Redação Pragmatismo
Homofobia 20/Set/2012 às 17:38 COMENTÁRIOS
Homofobia

AIDS é "câncer gay", afirma deputado pastor Marco Feliciano

Publicado em 20 Set, 2012 às 17h38

Num discurso proferido durante congresso de "Gideões Missionários", Marco Feliciano se referiu à AIDS como "câncer gay" e responsabilizou os homossexuais pela doença

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Foto: O ‘deputado pastor’ Marco Feliciano.

Mais uma vez, o deputado e pastor Marco Feliciano faz alarde de sua desonestidade intelectual e injuria os homossexuais, alvos permanentes de sua doentia obsessão. Num discurso proferido durante congresso de “Gideões Missionários”, Feliciano se referiu à AIDS como “câncer gay” e responsabilizou os homossexuais pela doença, mostrando o nível de ódio que o discurso dos fundamentalistas religiosos vem atingindo e o perigo que eles podem representar para a nossa democracia se os poderes públicos (executivo, legislativo e judiciário) não tomarem as devidas providências.

Como um psicótico em surto, com direito a lágrimas em momentos estratégicos e trilha sonora caótica que evoca urgência e dramaticidade (preciso dizer que esse discurso teatral para plateia ingênua constitui em má-fé?), o discurso de Feliciano seria de apavorar qualquer pessoa que não seja de coragem. Com seu proselitismo hipócrita, ele tem, como única missão — em seu discurso assim como na Câmara dos Deputados — atacar as religiões minoritárias e a cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT).

Com um discurso fundamentalista e fascista, que se alimenta (quanta desonestidade!) do analfabetismo e do desamparo dos corações e mentes de pessoas com menos acesso a informações, Marco Feliciano ignora a ciência moderna ao se referir à AIDS, reproduzindo todos os preconceitos e besteiras anticientíficas já usadas no passado, sem se responsabilizar com o retrocesso que isso representa e com os estigmas que isso produz.

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Falando como “profeta” (quem foi mesmo que lhe deu os poderes da profecia?), o deputado-pastor contribui também para a possível infecção de pessoas menos instruídas que ouvem um absurdo como esse e se acham imunes a uma doença, que já foi cientificamente provada como sendo possível de atingir todas e todos, independente de sua cor, gênero, credo, religião, orientação sexual, nível social ou educação. Ao dizer que é uma doença de homossexuais, ele empurra milhares de pessoas heterossexuais à falta de cuidados e prevenção, cometendo um grave crime contra a saúde pública!

Vejam a irresponsabilidade do parlamentar ao suprimir informações, como o fato de que, desde o surgimento da AIDS na década de 80, o perfil dos infectados se modificou drasticamente, há muito tempo deixando de ser uma doença restrita aos LGBTs e passando a atingir cada vez mais jovens, mulheres e idosos heterossexuais. As mulheres respondem por 48% das novas infecções e os jovens com idades variando entre 15 e 24 anos, por 42%. Somente entre 2000 e 2010, o percentual de pessoas com mais de 60 anos infectadas, subiu 150%. Estes são dados oficiais divulgados em levantamento do programa da Organização das Nações Unidas para HIV/Aids (UNAIDS) em julho deste ano.

A fala de Feliciano se aproveita do desconhecimento de muitas pessoas sobre esses dados estatísticos. Ele divulga falsidades e mentiras propositadamente, para cumprir seus perversos objetivos políticos: estigmatizar e ofender as pessoas homossexuais, escolhidas como “o inimigo” pela sua prédica de ódio.

Por outro lado, todos nós sabemos que o diagnóstico de soropositividade para o HIV representa, socialmente, muito mais do que a ameaça de uma doença crônica — ele afeta drasticamente a identidade da pessoa doente como consequência do estigma que ainda existe em nossa sociedade. Ter a doença significa lidar com questões sociais complexas que podem trazer mais prejuízos que a própria doença. Portanto, um político (e um líder religioso) deve usar sua fala com responsabilidade, visando ajudar a vencer os preconceitos e assim melhorar a informação e o conhecimento da população e, ao mesmo tempo, a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV. Marco Feliciano faz exatamente o contrário.

Por Jean Wyllys, deputado federal pelo PSOL

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