Luis Soares
Colunista
EUA 08/Nov/2012 às 17:54 COMENTÁRIOS
EUA

Gays, negros, latinos e mulheres determinaram eleição de Obama

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 08 Nov, 2012 às 17h54

A vitória de Obama entre negros, latinos, mulheres e joevns foi gigantesca. Se só brancos machos adultos votassem, Romney teria levado de goleada

Romney venceu entre os homens por 52 a 48. As mulheres, mais uma vez, nos salvaram, dando vitória a Obama por 55 a 45. Obama teve 93% do voto afro-americano, o que já era esperado – menos esperado foi o comparecimento altíssimo desse eleitorado, que em alguns lugares (como a Pensilvânia) excedeu o entusiasmo de 2008.

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Eleições nos EUA: Desafio de Barack Obama para os próximos quatro anos é atender as necessidades de todas as classes que o elegeram. (Foto: divulgação)

Quatro de cada cinco LGBTs (!!) e 69% dos latinos votaram em Obama, apesar da política migratória dos últimos quatro anos, muito longe da ideal. Obama selou a vitória com o cinturão industrial em volta dos Grandes Lagos (Michigan, Wisconsin, Ohio) e ali – quem conhece a demografia dos EUA sabe disso –, decisivo foi o voto da classe trabalhadora, que viu que com Romney o pesadelo seria ainda pior. A vitória de Obama entre a juventude foi gigantesca.

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Em outras palavras, Romney não perdeu porque foi centrista demais, como estão dizendo os malucos do Tea Party. Perdeu porque teve que ser tão direitista durante as primárias republicanas – para agradar a esses mesmos malucos – que quando tentou voltar para o centro, na eleição geral, já era tarde demais. Obama não venceu porque foi para o centro, abandonando sua base de esquerda. Ele venceu APESAR de ter várias vezes traído sua base de esquerda, pois esta percebeu o perigo de ter um lunático misógino na Casa Branca e compareceu em números recorde.

Pense, por exemplo, no efeito devastador das declarações dos correligionários de Romney sobre estupro ser “vontade de Deus”, o que decretou derrota republicana na corrida para o Senado até mesmo no ultraconservador estado de Indiana. A demografia está aí para ser lida. Esta eleição não foi ganha no centro. Foi ganha na esquerda, apesar de Obama ter feito um governo de centro-direita.

Resumo da ópera: operários, mulheres, negros, latinos e LGBTs, esta vitória é sua, e é hora de ir pra cima e lembrar o Presidente disso. Cobrar o fim da vergonha de Guantánamo, o fim das leis de exceção e invasão de privacidade, o fim dos “drones” nas cabeças dos paquistaneses, o fim dos assassinatos extrajudiciais, o fim da perseguição ao Wikileaks, compromissos de verdade com o casamento igualitário, política migratória realista e humana, medidas de defesa dos direitos reprodutivos das mulheres e passos reais para a correção dessa vergonhosa condição dos EUA, a de nação mais desigual do chamado primeiro mundo.

Para os governistas brasileiros, fica a lição: foi justamente quem mais criticou Obama pela esquerda quem garantiu sua vitória. Ajudar a eleger um(a) Presidente significa forçá-LO (a ELE ou a ELA) a comprometer-se com um programa, não você, cidadão, comprometer-se a apoiá-lo(a) não importa o que ele(a) faça, só porque você ajudou a elegê-lo(a).

É só olhar a demografia com cuidado para saber que foram as forças à esquerda do centro que garantiram essa parada e evitaram a catástrofe. É hora de ir pra cima e cobrar.

Idelber Avelar, Facebook

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