Luis Soares
Colunista
Política 19/Ago/2010 às 19:37 COMENTÁRIOS
Política

América Latina vive "boom" na economia, revela FGV

Luis Soares Luis Soares
Publicado em 19 Ago, 2010 às 19h37
O clima para negócios na América Latina em julho foi considerado o maisfavorável em uma década, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira(19) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, e oinstituto alemão Ifo da Universidade de Munique.

Elaborado a partir de informações trimestraisconcedidas por especialistas nas economias de seus respectivos países,o ICE (Índice de Clima Econômico) na América Latina foi de 6 pontos emjulho. Em abril passado, ele atingia 5,6 pontos.

“Esse número decorre de uma avaliação mais favorável emrelação à situação presente”, explica a economista Lia Valls Pereira,que apresentou os resultados em coletiva na sede da FGV. A marcahistórica do ICE, que desde janeiro 1990 não era tão alta, mostra queum valor de 6 pontos deve ser entendido como “muito favorável”. Antesde julho de 2010, esse valor fora alcançando somente em 1997 e 2000.

Segundo Lia, os especialistas que consideravam frágil arecuperação da região após a crise econômica mundial, foramsurpreendidos de maneira positiva, já que esperavam “o pior”. “NoBrasil, por exemplo, eles previam uma alta da inflação comoconsequência do forte crescimento. No final das contas, não foi ocaso”, explicou.

Combinando os dados do ISA (Índice da Situação Atual),que aumentou de 4,7 para 5,8 pontos, e do IE (Índice de Expectativas),que teve uma queda de 6,4 para 6,2 pontos, o instituto qualificou afase econômica da região de “boom”, pela primeira vez desde julho de 2007.

“A queda do IE, porém, significa que os especialistas estão ainda cautelosos”, diz a economista da FGV.

Incertezas

Aprincipal razão da prudência vem das incertezas nas outras economias domundo, principalmente dos Estados Unidos, da União Europeia e da China.Embora a pesquisa mostre uma melhoria na avaliação da situação atualnestes casos, ela reflete também uma piora das expectativas nosprincipais países desenvolvidos.

Os especialistas temem a aparição de uma nova depressãono próximo ano – chamada “crise em W”, devido ao formato do gráfico decrescimento do produto interno bruto (PIB). Nesse caso, a economiamundial estaria chegando ao fim do primeiro “V”, antes de uma novaqueda. “Algumas estatísticas econômicas nos EUA vêm sugerindo estapossibilidade. No entanto, é ainda pura especulação. A recuperação daAlemanha, por exemplo, é muito positiva”, considera Lia.

No chamado bloco BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China),o Brasil e a Índia estão na fase favorável do ciclo, enquanto a Rússiacontinua em trajetória positiva, chegando no limite entre as fases derecuperação e de surto. Já na China, o ICE caiu pela terceira vezconsecutiva, assim como  os outros índices que também registraram umaqueda. A combinação significa que a potência asiatica saiu da fase de “boom“(surto) e entrou numa fase de declínio. “Mas isso é muito relativo.Para a China, isso pode significa passar de um crescimento de 11% a umde 9%”, insiste a economista da FGV.

Política

NaAmérica Latina, os países com melhor avaliação são o Brasil, o Chile,Peru e Uruguai. Já Argentina México e Paraguai registraram umaprogressão das avaliações. Isso não significa, porém, que os que têm asmelhores notas sejam os que mais cresceram na realidade. Brasil, Peru eUruguai tiveram os crescimentos mais altos, mas não foi o caso doChile.

“Acho que o Chile tem uma boa reputação de estabilidadeeconômica, boa governança e transparência. É por isso que osespecialistas estão sempre otimistas”, explica Lia Pereira.

Esta diferença entre realidade e percepção também semanifesta para os países da região considerados numa situação pior.Segundo o estudo da FGV, Bolívia, Equador e Venezuela tiveram notasnegativas. Embora os dois últimos estejam em recessão, com um declíniocontinuo do PIB desde 2006 para a Venezuela, este não é o caso daBolívia, cujo crescimento é superior a 3%.

“É que os especialistas têm uma visão técnica queenfatiza muito indicadores fiscais e inflação”, explica a economista daFGV. Ela não descarta, porém, o impacto de uma visão política, já queos três países costumam ser politicamente vinculados.

Opera Mundi

COMENTÁRIOS