Redação Pragmatismo
Direita 07/Jun/2011 às 16:56 COMENTÁRIOS
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Marchas contra o conservadorismo

Publicado em 07 Jun, 2011 às 16h56

Neste momento em que o conservadorismo cresce e se organiza ainda mais, precisamos lutar pelos nossos direitos

Marchas contra o conservadorismo lola

Lola Aronovich, em seu blog

Quarta-feira passada houve uma Marcha pela Família em Brasília. Só o nome já me dá calafrios, porque foi a Marcha da Família com Deus pela Liberdade que, em 1964, serviu de apoio civil pro golpe militar que mergulhou o Brasil nas trevas durante 21 anos.

Desta vez foi o pastor Silas Malafaia que organizou a marcha, que reuniu cerca de 20 mil pessoas em Brasília. Parlamentares evangélicos estiveram presentes, falando as mesmas barbaridades de sempre: “Se Deus criou macho e fêmea, não vai ser o Senado que vai criar um terceiro sexo com uma lei. É preciso que eles [homossexuais] entendam que o anseio grotesco de uma minoria não vai se fazer engolir”, disse o senador Magno Malta (PR-ES). Note bem: lutar por direitos é um “anseio grotesco”. E custaria muito pra essa gente que vive de lutar contra os direitos das minorias se informar minimante? Desde quando os gays querem criar um terceiro sexo? Esse senador (é, um sujeito desses consegue se eleger senador!) deve ser daqueles que acham que gay não é homem, que lésbica não é mulher. Como se a orientação sexual de alguém fizesse que seus órgãos genitais caíssem!

Lógico que o deputado-celebridade Bolsonaro estava lá. Ele reclamou com os jornalistas sobre a PLC 122: “É uma excrecência. Você não pode nem contar piada sobre bichinha mais”. Não se preocupe, nobre deputado: é pra isso que existem os humoristas moderninhos. Quando Bolso não estava promovendo sua única plataforma de campanha permanente à imprensa, ele aproveitava pra jogar água num participante da contra-marcha, organizada por um grupo de ativistas que esteve em Brasília para se manifestar contra o conservadorismo da marcha.

O deputado Garotinho, presente na Marcha da Família, disse: “Eles [os participantes da marcha] amam a todas as pessoas, só que não concordam com o pecado de algumas”. Não vou nem entrar na discussão (pra mim altamente hipócrita) de “amamos o pecador, odiamos o pecado” e do “aceitamos você como você é, desde que você mude completamente”. Vou apenas dar um exemplo desse grande amor que os conservadores têm pelos gays e demais minorias

Recebi na sexta um email da Julia, que dizia: “Você não é a única que está sendo atacada. Você ameaçada de processo por Marcelo Tas por expor sua opinião contra a misoginia do CQC, e as meninas que organizaram a contra-marcha aqui em Brasília ameaçadas por skinheads”.

Este é o relato de uma amiga da Julia, a Mariana, que fez parte da contra-marcha:

“Eu tava lá, fomos agredid@s com maçã, papel; tinha vários skinheads nos ameaçando e levantando suas bandeiras e entregando seus panfletos de ódio. Bateram na mão de uma de nós e derrubaram a garrafa que estava em sua mão. Chamamos mesmo o Bolsonaro de nazista e facista porque é isso que ele é. Vários manisfestantes mostraram o dedo pra gente. Estávamos com muitas faixas, falando que homofobia e discriminação não é liberdade de expressão, falando do número de mortes dos últimos anos de LGBTTTs por crimes de homofobia, com faixas dizendo que temos família, que existem famílias plurais. Fizemos vários gritos de ordem, entre eles: “Fora homofobia, eu também tenho família”; “Não é mole não, matar viado não é coisa de cristão”. O Bolsonaro parou a uns três metros de distância entre nós, olhou para nós e riu, enquanto manifestantes da marcha pela família homofóbica mandavam dedo e jogavam coisas contra nós. Várias pessoas dessa marcha aí vieram falar com a gente, e na verdade elas não têm a mínima ideia do que é a PL 122, e nem para o que serve uma lei ou uma política pública, nem como funciona o Estado e nem que um Estado laico é um direito que garante a liberdade de culto delas. Vários skins organizados, com blusas verdes, com panfletos e bandeiras do integralismo, nos acompanharam desde a catedral até a nossa volta pra rodoviária já à noite. Tinham faixas homofóbicas, e todos estavam com uma camiseta extra numa sacola (a gente sabe para que serve isso: para poderem se dispersar depois de uma agressão, sem serem identificados). Eles tiraram várias fotos de praticamente tod@s nós. Um pastor que falou por último, e já desesperado porque @s fotógraf@s e @s manifestantes da marcha da família homofóbica estavam muito concentrad@s na gente, disse: “não dêem atenção pra essa minoria”.

Parabéns pela coragem de participar na contra-marcha, Mariana.

Neste momento em que o conservadorismo cresce e se organiza ainda mais, precisamos lutar pelos nossos direitos. Nos últimos dias ganhei leitor@s nov@s e, com isso, suas dúvidas. Duas das coisas que mais ouvi foram “Não sou machista nem feminista” e “Nem machismo, nem feminismo: os dois são extremismos“. Pretendo falar disso mais a fundo num post, mas já adianto que machismo e feminismo não são opostos. Machismo não é extremismo. Machismo é o que temos hoje. Feminismo é lutar contra isso (e, se alguém acha que lutar por salários iguais, fim da violência doméstica, liberdade sexual etc é radical, paciência). Então, quem é machista, quem é racista, quem é homofóbico, quem faz Marcha pela Família, quem faz piada de estupro ou ridiculariza mães que amamentam em público está se manifestando a favor do sistema. Essas pessoas são conservadoras, e elas querem manter o mundo exatamente do jeito que está (se possível, tirando mais um tiquinho de direitos das minorias e retrocedendo aos “bons tempos” mais conservadores ainda).

Elas fazem tanto barulho porque sabem que estamos num momento decisivo em que muita, muita gente já não suporta mais o preconceito que elas insistem em eternizar. Enfim, elas fazem barulho porque estão escutando o nosso barulho. E aí, você quer manter o mundo como está ou quer mudá-lo? É a diferença entre ser reacionário e ser revolucionário. Faz tempo que eu fiz a minha escolha.

Peço que as pessoas envolvidas com o ativismo coloquem aqui nos comentários as datas dos próximos mamaços (algumas dessas datas podem ser encontradas aqui) e das próximas Marchas das Vadias (e de outras manifestações revolucionárias). Essa troca de informações está sendo feita através do Facebook, mas elas precisam também ficar registradas nos blogs.

Ontem descobri que haverá uma Marcha das Vadias em Fortaleza. Será na sexta que vem que vem, dia 17 de junho, a partir das 16 horas, saindo do Centro de Humanidades da UECE (na Av. Luciano Carneiro, 345). Eu tenho aula até às 16 na UFC, mas já convidei minhas alunas e alunos pra irem comigo pra marcha logo depois da prova (é o último dia letivo do semestre, pois começamos cedo, em fevereiro). Espero que todas as minhas leitoras e leitores de Fortaleza participem! Mas, pelo que amigas me falaram, o termo vadia não é muito comum por aqui, onde se usa mais quenga e rapariga.

Vamos fazer então a Marcha das Quengas!

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