Luis Soares
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Guerra injustificável 23/Out/2011 às 16:55 COMENTÁRIOS
Guerra injustificável

Os assassinos de Kadafi falam espanhol? Como assim?

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 23 Out, 2011 às 16h55

Pode parecer a coisa mais estranha do mundo para quem acreditou haver uma revolução inspirada de baixo para cima pelo povo Líbio, indignado e insatisfeito. Desculpem, vocês foram enganados

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Muammar al-Gaddafi (reprodução)

Luis Soares, Pragmatismo Político

Com a morte de Kadafi, muitas informações veiculadas nos meios de comunicação alternativos, sérios e que se comprometeram em encarar a invasão Líbia a partir de suas verdadeiras inspirações, foram finalmente confirmadas. São fatos notadamente desprezados pela mídia hegemônica corporativa, como o que agora é apresentado.

A expressão ‘rebeldes líbios’ virou sinônimo de heroísmo no noticiário tradicional, sem que buscassem compreender quem realmente estava por trás daquelas armas, daquelas máscaras e quais eram as suas motivações. Um jornalismo de superfície (no Brasil, bem padrão globo), preocupado em defender o lado que lhe cabe, ao invés de encontrar respostas.

Mas, felizmente, com o advento da internet não sentimo-nos tão presos como gostariam os manipuladores da opinião e da informação. Enquanto a Líbia era bombardeada pelos aviões da OTAN, a identidade dos ‘heróis rebeldes’ foi, aos poucos, sendo desnudada. E, enfim, não ficou difícil identificá-los como, em sua maioria, mercenários.

Em verdade, os tais rebeldes nunca chegaram a 1000 membros. Ao perceber a fragilidade dos insurgentes, e que daquela faísca não sairia fogo, a própria OTAN decidiu criar um exército mercenário, com a formação mais assustadora imaginável.

Tunisianos desempregados; tribos abertamente inimigas de Kadafi; gangue da Fraternidade Muçulmana, da Arábia Saudita; grupos do Qatar; grupos mercenários alugados pela CIA e membros do esquadrão da morte colombiano.

Tudo isso pôde ser confirmado agora graças à divulgação dos vídeos que montam o roteiro do assassinato de Kadafi, como o que você pode assistir abaixo. Nele, os assassinos de Kadafi falam espanhol, num evidente indicativo de serem os supracitados colombianos, ou até mesmo membros hispano-americanos do exército estadunidense. Nada de ‘rebeldes Líbios’, amigos. Pode parecer a coisa mais estranha do mundo para quem acreditou que havia uma revolução inspirada de baixo para cima pelo povo Líbio indignado e insatisfeito. Desculpem, vocês foram enganados:

https://www.youtube.com/watch?v=O3RoVL3mUBE&feature=youtu.be

Com a ajuda do Publico.es, transcrevo os dizeres em castelhano:

Entre os segundos 33-34, dizem “já estamos no carro“
Entre os segundos 45-47, dizem “deixem que o fuzilem, que o fuzilem“
Entre os minutos 1:02 – 1:03, dizem “deixem que o fuzilem, vamos, que o fuzilem”

Nenhuma novidade para os que souberam diferenciar ‘rebeldes’ de ‘mercenários’. Aliás, completando o topo da parafernalha criada para derrubar Kadafi haviam ex-integrantes do seu próprio governo e também o filho do último rei da Líbia, rei Idris, que Kadafi derrubara há 42 anos.

Me respondam como podemos chamar os ex-ministros do governo Kadafi, como Mustafa Abdel-Jalil (ex-ministro da Justiça, de 2007 a 2011) que abandonaram os seus cargos e pularam para o lado do CNT (Conselho Nacional de Transição)? De rebeldes, de mercenários ou as duas coisas? Os mesmos integrantes da mais alta confiança do governo Kadafi, homens que comandaram – de acordo com a imprensa – o sistema repressivo e considerados pela mídia tão tiranos quanto o seu superior, como que de um movimento mágico foram purificados, absolvidos de seus pecados por essa mesma mídia ao trocarem de lado.

Por fim, para esta nova Líbia, agora ‘liberta‘ das crueldades do ditador, como demagogicamente bradam os líderes ocidentais, fica clara a impossibilidade de vislumbrar um cenário positivo. Enquanto as tribos se digladiam por migalhas, já avançam os preparativos para a extração do óleo denso e escuro que vem do subterrâneo.

De todo o caldeirão de falsidade e ganância ninguém abrirá os olhos para quem mais precisa. Os esquecidos, portanto, foram e continuarão sendo os mais atingidos: os civis líbios.

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