Luis Soares
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Geral 26/Ago/2012 às 11:10 COMENTÁRIOS
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Cantor Diogo Nogueira se encanta com Cuba: eles têm muitas lições a dar

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 26 Ago, 2012 às 11h10

Acho que Cuba tem muitas lições para nos dar, em vários aspectos. Nos quatro dias que fiquei em Havana conheci um povo sofrido, lutador, mas feliz, consciente, e que sabe dar valor a tudo que tem. Isso mexeu comigo, afirma Diogo Nogueira

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Diogo Nogueira: Cuba tem muitas lições a nos dar. Foto: divulgação

Filho do mestre João Nogueira (1941-2000), o carioca Diogo Nogueira, 31 anos, até tentou ser jogador de futebol. O DNA acabou falando mais alto e o talentoso cantor, que tem quatro vitórias consecutivas no concurso de sambas-enredos da Portela, não para de acumular façanhas desde que lançou seu primeiro disco, em 2007.

Já são 400 mil cópias vendidas – entre CDs e DVDs -, sete canções em novelas, um Grammy Latino de melhor álbum de samba e um programa como apresentador na TV Brasil: Samba na Gamboa. Agora, ele lança um DVD gravado em Cuba e homenageia o pai com o Sambabook João Nogueira, projeto grandioso que reúne Blu-Ray, DVD, dois CDs, livro e um fichário com 60 partituras. Confira entrevista com o esperto flamenguista Diogo Nogueira.

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Correio 24 Horas: Como surgiu a ideia de fazer um show em Havana e transformá-lo em DVD? O que te fascina na cultura cubana?

Diogo Nogueira: Recebi um convite para fazer um show na Fihav (Feira Internacional de Havana), em novembro. Fiz questão de levar a minha banda completa e também os músicos que vêm me acompanhando. Pouco depois do convite, tivemos a ideia de registrar a passagem por Cuba e, em apenas dez dias, montamos esse show. Quando voltamos pro Brasil, apresentei a gravação do show e também o DOC.Show pro pessoal da EMI, minha gravadora, que se empolgou com o projeto e nos deu o maior apoio para o lançamento. Cuba é um dos países mais musicais do mundo. Temos muitas semelhanças culturais, mas Cuba tem uma riqueza em sua música que sempre me fascinou.

EUA, Brasil e Cuba são os países americanos com grande riqueza musical popular. Imagino que você desejasse ter a participação especial de alguns grupos lendários de Havana. Por que a opção pelos Los Van Van e como foi a experiência?

Los Van Van é um dos grupos mais tradicionais da música cubana e foi maravilhoso contar com eles no projeto. Cantamos El Cuarto de Tula, sucesso gravado pelo Buena Vista Social Club. Na época, pensamos em convidar a grande cantora Omara Portuondo, mas ela estava exatamente no Brasil na mesma ocasião em que fomos para Cuba.

E, politicamente, você tem uma opinião sobre a realidade cubana?

Acho que Cuba tem muitas lições para nos dar, em vários aspectos. Nos quatro dias que fiquei em Havana conheci um povo sofrido, lutador, mas feliz, consciente, e que sabe dar valor a tudo que tem. Isso mexeu comigo, ver que é possível ser feliz com pouco, com o básico. Esse é um exemplo no qual deveríamos refletir. Vivemos em um mundo consumista e nada nos satisfaz. Isso é que é ser livre? Acho que eles estão encontrando os caminhos para avanços e transformações em prol de uma vida cada vez melhor.

Você é um artista vitorioso desde sua estreia-solo, em 2007, e mesmo antes já fazia sucesso entre os compositores da Portela. A influência e a grandeza da obra do seu pai, João Nogueira, foram fundamentais para você se tornar um músico? Quando caiu a ficha que isso era o que você queria ser na vida?

Com certeza, meu pai foi fundamental na minha formação. Ele sempre foi uma importante referência para mim, tanto nas artes quanto em tudo na minha vida. Mas nunca havia refletido sobre isso até me tornar cantor e ver que as escolhas que fiz, os caminhos que busquei, tinham total relação com tudo que aprendi com ele. Eu não queria ser cantor. Como era mais novo, queria mesmo era ser jogador de futebol. Mas a vida me tirou dos campos e me colocou nos palcos… E hoje sou muito feliz com o que faço.

Por falar nisso, você chegou a temer comparações com seu pai – ou sempre tirou isso de letra?

Não deu muito tempo para temer nada. Foi tudo muito rápido e sempre lidei com muita naturalidade, deixando as coisas acontecerem espontaneamente. Desde quando comecei a cantar, a fazer shows, nunca me preocupei em ser comparado ao João. Quando isso acontecia, até me sentia feliz, pois ser comparado a um cara tão importante para a nossa música é um privilégio. Mas levo a vida com a mesma naturalidade de sempre, buscando fazer o que gosto, o que sei, da minha forma, do meu jeito… E hoje em dia todos sabem diferenciar o João do Diogo, e o Diogo do João.

Sua formação é de samba tradicional. O que você acha do samba “romântico e pop” que ganhou força a partir dos anos 90 com vários grupos? E do pagode baiano de grupos como É o Tchan!, Harmonia do Samba e Psirico? Tudo é samba, variedade de um mesmo gênero?

Acho que tudo isso é música popular brasileira. O que diferencia mesmo as coisas é a qualidade. Tem música boa e música ruim. A grande verdade é que tem espaço para todo mundo e precisamos saber respeitar a onda de cada um.

Você mergulhou no cancioneiro do seu pai para fazer o Sambabook João Nogueira. Fale desse reencontro com parte essencial de sua própria história.

O Sambabook é um projeto do qual me orgulho muito. A ideia surgiu de uma conversa minha com meu empresário, Afonso Carvalho, para homenagear os 70 anos que o João Nogueira teria feito, se estivesse vivo, em 2011. Reunimos um time de bambas, tanto na banda, quanto no elenco que interpretou as grandes obras do velho João. Tive a oportunidade de relembrar fatos, músicas esquecidas, obras fantásticas que chegam agora para as novas gerações em forma de livro, DVD, CD e fichário com as partituras das principais obras dele. Estou muito orgulhoso de ter participado e produzido esse projeto. João merece. E nós também.

Com Correio 24 Horas

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