e igualitária. Somos mulheres organizadas que não silenciam diante de atrocidades como essa. Até que os integrantes da Banda New Hit sejam julgados e condenados não descansaremos!

Temos direito a uma vida sem violência e lutaremos por isso. Estupro é crime e a culpa NUNCA é da mulher!

Atualização: Sob protestos, julgamento de estupro coletivo cometido pela banda New Hit é adiado

O julgamento da acusação de estupro coletivo cometido por integrantes da banda New Hit foi adiado para setembro. Nesta semana (dias 18,19 e 20), ocorreram audiências na cidade de Ruy Barbosa (BA), em que foram colhidos depoimentos das vítimas – duas adolescentes – e de outras pessoas. Mas, por ausência de testemunhas da defesa, os advogados dos réus pediram o adiamento.

A Marcha Mundial das Mulheres organizou protestos em frente ao Fórum de Ruy Barbosa. A integrante do movimento Maíra Guedes esteve na cidade e analisa que houve manobra da defesa para adiar o julgamento. Porém, ela acredita que haverá a condenação.

“As provas são muito contundentes. O depoimento delas [das vítimas] foi muito contundente, não teve nenhuma contradição do depoimento delas com o primeiro depoimento que foi feito na delegacia em Ruy Barbosa. A gente acha que é muito difícil que eles [os acusados] escapem dessa.”

CRONOLOGIA DO CASO

3 de outubro Pagodeiros da New Hit são soltos e são recebidos por fãs

2 de outubro Justiça concede habeas corpus e Ministério Público da Bahia denuncia à Justiça os integrantes

25 de setembro Inquérito civil é finalizado e integrantes são indiciados por estupro e formação de quadrilha

24 de setembro Laudo pericial das roupas das adolescentes aponta sêmen em grande quantidade

17 de setembro Adolescentes ameaçadas são incluídas no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM)

6 de setembro Pedido de habeas corpus negado

3 de setembro Laudo confirma que houve violência sexual contra as duas adolescentes

31 de agosto Integrantes da New Hit são transferidos para o Presídio de Feira de Santana

26 de agosto Data em que o crime supostamente aconteceu e prisão dos integrantes da banda

Com Radio Agencia NP

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